terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Fevereiro de 2012



Tormenta   (26 de Fevereiro de 1934)

Que jaz no abysmo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.

Isto, e o mystério de que a noite é o fausto...
Mas súbito, onde o vento ruge,
O relâmpago, pharol de Deus, um hausto
Brilha, e o mar 'scuro 'struge.
Fernando Pessoa, Mensagem, 
O Encoberto: III- Os Tempos- Segundo



Antemanhã   (8 de Julho de 1933)

O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse, «Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quere desvendar?»

E o som na treva de elle rodar
Faz mau o somno, triste o sonhar.
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar,
Que veio aqui seu senhor chamar –
Chamar Aquelle que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.
Fernando Pessoa, Mensagem, 
O Encoberto: III- Os Tempos- Quarto


Prece   (1 de Janeiro de1922)

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silencio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chamma, que a vida em nós creou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguel-a ainda.

Dá o sopro, a aragem- ou desgraça ou ancia-
Com que a chamma do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distancia-
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Fernando Pessoa, Mensagem, 
Mar Portuguez, (Peixes) 



O Mostrengo   (9 de Setembro de 1918)

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»

Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»
F. Pessoa, Mensagem, 
Mar Portuguez, (Câncer)

sábado, 28 de janeiro de 2012


"D' hoje a oito", o mundo, e nós nele, passaremos a estar mais dispostos a ouvir e entender o professor Agostinho da Siva, que, há já umas décadas, nos dizia que "o capitalismo, hoje, domina a nossa vida -- e tem que dominar! -- porque só uma economia capitalista pode chegar até ao desenvolvimento pleno do mundo, acabar essa guerra contra a carência, que vem de tão longe, e chegar a um ponto em que toda a economia desaparecerá, em que será apenas uma recordação do passado -- como queriam os tais portugueses do século XIII...  --Meu querido amigo: é curioso, a melhor maneira de ser revolucionário em Portugal é ser conservador do século XIII! Porque eles queriam apenas que as crianças pudessem crescer, desenvolver-se e chegar a adultas, sem nós os adultos perdermos a criança que já fomos e temos saudades dele; que a criança se desenvolvesse sem nenhuma espécie de pressão deformante, inteiramente à sua vontade, inteiramente com tudo aquilo a que nós podemos chamar a Liberdade. E queriam que a vida se tornasse gratuita! Não reclamavam que a vida fosse mais barata do que era, reclamavam que se fizesse todo o possível por que ela, um dia fosse inteiramente gratuita! E terceira coisa: que as cadeias desaparecessem para sempre, fossem um monumento de um passado que nem recordar se queria."
Em "Occupy Wall Street" já se não diz que somos os 99%, agora fala-se em 99,99%. Ou seja, o capitalismo já deu o que tinha a dar, sabemos que temos os meios técnicos de acabar com a fome no mundo, que temos milhões de habitações a mais -- que é tempo de mudar, de deixar a economia "desaparecer" e de deixar a criança que somos ser livre!

sábado, 21 de janeiro de 2012

As últimas liberdades dos "media".

José Pacheco Pereira publicou, hoje, em "O Público" o segundo de dois artigos intitulados "A Construção da Máfia Portuguesa". Ainda só temos acesso ao primeiro, o da semana passada, publicado no blog "O Abrupto", para o qual deixo este "link", com a devida vénia. Percebe-se que o autor sabe do que fala e tem a independência de dizer que a oligarquia que nos governa chefia os dois principais partidos.
No artigo de hoje explica-nos como "os media" passaram a ser controlados por ela, como as notícias são filtradas e criadas para os seus fins. Um exemplo, que ele não refere, é esta notícia que apareceu (por descuido?) na TVI e que não teve a cobertura que teve a notícia de o Sr Presidente da República se ter queixado  de ter falta de dinheiro, ou de o CCB passar a ter um director PSD, quando se esperava que o anterior continuasse. Essas notícias parecem fabricadas para nos distrair, enquanto a "indiferença" com que esta foi tratada parece cumprir um fim: os interesses das grandes companhias petrolíferas e de fabrico de automóveis, uma parte da oligarquia internacional, à qual a nossa "Máfia" obedece:
e uma notícia de última hora: o capitão de navio italiano que começou o seu novo emprego como condutor de autocarro:

domingo, 15 de janeiro de 2012

Lyrics

Houve tempos em que pertencíamos a um senhor,
Trabalhávamos descalços desde que sabíamos andar.
E tempos em que pertencíamos às terras, sem licença de partir,
Até ao dia em que, em delírio, mancebos ou já homens,
Íamos matar e morrer, pelo senhor, contra irmãos desconhecidos.

