quinta-feira, 25 de março de 2010

Um louvor à Câmara de Santo Tirso

 Conheci A. (nem a sua nacionalidade posso mencionar, por respeito à sua poética, como veremos) durante o Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, quando ele fez uma conferência na ESAP, a escola em que me formei. Este arquitecto/escultor andava de biciclete pelas ruas do Porto literalmente fascinado. Nesse tempo a cidade era um gigantesco estaleiro, o trânsito era ainda mais difícil que o habitual e foi isso mesmo que entusiasmou A., que dizia estar a viver a maior emoção artística da sua vida.
Para o compreendermos temos que tentar descrever a sua poética, os conceitos que estão por detrás da sua produção artística: erradamente tomado, por alguns, por um pós-modernista, enquanto arquitecto, A. é um funcionalista que exacerba a função estética; para ele a função da Arte é produzir emoções artísticas e essas emoções estão no cerne da espiritualidade humana. A Arte, para cumprir a sua função, segundo ele, tem que ser rigorosamente inútil, efémera e anônima. Daí o seu fascínio pelas instalações temporárias e pela ousadia da cidade do Porto se ter transformado numa gigantesca instalação temporária para receber os visitantes, proporcionando-lhes a emoção artística de a ter que percorrer a pé ou de biciclete, enquanto exércitos de ucranianos a destruíam e reconstruíam, numa azáfama que se aproximava da sua ideia radical da inutilidade da Arte -- para tudo que não seja a criação efémera dessa emoção.

Como ele é escultor, trouxe-o a Santo Tirso, para visitar o museu de escultura ao ar livre, de que ele já tinha ouvido falar. Não me surpreendeu que a sua obra preferida tenha sido a de Cabrita Reis, o escultor que viria a representar Portugal na Bienal de Veneza e que, quando fez esta obra em Santo Tirso, ainda estava muito longe da fama internacional. Imagino que tenha perdido as boas graças de A., entretanto, porque a sua poética funcionalista foi buscar ao design a valorização intransigente do anonimato.


O que só soube agora, foi que A. viria a conseguir da Camara de Santo Tirso uma encomenda para uma escultura, melhor, uma instalação temporária prolongada, num dos cruzamentos com mais trafego da cidade, perto do Tribunal e do Hospital e com um contrato de que ela seria rigorosamente inútil e anônima durante, pelo menos, seis meses, tendo que ser retirada ao fim desse tempo sob pena de uma pesada indemnização ao artista.
A ousadia artística da Camara merece um rasgado louvor, que aqui fica lavrado, na pedra virtual deste blog inútil!

"Ceci", a maior instalação de realismo subjectivo até hoje construída, utiliza um ready made, neste caso uma grua abandonadauma homenagem ao design, usado por esta poética com a função exclusiva de criar "o delicioso incómodo da emoção artística", nas palavras do autor.

Eis a galeria pela qual o visitante pode penetrar na instalação temporária, ainda patente na Avenida Sousa Cruz por mais alguns dias.

Resta referir que A. se considera  discípulo de Bernardo Soares, o qual visitou na Clínica de Cascais em 1988, de onde o escritor ainda assistiu, anónimo, à publicação e ao sucesso mundial do seu livro.

Parabéns, mais uma vez, à Câmara de Santo Tirso!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Associação Cívica Amar Santo Tirso

Às 18:59 de hoje, quinze associados assinaram a escritura de constituição da Associação Amar Santo Tirso. Este blog estará à disposição desta associação cívica apartidária e democrática para divulgar as suas iniciativas, e, desde já, para a divulgar junto dos seus leitores (já 40 ou 50 por dia).
Dizem os astros que ela será vista como responsável, que tomará iniciativas inesperadas e generosas, comunicando com Santo Tirso com o coração e com a razão ao mesmo tempo. Ficará conhecida pelo seu lado sentimental e por realizações práticas no campo da conservação do património cultural, das raízes da terra. Não irá passar despercebida.
Se estiver interessado em inscrever-se como associado sugiro que escreva um e-mail à Dra. Ana Paula Carneiro (que espero me perdoe esta "inesperada iniciativa").



