É simples má criação, não ouvir o outro quando ele quer explicar a sua posição sobre qualquer coisa.
Sobretudo depois de o acusarmos de ser responsável por algo, sem ter ouvido a versão dele, convencidos de que sabemos tudo. Os preconceitos que temos (e não conhecemos como tais) são mais fortes que os imaginamos. Podem-nos tornar surdos, incapazes de dialogar: não democratas!
De surdos passamos a ignorantes, porque ignoramos aspectos do assunto em causa, aqueles que nos recusámos a ouvir.
Logicamente, quem não souber ouvir o outro não deve ter a responsabilidade de tomar decisões que a todos interessem. Não pode ser um guia, tem que ser guiado!
Vem isto a propósito dos dirigentes dos nossos principais partidos: é uma pena que as qualidades necessárias para governar não sejam as mesmas que fazem ganhar eleições: mas não são!
Os que elegem, em congresso, o seu líder, deixam-se levar alegremente pelas qualidades de "imagem", pelo "ar" de quem está seguro do que diz e deixam passar as contradições do discurso, os sinais de que o sujeito aprendeu uns números para dar "bom aspecto" mas não
perdeu tempo a meditar, reflectir, aprofundar o seu pensamento. Percebem que se trata do
pensamento mais susceptível de gerar votos e votam nele -- porque o que querem dele é que tenha votos nas eleições nacionais!
Ora o que nós queremos desses dirigentes, que tanto pesam no que se passa no país, é diferente. A nós nada interessa que a criatura tenha perdido muito tempo (e gasto muito dinheiro com assessores de imagem) a engendrar uma estratégia de convencer os eleitores a votarem nela. Interessa-nos que ela tenha aprofundado o seu conhecimento sobre a situação do país e reflectido nas possíveis soluções.
Nem pedimos competência técnica -- ela terá, para governar, os melhores técnicos -- pedimos que tenha um pensamento claro e, sobretudo, um pensamento que resultou de ouvir muitos outros, sem preconceitos.
Oxalá os portugueses sejam capazes de ser imunes ao
marketing, a todo o ruído que acompanha as eleições, às acusações mútuas e a outras perdas de tempo, e escolham o pensamento que lhes pareça fazer sentido. Para o eleitor e para Portugal.
Por mim, leitor, tenho a certeza -- depois de os ouvir! -- que não votarei nos dois principais partidos, naqueles que nos trouxeram aqui: ainda podem fazer mais estragos à nossa democracia!
Imaginemos, leitor --oh! hipótese absurda! -- que os candidatos a responsáveis pelos nossos destinos colectivos sentiam a necessidade de se instruir, de saber em que mundo estão e que, em vez de perderem o seu tempo a ensaiar a roupa com que se apresentam, a forma de falar, etc, ouviam, por exemplo,
esta conferência, no YouTube. O mundo mudaria!
O que podemos fazer? Podemos não votar em criaturas medíocres, em criaturas a quem não interessa ouvir, só falar! (ou que, quando excepcionalmente ouvem, ouvem sobre técnicas de venda da sua imagem, técnicas para
vencer, enriquecer).
Entretanto, o empobrecimento global cresce.
E um artigo optimista, num blog, precisamos!