E houve tempos, mais perto de nós, em que acreditávamos que os pretos e os índios
Tinham nascido para nos servir, para mais nada.

E houve horários de desaseis horas, nas fábricas, desde pequenos.
E tempos em que temíamos os políticos
e os elegíamos, mesmo assim.

Mas sempre, no fundo escondido da alma, sempre soubemos,
mesmo sem saber ler,
Sem lhes conhecer as palavras,
o que é a dignidade, o que é a liberdade!

Deixo aqui um hino, gravado ao vivo há quase meio século, pelos direitos humanos, pelo fim da guerra, pela liberdade...
Não se espantem os netos, quando encherem as praças das cidades do Mundo, já este ano, e nos próximos, de ver os avós a cantar assim:



(5/3/2012: Entretanto so temos acesso ao disco, gravado em 1963)

We shall overcome,........................Vamos conseguir
We shall overcome,........................Vamos vencer
We shall overcome, some day......Vamos passar isto, um dia.

Oh, deep in my heart......................Ai! No fundo do coração
I do believe.....................................Acredito mesmo
We shall overcome,
some day...................Que havemos de conseguir, algum dia.

We’ll walk hand in hand,.........Vamos andar de mãos dadas
We’ll walk hand in hand,
We’ll walk hand in hand, some day.

Oh, deep in my heart,

We shall live in peace,...................Vamos viver em paz
We shall live in peace,
We shall live in peace, some day.

Oh, deep in my heart,

The truth will make us free.....A verdade vai-nos fazer livres

Truth will make us free.............A Verdade vai-nos tornar livres
Truth will make us free
Truth will make us free, some day.................................um dia

Oh, deep in my heart,

We are not afraid, TODAY.....Nós não temos medo, HOJE

We are not afraid,............................Nós não temos medo
We are not afraid,
We are not afraid, TODAY........Nós não temos medo, HOJE

Oh, deep in my heart,

We shall overcome,
We shall overcome,
We shall overcome, some day.

Oh, deep in my heart,
I do believe
We shall overcome, some day....Havemos de conseguir, um dia.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Vamos Limpar Portugal, Vamos Limpar o Mundo

Trancrevo do sítio (site) da
Associação Mãos à Obra Portugal, (AMO Portugal), o Boletim Informativo de 14 de janeiro de 2012 :
"Portugal encontra-se presente na conferência Let's do it! World que decorre de 13 a 15 de janeiro em Tallinn, Estónia, assinalando assim o arranque da organização do Let´s do it! World Cleanup 2012, que decorrerá entre 24 de março e 25 de setembro deste ano. Esta iniciativa, pretende reunir 300 milhões de voluntários em 100 paises, numa ação conjunta de limpeza global de resíduos. Portugal foi o primeiro país a organizar uma limpeza nacional com recurso apenas a voluntariado, e sem movimentação directa de dinheiro (Limpar Portugal 2010). Carlos Evaristo e Alberto Ferreira da coordenação nacional da iniciativa Limpar Portugal 2010 e voluntários da AMO Portugal - Associação Mãos à Obra Portugal, que organiza a iniciativa Limpar Portugal em 2012, representam Portugal em Tallinn, tendo a oportunidade de transmitir a experiência portuguesa a outros países que integram a iniciativa mundial. Vamos LIMPAR PORTUGAL… e tu? Vais ficar em casa? Saiba mais aqui".
Publicado sábado, 14 janeiro 2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Um anúncio

