Mas tal não aconteceu, sou o único "jornalista" que aqui escreve! E, para jornalista, estou muito mal informado sobre o que se passa e só posso falar do que sei.
Sei que o parque das Rãs não existe porque está à vista de todos um terreno vazio de arvores.
Mas também sei que deveria existir.

E posso contar uma história que conheço: há mais de 50 anos, quando eu era pequeno, o meu avô era um dos poucos médicos da vila, lembro-me que recebia uns frangos ou não recebia nada, conforme as posses do doente; lembro-me de um industrial que dava uma pescada da Póvoa, de vez em quando, coisa cara na altura e que me deu uma biciclete, embora usada, coisa muito valiosa-- pelo menos para mim, que fiquei grato! A minha avó tinha crescido numa quinta e creio que o meu avô comprou a um irmão a quinta das Rãs para que ela tivesse o gosto, de que me lembro, das arvores que plantava, da vaidade no vinho espadal, coisas assim. Lembro-me dela, já viúva, a ir às Rãs a pé, todos os dias.
Há uns 30 anos, o PPD, então no poder, na Câmara, lembrou-se de expropriar, por uns centavos por m2, a quinta das Rãs, para construção. Havia, de facto, um déficit de habitação em Portugal, na altura (hoje há um excesso). O Dr. Sá Carneiro, enquanto membro do Governo Provisório, tinha assinado a lei da Reforma Agrária com o Dr. Álvaro Cunhal e ainda estavam na memória as expropriações do Dr. Salazar, do parque de Monsanto, por exemplo, por uns tostões; era "normal", para a época, a expropriação a baixo preço; para mim era triste, claro, a quinta era um gosto, viviam lá lavradores, gente amiga, e não entendia porque havia a vila de crescer para ali, para tão longe do seu centro, em vez de crescer para Norte, para o outro lado do rio; mas eram os mesmos "urbanistas" que permitiram a torre dos Carvalhais ou que viriam a destruir o Hotel Cidnay.... Nesse tempo a Câmara tinha poucos funcionários e ainda não tinha arquitectos, creio. Também tinha pouco dinheiro.
Entretanto o País não estava a evoluir num sentido tão colectivista como os primórdios da União Nacional ou do PPD/PSD e a lei permitia ao proprietário não ser expropriado desde que pagasse a um arquitecto um plano de urbanização dentro de regras que definia, como a taxa de ocupação, desde que pagasse as infra-estruturas, arruamentos, etc e desde que o plano deixasse um espaço público para a Câmara fazer um parque; a lei estava bem feita, não se pode fazer cidade sem deixar uns espaços verdes, claro.
E o plano do arquitecto era bom; deixou as melhores arvores que a minha avó tinha plantado, criou um espaço de habitação sossegado, que não era de passagem, nessa altura; a lei obrigava ainda o proprietário a construir num prazo útil para não haver especulação, terrenos vazios à espera de se valorizarem. Foi pena que a lei não obrigasse o construtor que os comprou a usar um arquitecto em vez do Gabinete técnico da Trofa, "não desfazendo"!
Mas ficou um terreno vazio, a especular durante 30 anos: o da Câmara! Em vez de cumprir o que a lei lhe pedia, fazer um parque, a Câmara nada fez. E tem organismos que lhe dariam as arvores e há uma associação em Lisboa que oferece planos de parques infantis de grande qualidade... por sinal já se não usam aquelas placas para amortecer as quedas, no chão, que são caras, houve um estudo que mostrou que a areia, bem mais barata, é muitíssimo melhor para os acidentes ... imagine o leitor que a Câmara tinha cumprido a lei.

Se a Câmara tivesse feito o seu dever, se tivesse criado um parque agradável que as pessoas se tivessem habituado a usar... sabe o leitor o tamanho de um carvalho de 30 anos, bem plantado? E de uma japoneira com bom estrume e com uns ossos e uns ferritos no fundo da cova, bem regada? É, se a Câmara tivesse cumprido a lei estou certo que os moradores das Rãs e as pessoas que usam a central de camionagem não permitiriam que ela vendesse o terreno do parque a privados. Pediriam aos privados que fossem construir para outro lado, seria evidente.
Donde podemos concluir que o crime compensa! Mas... compensará? Será que, com o dinheiro que ganha, a Câmara vai comprar um terreno ao lado para fazer um parque, para fazer algum estacionamento gratuito, para fazer um jardim de infância? -- Não vai porque não há terreno ao lado para comprar, pode ir para longe fazer parques mas isso que interessa aos moradores dali? Por sinal é bom que se saiba que, antes de fazer a escritura de venda, como a função para que lhe foi dado o terreno se altera, a lei prevê que a Câmara tenha que pedir a opinião aos moradores, mesmo tendo incluído este terreno num novo plano de pormenor para dele se "apropriar"; mas este "jornalista" não mora lá, só informa.
Aparentemente o urbanismo actual é tão mau como o que destruiu o Cidnay. E com a agravante de isto se passar em plena crise dos sub-prime, quando o erro da estratégia seguida nos últimos anos salta aos olhos de todos.