terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ganhar hábitos de cidadãos democratas

Os casos em que o legislador acerta e cria uma lei que não piora a situação devem ser celebrados. Em 2001 Portugal deixou de criminalizar os toxicodependentes e passou a oferecer-lhes tratamento. O resultado foi um sucesso que está a ser imitado por outros países, que o vêm cá estudar.
O flagelo actual é a corrupção e ouvi um humorista propor que ela fosse despenalizada. Afinal a lei segue os usos e os costumes e este é tão antigo que o exportámos, com sucesso, para as ex-colónias, onde medra alegremente.
É impossível contabilizar este fenómeno da corrupção mas basta extrapolar para o país o que conhecemos para concluir que se perdem uns valentes biliões de euros por ano, os quais, recuperados, nos poderiam dar mais optimismo quanto à possibilidade de amortizar a nossa dívida (de 500 biliões) que os optimistas comunicados do governo que nos informam que ela está a aumentar a um ritmo ligeiramente inferior ao habitual. (Confesso que acho graça à surpresa --ou indignação, até-- dos nossos governantes, perante a reacção dos "mercados" a tão belas perspectivas de recuperarem o que emprestaram: mercados inconscientes, mal informados!).
É sabido que somos um povo "desenrascado" e que podemos sair deste buraco de valor equivalente, em dólares, ao que os americanos usaram para salvar a sua economia (e a do mundo) aquando do seu colapso, há dois anos, e isto apesar de sermos 10 milhões e eles serem 200 e tal milhões, com uma economia um pouco mais desenvolvida que a nossa. Mas, o que nos têm vindo a lembrar algumas pessoas sensatas que já passaram por outras, é que teremos que funcionar em equipe, que encontrar soluções dialogadas, consensuais, e, sobretudo, que confiar uns nos outros. Só se tivermos a certeza que os outros também cumprem o acordado é que não nos tentaremos "safar" individualmente.
Assim, este assunto da corrupção é mais importante que uns vastos biliões, é a corrupção da confiança, que nos pode ser fatal.
O tempo pede-nos coisas que vão contra a nossa natureza: que sejamos organizados, que deixemos de fechar os olhos quando vemos os dinheiros públicos mal-parados, até que nos interroguemos sobre ditados como este: "Quem parte, reparte, e não fica com a melhor parte, tolo é ou não tem arte!"
Se um sujeito lida com milhões de dinheiros públicos e não enriquece é tomado, pela cultura que temos e que temos que abandonar, como um sujeito tolo ou sem arte.
Não confiamos naqueles que elegemos e, assim, não iremos arregaçar as mangas para sair da situação em que os encarregámos de nos pôr.
Só quando nos propusermos ver as coisas como elas são, nos deixarmos da bondosa fantasia de tomar as mentiras por verdades relativas de quem as diz, só quando nos propusermos esmiuçar as contas públicas, que nos são acessíveis, por lei; só quando quisermos saber porque é que aquele negócio público foi feito com fulano e não com beltrano, desencorajaremos as pessoas dadas à corruptodependência de procurar trabalho na função pública, particularmente de procurar trabalho como gestores dos dinheiros públicos, eleitos. Porque, se deixar de ter graça para eles, eles irão pregar a outra freguesia.
Ou seja, se não acordarmos rapidamente, afogamo-nos.
E seria pena, porque, se sobrevivermos como nação independente, temos uma maravilhosa cultura para partilhar com o mundo.

Continuemos a ser bondosos e tolerantes com quem não procura a verdade mas não os elejamos para lidar com o nosso destino. Ele há gente mais adequada para esses lugares, talvez não sejam tão "bem falantes", talvez tenham dúvidas e saibam que erram, por vezes, mas são tempos de mudança, deixemo-nos de votar em imagens, votemos em pessoas!

3 comentários:

  1. muito a propósito este post, hoje que ficamos a saber q os gestres de algumas das nossas principais empresas públicas depositam o dinheiro do Estado na banca comercial em vez de o depositarem no Instituto do Tesouro!!!! Será que alguèm ganha com isto? As empresas públicas vão ser sujeitas a multas, e os gestores não?????

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  2. Veja como é tratado o consumidor e as leis que o protegem:
    http://jonasnuts.com/305843.html

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  3. Este "post" é de 2010. Como era de esperar elegemos pessoas que nos pareciam sérias e que pouco ou nada fizeram contra a corrupção. Entretanto percebi que temos que deixar de votar em pessoas e passar a votar em leis, directamente! Trata-se de uma alteração estrutural às nossas democracias, que está em curso e que é para ser feita pacificamente.

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