(31 de Março de 2010): Foto tirada no cartório depois da escritura, gentilmente enviada pelo jornalista Augusto Pimenta, com pedido de publicação)


http://amarsantotirso.blogspot.com/

segunda-feira, 22 de março de 2010

Parabéns, Obama!

hoje os Estados Unidos da América, o pioneiro da Democracia e o país mais rico do mundo, conseguiu algo que se aproxima de um Serviço Nacional de Saúde, coisa que Portugal tem há décadas, com dificuldades, é certo, mas melhor, em geral, que a concorrência que os privados lhe fazem.
É mais que tempo de parar o trabalho de privatização da saúde que os nossos governos têm feito, ao arrepio da História, deslumbrados pelo ultra-liberalismo da Sra. Thatcher, o qual não conseguiu destruir o Sistema de Saúde inglês, um dos melhores do mundo e que serviu de exemplo ao Congresso americano, que hoje fez um voto histórico.
Nem os governos nem as Câmaras se deveriam distrair do seu dever de apoiar o Serviço Nacional de Saúde, apoiando, como têm feito, a criação de Hospitais Privados. Os privados que os façam, são livres. A lealdade do Estado é para com os seus serviços.

23 de Março: O discurso da vitória.

sexta-feira, 19 de março de 2010

É já amanhã, sábado, 20 de Março, que vamos Limpar Portugal!
Apareça! Um pouco antes das nove horas, nas juntas de freguesias, haverá quem lhe indique onde trabalhar. Traga umas luvas, pode trazer uma pá ou um ancinho, mas traga, sobretudo, a sua boa vontade! Dê uma hora de trabalho, ou duas, três,
ou o dia todo, a apanhar garrafas de plástico ou de vidro, lixo, normalmente limpo por muitos dias de chuva, no monte, com terra, claro. É mesmo um acto de amor à terra. Ao fim do dia teremos o país limpo! Essa a recompensa. Não seria um bocado chato deixar-nos trabalhar sem a sua ajuda? Ao mesmo tempo, em todo o país, milhares de pessoas vão estar a separar o lixo e a carregar carrinhas e camiões ou a conduzi-las ao ecocentro.
Vamos ser mesmo muitos! Anónimos, solidários com a Terra, gente "normal" ;-)
Apareça!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Petição urgente

      (28 de Março:  Entretanto o governo do Kenia --talvez ajudado pelas assinaturas desta petição! -- conseguiu parar as pretenções da Zambia e da Tanzania de liberalizar o comércio do marfim)

Tanscrevo um e-mail da Avaaz: Este fim de semana (13 de março), dois governos africanos vão tentar efraquecer a proibição mundial do comércio de marfim -- essa decisão pode acabar com toda a população de elefantes e colocar estes animais mais próximos da extinção.
  A Tanzania e a Zâmbia estão fazendo lobby junto à ONU para conseguirem exceções à proibição. Se isto acontecer, os traficantes de marfim verão que a proteção mundial está enfraquecida e que a temporada de caça está aberta. Outros países africanos são contra o fim desta lei e estão propondo uma extensão dela por mais 20 anos.
  Nossa melhor chance de salvar os últimos elefantes do continente africano é apoiando os conservacionistas da África.        Nós só temos mais 5 dias até a reunião do Grupo de Espécies em Extinção da ONU, eles só se reunem a cada 3 anos. Clique aqui para assinar a petição urgente pela protecção dos elefantes e encaminhe esse email para que possamos entregar milhares de assinaturas na reunião.
  Há mais de 20 anos, a Convenção do Comércio a Espécies em Extinção (CITES) estabeleceu uma proibição mundial ao comércio de marfim. A caça ilegal para fins comerciais foi abolida e os preços do marfim subiram. O pouco policiamento e a vontade de reverter esta lei por países como a Tanzania e a Zâmbia, fizeram com que o comércio ilegal desse material se tornasse lucrativo .
  Mesmo com a proibição mundial, mais de 30.000 elefantes são mortos todo ano e seus dentes arrancados com machados e motoserras por caçadores ilegais. Caso a Tanzania e a Zâmbia consigam reverter esta lei, a situação vai ficar ainda pior.
  Nós temos uma chance única esta semana, podendo prorrogar a proibição e reprimir a caça ilegal, antes que se percam ainda mais elefantes -- assine a petição agora e encaminhe esta mensagem para todos que você conhece.
  Em diferentes culturas do mundo e através da nossa história, elefantes são revereciados por religiões e despertam o nosso imaginário com personagens como Babar e Dumbo. No entanto, atualmente, esta lindas e inteligentes criaturas estão sendo aniquiladas. Enquanto houver demanda por marfim, a caça ilegal para fins comercias continuará a existir. Nós podemos proteger estes animais e acabar com os lucros desta indústria criminosa  


