A abstenção tem aumentado nas últimas décadas mas, este ano, as sondagens, na Europa do Norte, sugerem que diminuirá muito. Os europeus vão votar e nós, o "rosto" da Europa, vamos votar nas eleições europeias pela primeira vez-- quer dizer, é a primeira vez que os portugueses levam a sério as eleições europeias. Com a fantástica intuição que nos caracteriza enquanto eleitores, exprimir-nos-emos com clareza por ser um momento para isso.
A abstenção tinha a ver, aqui como na América, com o engordar distraído e decadente da sociedade de consumo; o poder nas mãos das tais das "multinacionais", nenhum voto serviria de nada, os cidadãos dormiam, de barriga cheia.
Este ano é diferente, acordaram. E a Democracia é o instrumento que permite evitar que as discussões se resolvam à pancada: nos momentos de indefinição todos ficam à espera dos resultados eleitorais como quem espera a decisão de um juiz.
Revisitemos o problema: a Revolução industrial está feita, 250 anos a mudar o mundo! Precisou de criar o Estado moderno com os seus três poderes, o executivo, o legislativo e o judicial (judiciário, no Brasil), separados, Estado que respeita a liberdade religiosa mas em que a Igreja não manda, precisou de criar as bolsas de valores modernas para financiar a indústria, as vias de comunicação eficazes e aqui estamos à janela do internet, os caminhos de ferro do tempo pós-industrial. Viemos à procura da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade e, naturalmente, nesse processo, o lucro tomou as rédeas e propunha-se explorar os recursos naturais até à morte física do planeta.
É aqui que estamos. Tranquilamente, votando, retiramos as rédeas das mãos do lucro, que já não controla os cavalos com os freios nos dentes que nos levam para o abismo. Nos sítios mais inesperados, no Bangladesh ou no Afeganistão, a crise climática sente-se, morre-se! Acordamos para ela, estremunhados, alguns, ninguém duvida da responsabilidade que temos, de que não é tempo para andar à pancada, de que os países do mundo encontraram um adversário comum, não precisamos de extra-terrestres para nos sentirmos solidários com o planeta todo! A ameaça é real, os que querem dormir mais um bocadinho são, ou brevemente serão, minoria, vamos votar!
O nosso Continente, há mais de 60 anos em Paz, criou uma associação de países livres e iguais em direitos, que encontram soluções para os seus problemas em comum, por consenso, que dão um exemplo ao mundo. Nestas eleições, é a minha convicção, reforçaremos o que a Europa tem de libertador, de enriquecedor, de fraterno e rejeitaremos a servidão ao poder financeiro, que perdeu o Norte, que já só pensa na sua própria sobrevivência, que vai ver os seus projectos desesperados, como o imperial tratado de Lisboa, a ser rejeitados nas urnas, tranquilamente.
É tempo de mudança. Entre nós os grandes partidos do centro serão, justamente, porque responsabilizáveis, punidos nas urnas. É esse o meu voto! 