A revolução não-violenta em curso pede-nos um esforço diferente do das revoluções anteriores: em vez de emoção, pede-nos sentimento; em vez da ira, pede-nos generosidade.
E só assim a conseguiremos fazer. Se nos deixarmos ir pelo “hábito” (!), pelo senso comum, daremos ao poder real, financeiro, a desculpa de que precisa para criar uma estrutura repressiva ainda maior.
Numa situação de crescente desemprego será fácil ao poder financeiro internacional (europeu!) investir num corpo de polícia de intervenção bem pago e, até, em provocadores bem pagos para se infiltrarem nas manifestações, os quais provocadores dariam a esses mercenários por desespero a “obrigação” de disparar.
Só vendo esses atiradores como vítimas, só com uma clara consciência de que o inimigo é abstracto, de que é o sistema financeiro que é preciso abater -- e não os desempregados que o dinheiro pode comprar -- poderemos vencer.
As manifestações terão que ser persistentes, avassaladoras -- mas pacíficas: nada conviria mais ao sistema que a emoção das massas. Lembremo-nos do “Patriotic Act”, durante a presidência de George Bush, em que os direitos mais fundamentais foram suprimidos e o terrorismo de Estado se instalou. Em nome do patriotismo, até em nome da Democracia, correríamos o risco de ver a Pátria destruída e os direitos humanos “interrompidos”, sabe-se lá por quantas décadas.
Porém, não é nos riscos desta situação que nos devemos focar: antes na esperança enorme de uma sociedade fraterna, de gente livre e responsável. O sistema que temos no mundo é uma oligarquia financeira que se fez passar por democrata mas que cada vez menos o consegue. E que está em implosão.
Foquemo-nos na esperança de que a liberdade e imaginação das pessoas vá criando as regras da verdadeira democracia, da democracia real, que venha a controlar a produção de moeda e a favorecer a harmonia social e a abundância.
Os avanços da técnica estão a ser usados pelo actual sistema para criar lucro para essa oligarquia, indiferente ao empobrecimento e à desigualdade crescentes, no mundo.
Poderão ser usados, por democracias reais, para criar abundância, liberdade e cultura.
Aquilo que o tempo nos pede é que tomemos consciência das manipulações da “informação”, que sejamos “livres pensadores”;-)
Que atuemos como se já vivêssemos em democracia real, com dignidade, responsabilidade, paciência, generosidade para com os que se deixam desinformar – que sejamos livres!
As novas estruturas já germinam, debaixo da terra. Precisarão de ser acarinhadas, quando aparecerem à vista, frágeis e belas, precisarão de ser regadas para que cresçam – e, seguramente, precisarão de ser protegidas da destruição pelo fogo.
“Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”, é um ditado conhecido. Creio que a paciência, a par da imaginação que vá criando as novas estruturas, sejam as qualidades que os tempos nos pedem.