  Com esperança,
Alice, Iain, Raluca, Graziela, Paul, Luis, Paula Benjamin, David, Ben e toda a equipe Avaaz


Mais informações:
Tanzânia e Zâmbia acusadas de laxismo na protecção de elefantes
União Europeia está dando luz verde para novos massacres?:

terça-feira, 9 de março de 2010

Estamos em tempos de mudança

Estamos em tempos de mudança, comparáveis, quanto à amplitude da transformação, à Revolução industrial do século XVIII.
Deixemos agora a máquina a vapor, a técnica, promovida a "ciência da técnica" (tecnologia) e à qual, criação humana que é, se atribuiu o poder criador de transformar o mundo, ou seja, se endeusou.
Foquemos o nosso poder criador, o do Homem, animal social, foquemos o poder criador das ideias. A ideia de que todos os homens nascem livres e iguais em direitos apareceu, depois de séculos em que a existência de privilégios, isto é, de "leis privadas", tinha sido aceite como a ordem natural das coisas, como sendo "a justiça". Apareceu, provavelmente, nas cidades europeias em que a aristocracia, com as suas perucas emproadas, não via o povo que assistia aos seus caprichos, nem sabia da fome, nem de quantos meses levava a fabricar as rendas dos seus fatos de uma noite. Só parecia saber, dos que não tinham privilégios, que eram vis, ou seja, dados a sentir inveja, emoção estranha a quem tinha, por lei, direito a comer do que quisesse. A ideia apareceu, provavelmente, nos espíritos de estudantes talvez esfomeados e revoltados mas, por isso, sensíveis à dor do povo, e, por mais instruídos, mais conscientes. Um mundo em que "A Lei" fosse igual para todos apareceu como uma utopia, como um mito. E foram emigrantes europeus na América quem redigiu a Constituição americana.
Aconteceu. Talleyrand deu a notícia à Europa e, hoje, não há país europeu em que haja quem nasça com privilégios escritos na lei (1). Hoje a Lei Fundamental, a Constituição, veio ocupar o lugar do rei. A lealdade que era devida ao rei é hoje devida à lei.
Entrei há pouco num parque subterrâneo onde uma música barroca lindíssima me acompanhou até ao coche, à minha espera entre centenas de outros, o qual me trouxe a casa mais depressa e com mais conforto que no século XVIII e sem o incómodo dos criados (porque não ver o outro exige um treino de muitas gerações, que nos não é natural, aos burgueses!). Como melhorámos! A saúde, a habitação, a instrução pública não são sequer comparáveis. Porém o mito ainda não é realidade, até retrocedeu: É uma espécie de privilégio nascer num país rico, numa família rica, nascemos iguais em direitos mas nem todos os Estados conseguem dar a todas as crianças a mesma esperança de liberdade. E a fome está a aumentar, no mundo.
Imagino um advogado, cansado, olhando a sua parede forrada de prateleiras cheias de Diários da República, pensando no privilégio que tem em saber, pelo menos mais que o povo, as leis que nos regem e pensando no privilégio do endinheirado que o contratou e ao qual ele conseguirá dar aquela paz de consciência que vem, aos inconscientes, de uma absolvição (pela justiça que há) dos prejuízos que causaram. Imagino-o, lasso, a tentar resumir a Lei:  faz o que quiseres desde que não prejudiques alguém!
Mas, agora (e por mais uma boa dúzia de anos!), "Ninguém sabe que coisa quer./ Ninguém conhece que alma tem, / Nem o que é mal nem o que é bem".
E se quem não cumpre a Lei Fundamental fosse quem faz as toneladas de leis que presumem que não sabemos respeitar os outros? E se disséssemos todos aos poderosos deste mundo: "eu sei!"?
Sei que mais de 90% das pessoas são honestas e sei que isso se deve a uma selecção natural, sei que isso de respeitar os outros está nos nossos genes. Sei que "não há direito sem força" e que as leis protegem os poderosos, aqueles, de nós, mais perto, geneticamente, dos predadores primitivos. Sei que o outro merece o mesmo respeito que eu...
... e se eu transferisse a minha lealdade, a que devia ao rei, depois à lei, ao que sei? Sei que o saber humano, a ciência, pode acabar com a fome no mundo, facilmente; sei que podemos, com igual facilidade técnica, parar de transformar o mundo numa lixeira, de destruir o planeta. E sei que, para isso, temos que começar por ter essa ideia, por fazer dela um mito e que transferir a nossa lealdade para aí. Sempre foram as ideias quem mudou o mundo. A máquina a vapor vem depois de a ideia de "descoberta" ter surgido e de haver quem a quisesse experimentar.
Viver em harmonia e em paz com um planeta limpo, gozar as suas maravilhosas paisagens não é uma utopia. Não é um fim, é apenas o passo seguinte do nosso caminhar histórico. Sei que estamos a dar esse passo, que estamos já na revolução do conhecimento.

