Pensar é uma seca
Faz mal às colheitas
E nunca mais acaba
Não estamos em ditadura. Há liberdade de expressão, não há censura, temos uma Constituição democrática. É verdade que o primeiro-ministro não gosta que os jornalistas digam mal das suas políticas, que até já moveu processos judiciais contra eles, quiçá que os tenta intimidar, calar, mas creio que ele está ao corrente das dificuldades económicas dos jornais e faz isso para lhes aumentar a tiragem: "O Sol" esgotou e teve que fazer uma edição especial! A nós, cidadãos, nos compete nos não deixarmos intimidar e, quem leva a sério as ameaças dos políticos que não disponham de polícia política?
As escutas, por mais legais que sejam, fazem-me lembrar o tempo da PIDE, que também era legal. A uma pessoa decente pode-se dar uma carta para meter ao correio porque se sabe que ela colará o envelope e que nunca se lembraria de ler uma carta que lhe não é dirigida.
A razão porque acho que o primeiro-ministro atingiu o seu nível de incompetência e se deve demitir tem a ver com economia, que creio ser, sobretudo, a arte da escolha das prioridades entre os vários usos possíveis do dinheiro de que se dispõe. Alguns investimentos, por haver outros à sua frente, terão que ser abandonados (por exemplo comprar televisões ou jornais, fazer campanha eleitoral). É uma arte de bom-senso, de sabedoria. O jornal "i" trazia um artigo de Ricardo Reis (um homónimo do heterónimo que disse, segundo Álvaro de Campos, que abominava a mentira por ser uma inexactidão), professor de Economia na Universidade de Columbia que escreve, a 13 deste mês: "Um acto corajoso de redução da despesa pública pode não só ajudar as contas públicas, como também ajudar a economia portuguesa a sair da recessão" (recessão, eis um termo que o nosso delirante governo se não atreve a empregar... ui! delirante! -- estarei a ser escutado?).
Ora o Orçamento do Estado para 2010 não é corajoso, é político; e já teve um efeito: empresas de rating subiram a taxa de risco para os empréstimos a Portugal, o que significa pagarmos mais, em juros da dívida.
É certo que os investimentos públicos da doutrina Keynesiana, pagar a mão-de-obra, mesmo que nada produza, para ter gente a receber ordenado e a poder comprar, funcionaram: por ex. o Sr. Hitler cobriu a Alemanha de auto-estradas e criou uma economia próspera a partir de uma situação desesperada, com uma inflação inacreditável. Mas não nos podemos esquecer de que dispunha do dinheiro que roubara aos industriais e banqueiros judeus e, sobretudo, de que dispunha de uma fábrica de marcos, de uma moeda própria. O nosso governo não iria roubar os seus amigos da alta finança (pelo contrário, financia-os, como no caso daquele banco que deveria ter falido!) nem pode fabricar notas de euro -- só lhe resta fazer grandes dívidas, se quer fazer grandes investimentos.
Há economistas para quem importam mais os pequenos investimentos (grandes em criatividade e ousadia), para o país funcionar, criar riqueza e atrair investimento: investir em Saúde, sua qualidade e rapidez; investir em Justiça, idem; investir em educação, exames muito bem feitos e bem avaliados, que dêem satisfação a quem conseguir boas notas, professores bem preparados, carreira prestigiada; investir na agricultura, para comprar menos ao estrangeiro; investir na desburocratização e menos na propaganda dela, enfim... investir em Portugal para haver investimento estrangeiro cá, precisamos dele, claro! Mas não o podemos comprar, lá se vai a vantagem!
Em termos económicos, uma empresa como a VW, por ex., é maior que Portugal. Os seus accionistas escolheram, para a gerir, para tomar as decisões económicas, dos melhores gestores do mercado.
No negócio da Auto-Europa, VW versus Portugal, quem será levado por quem? Serão os nossos governantes, Keynesianos fora do tempo, deslumbrados com a "modernidade", melhores gestores que os da VW? O valor da quantia que Portugal paga para que essa grande empresa se não "deslocalize" para Leste é inacessível aos jornalistas. Mas, pelo andar da carruagem vê-se logo quem lá vai dentro!
Demita-se, sr. primeiro-ministro. Há de haver, no seu partido, quem tenha um ponto de vista económico mais adequado aos tempos de escassez que aí veem.
E que está aí que eu não soubesse? Palha!
ResponderEliminarMeu caro amigo José Miranda
ResponderEliminarDepois de lhe pedir desculpa por estar aqui a tratá-lo assim, queria só, se me permite, apresentar duas questões que me surgiram de imediato após a leitura deste seu artigo:
Primeira - em questões de propostas de investimento que deveria ser reforçado, desde a Saúde à Desburocratização, esqueceu-se da pesca, da falta de direccionamento de apoios comunitários para a formação dos recursos humanos, da falta de aplicação de fundos comunitários na renovação da frota a exemplo dos apoios na renovação dos veículos automóveis?
Segunda - Porque é que há-de ser alguém dentro do partido do sr. primeiro-ministro? Já tivemos primeiro-ministros dos dois maiores partidos e resultados? Quando um jovem entra para um partido, já sonha em ser primeiro-ministro?
Abraço do Francisco.
Obrigado por comentar, Francisco. O número de leitores tem subido mas ninguém comenta:-(
ResponderEliminarCreio que tem razão quanto à pesca, somos um país que aproveita mal esse recurso.
Dei exemplos só para dizer que, mais que meter dinheiro nas coisas é preciso meter criatividade, organização mais inteligente e simples: ora isso dá muito trabalho, "pensar é uma seca", é mais fácil atribuir verbas aos problemas, esperando que melhorem com essas aspirinas.
O PS ganhou as eleições, deve governar. Fazer eleições é caro. A oposição deve chumbar o orçamento e só aprovar um que reduza, mesmo, a despesa pública, o que não é o caso deste, que leva o déficit de 9,3 apenas para 8 e qq coisa--não convence os nossos credores, não ajuda o euro, prejudica o preço da dívida.
Infelizmente o nosso primeiro ministro tem o talento de se convencer a si mesmo de que tem razão. E de que não há ninguém melhor que ele para o cargo. Em 10 milhões de pessoas? Não estou convencido ;-)