Estes dois astrólogos são meio loucos, o que lhes dá, à partida, uma vantagem sobre o mundo em que vivemos, que é completamente louco!
São dois dos mais seguros conhecedores dessa sabedoria milenar, atrevo-me a dizer que, do Mundo! (afinal isto é um anúncio!)
O tempo pede que desafiemos a nossa consciência, que a forcemos a reflectir, daí este blog tão sensato (sic) fazer esta sugestão aos seus leitores que tenham tempo, dinheiro e espírito aberto:
Acrescento ao "post": Recebi hoje, dia 18 de Janeiro, esta notícia, que mostra quão incapaz foi a primeira e única incursão deste blog no mundo do marketing :
"Em virtude do insuficiente número de inscrições confirmadas para o evento previsto para 28 de Janeiro no Porto, fomos lamentavelmente confrontados com a inevitabilidade de cancelar este dia.
Por forma de compensar - retribuir a Consideração - a todos aqueles que valorizam e acompanham o nosso Trabalho, temos o prazer de oferecer condições especiais a quem venha do Porto participar no evento "Uma Lente para o Futuro", em Lisboa, no dia 22 de Janeiro (domingo). Uma vez que a montanha não vai a Maomé... Maomé tem desconto se vier à Montanha :-)
Utilize os nossos contactos (TM 916001635 / Email info@nunomichaels.com) se puderemos ajudar."

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Deficit de árvores, abundância de entulho.

O Espaço Público da Urbanização da Quinta das Rãs (Telheiras)
Este terreno, onde hoje se despeja entulho, já fez parte de uma quinta bem tratada. Mas, há trinta e tal anos, a Câmara de Santo Tirso (então PPD/PSD) decidiu que ela teria que ser urbanizada, sob pena de expropriação. O plano de urbanização que foi feito e aprovado, ganhando a força de lei de um plano de pormenor, previa, para a área da fotografia, um jardim público e deixava a plantação e o seu cuidado à responsabilidade da Câmara.
A cidade deve ter uma proporção generosa de áreas verdes em relação às áreas construídas e compete à Câmara controlar a construção desenfreada e cuidar dos espaços públicos arborizados, uso-fruto legítimo dos citadinos.
Mas há um deficit, em Portugal. O deficit a que me refiro não é o de dinheiro no Estado português mas o de democracia na cultura portuguesa.
Na ordem de valores dos nossos eleitos, tanto os do governo central como os das administrações locais, os cidadãos não estão em primeiro lugar. Vêm muito depois da preocupação com aumentar a receita, a maior parte da qual se destina a sustentar a legião de burocratas, geralmente nomeados, cujo trabalho principal consiste em velar por essa receita. E vêm muitíssimo depois dos interesses dos construtores civis amigos, cuja principal tarefa consiste em alimentar o marketing eleitoral, as inaugurações e as fotografias que ele exige.
Só enquanto eleitor o cidadão lhes interessa: sem o seu voto, as nomeações, os ordenados, os privilégios passam para o outro partido, cujas prioridades são as mesmas.
Em democracia haveria uma comissão de moradores que teria participado no projecto do parque/jardim das Rãs, o qual há muito teria sido criado. Na nossa situação de deficit democrático, de democracia formal mas irreal, os cidadãos não fazem parte do processo de decisão que escolhe as prioridades para o uso das receitas disponíveis, dos bens públicos. Estes são tratados como se bens privados fossem, para benefício "privado". Foi o caso deste espaço público, tratado pela Câmara como um terreno para especulação imobiliária, para venda com lucro infinito, só se preocupando com a legalização dessa atitude. E apenas diferindo, nisso, de um especulador particular, em que são os cidadãos quem paga os advogados da Câmara e em que o particular não teria acesso fácil à criação de um plano de pormenor que, sobrepondo-se à lei anterior, abrisse caminho às suas pretensões especulativas, como foi o caso.
Há um deficit "colossal" de democracia real, tanto em Santo Tirso como na maior parte das autarquias e no País.
Plantar umas árvores não teria sido caro nem difícil. Teria sido (e terá que vir a ser!) um lucro para os cidadãos, o bem estar dos quais é o objectivo da administração autárquica, a qual, em nome deles, tem perseguido um "lucro" que os prejudica.

Mas são tempos de mudança, de cidadãos cada dia mais conscientes, mais exigentes, menos sujeitos aos investimentos em propaganda, feitos com os seus impostos! Tempo de criar a Democracia Real!

Post scriptum: Será real esta história que circula na rede?