quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sobre o medo e a coragem

Gosto da analogia entre a vida e o surf: cavalgando a onda, o surfista está, continuamente, a fazer pequeninos ajustes para manter o equilíbrio e a trajectória que escolheu.” Parar é morrer”. Na vida, como no surf, o medo e a coragem devem estar em equilíbrio. Equilíbrio dinâmico, constante. Sem o medo de cair, cai-se; sem a coragem de fazer o ajuste adequado ao momento, cai-se também.
 
O movimento que nos mantém em cima da onda nem é cobarde nem temerário: é o correcto, o sensato, o que está dentro de um pequenino intervalo de liberdade.
Há sempre algo de (levemente) novo em cada momento mas é na experiência de muitos tombos que baseamos a escolha. Recusar a experiência é temerário, confiar apenas nela, cobarde!
Quando é preciso mudar de rumo, pelas circunstâncias da onda da vida, se não tivermos a coragem de o fazer (e num pequenino intervalo de tempo), caímos!

Portugal tem mais de oitocentos anos de experiência mas a experiência não chega! Se não experimentarmos — com cuidado! — , se esquecermos a experiência de que nada se repete exactamente, de que é precisa, também, a imaginação criadora, arriscar, caímos. Decerto nos levantaremos de novo, mas cair não tem graça!
Portugal somos todos nós. Se chamarmos aos políticos o nosso cérebro (e “um fraco rei faz fraca a forte gente”!) nós seríamos o resto do corpo, onde reside o instinto de sobrevivência e até, como mostrou António Damásio, a origem da consciência, que se organiza no tronco cerebral, não no córtex. Compete-nos enviar ao córtex um sinal de perigo! Um sinal claro de que é tempo de mudar de rumo.
É sabido que o investimento público expande a economia, é sabido que as infra-estruturas como caminhos-de-ferro, estradas, portos e aeroportos, são necessárias e são atribuições do Estado. Mas o assunto é o equilíbrio. O que é demais é erro! Nos últimos anos o investimento em construção foi tão grande que se criaram muitas grandes e pequenas empresas do ramo, cujo risco de falência tem levado o governo a fugir para a frente, a endividar-se para lá do razoável, a inventar esse perigosíssimo instrumento das “parcerias público/privadas”, o qual nos levará a um mergulho tão profundo, daqui a uns anos, que põe em risco a nossa sobrevivência, a nossa independência, a nossa liberdade de viver.
Pedro Passos Coelho, personagem que me não agrada, líder de um partido que me não agrada, interpreta, neste momento, o instinto dos portugueses. Oxalá tenha a coragem — e lhe demos a força! — para manter a legítima chantagem ao governo: ou extingue essas parcerias, ou desiste das suas obras faraónicas, ou não vê aprovado o Orçamento de Estado de 2011.
No nosso Concelho a situação é análoga. Há tantos investimentos mais reprodutivos que as obras megalómanas que vão aparecendo para evitar a falência das demasiadas empresas de construção civil, que é precisa a coragem de mudar de rumo. Nos próximos anos haverá uma contracção da economia, haverá muito mais fome, muita gente sem conseguir comprar os medicamentos que lhe receitaram, muitas pequenas empresas que precisariam de uma ajuda da Câmara — mas esta nada poderá fazer. Nem poderá salvar as empresas de construção que deveriam ter sentido mais cedo as dificuldades, para se adaptarem. E o nosso papel, de tirsenses, é pedir à Câmara a transparência das contas públicas, alertar para o risco da megalomania: o instinto está na base da consciência, o cérebro saudável ouve o seu corpo, não se desliga.

Aumentar os impostos e diminuir os salários é um recurso que não é sustentável: diminuindo o consumo contrai -se a economia, menos haverá para tributar! Especialmente esta tolice de aumentar o IVA, tão acima do espanhol e para produtos que não são de luxo, em vez de taxar os bancos e as grandes empresas, esta obstinação de continuar no caminho que pareceu funcionar bem, é excesso de medo de mudar, é cobardia, é desequilíbrio!


1 comentário:

  1. burro que não gosta de palha20 de outubro de 2010 às 05:44

    Tanta palha! Basta dizer que nos estão a roubar com os impostos para dar às empresas amigas, ou ao BPN onde tinham os investimentos, não é preciso surf!

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