Também sei que as ideias nascem da prática, como ela delas. A ideia de usar o conhecimento para criar um mundo sem pobreza nasce de o ver a ser usado, com sucesso, para criar privilégios, coisa inútil se o usáramos para criar o bem-estar de todos.
Gosto dos blogs porque o leitor sabe que está a ler alguém a falar em liberdade. Não seria preciso citar a última frase de Fernando Pessoa, rabiscada no leito da morte, ele que gostava das quadras do Bandarra porque sabia do valor de escrever os desejos da alma, os mitos: I know not what tomorrow will bring.

(1) Europa Continental, digo. Nas ilhas como Portugal e o nosso mais velho aliado há umas excepções, quiçá simbólicas;-)

sábado, 6 de março de 2010

Vamos limpar Portugal: ensaio em Santa Cristina

A secção tirsense de "Limpar Portugal" fez hoje a limpeza de uma lixeira numa mata, para identificar os problemas que poderão surgir no dia L: dia 20 de Março, em que vamos todos limpar Portugal!






Problemas a montante:
O que levou ao aparecimento de esta situação?
Desde logo a lixeira escolhida ficava do outro lado da rua do aterro sanitário! Porque é que as pessoas preferiram deitar o lixo ali e não no aterro? É provável que isso tenha a ver com o
erro monumental -- já corrigido! -- que foi o de levar dinheiro às pessoas, no início do funcionamento do aterro sanitário, para lá depositarem o lixo! E do outro lado da rua, na mata, era de graça.
É preciso informar as pessoas de que serão bem recebidas no aterro sanitário, sem burocracias, sem pagar nada e de que qualquer lixo será aceite. Para corrigir o senso comum que pensa ser mais fácil deitar na mata e criar o bom senso de deitar no aterro: campanhas na TV, etc.

Problemas no local:
Levar luvas é fundamental e levar sacos como os do IKEA, dá jeito. As pás e ancinhos foram muito menos usados que as mãos. Um grupo de 20 pessoas deu cabo de uma grande lixeira em pouco mais de uma hora, separando "monstros"(peças grandes, como colchões), plásticos, cartão, borracha e vidro. O entulho de obras será deixado no local, misturado com a terra.
Começámos por acumular o plástico num monte mas depressa compreendemos que o melhor é pô-lo directamente no camião do plástico. Mais difíceis são os


Problemas a jusante: O camião voltou sem ter descarregado o plástico no ecocentro. Não aceitam plástico sujo! Ora só querer lixo limpo é um luxo a que o ecocentro se não deveria dar, e sabemos que não pode dar: todo o plástico é lavado, antes da reciclagem propriamente dita, para retirar restos de gordura, de papel, etc.
A terra também há de ser lavável, melhor, tem que ser lavável, não faz sentido perder o nosso trabalho de separação e deitar todo o plástico no aterro de lixo comum, como acabou por acontecer!



Já com os vidros tivemos mais sorte: o ecocentro aceitou-os, embora tão sujos como o plástico! (será o vidro mais valioso que mereça lavagem?)

Os pneus serão recolhidos por uma empresa especializada que até os pagaria não fora o dinheiro não entrar neste projecto nacional de Limpar Portugal num só dia, uma iniciativa de voluntários que merece a boa vontade dos ecocentros. Têm 15 dias para se preparar! Toneladas de lixo, separado e sujo, bater-lhes-ão à porta. Vamos pedir aos bombeiros para dar umas mangueiradas ao plástico mas será absurdo se os ecocentros portugueses o não aceitarem e ele for para os aterros sanitários perdendo a oportunidade de ser reciclado: estamos a falar dos plásticos nas matas de Portugal inteiro!
O grupo de Santa Cristina do Couto deitou uma carrinha cheia de plástico num ecoponto, onde se não pede às garrafas de plástico que cheguem bem lavadas!

Vamos limpar Portugal!