sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Estado de desgraça

O velho ditador mantinha uma relação cerimoniosa com a oligarquia financeira que representava mas representava-se a si mesmo, em última análise: "sei o que quero e para onde vou", disse.
Os actuais representantes da oligarquia financeira, como estamos em "democracia", representam, em última análise, aqueles que os escolheram (não, não somos nós, os eleitores). Esse grupo de "escolhedores" ganhou a sua posição por conseguir votos ou financiamentos para o seu partido; são normalmente pessoas "simpáticas", inteligentes, bem falantes e bem apessoadas e com outras qualidades que os fizeram ir subindo nos quadros do seu partido. Por vezes são capazes de ter a sua visão estratégica para o país; aquilo de que nunca podem ser capazes -- se o fossem não teriam chegado ou seriam afastados  -- é de pôr as suas ideias à frente dos interesses do seu partido, ou seja, à frente dos interesses do seu grupo de "escolhedores": sabem o que querem e para onde vão.
Enquanto o ditador queria, "apenas", satisfazer o seu vício de poder, impor a sua ideologia à custa da nossa dignidade e liberdade, esta oligarquia quer, "apenas" (muitos!) cargos muito bem remunerados, com direito a viajar extensível à família, com despesas de representação previstas, automóveis, etc -- e com grandes reformas precoces, onde, por vezes, se inclui o conforto do uso-fruto de "agradecimentos", recebidos por debaixo da mesa; e é para esses cargos que vai.
Os seus eleitos -- que não são nossos! -- esforçam-se como podem para os colocar em empresas públicas, nas Câmaras, nos Hospitais, nas parcerias público-privadas e mesmo nas empresas em que o Estado é accionista, como a Caixa Geral dos Depósitos, a PT ou a EDP: em tudo em que o Estado tenha influência. É claro que nesse esforço se inclui o esforço por arranjar financiamento para o Estado português, de quem dependem, tanto que os credores começaram a fazer-se caros e chegámos a uma situação em que vale tudo para os acalmar, para que o Estado possa continuar a receber emprestados os biliões anuais a que se acostumou.

É neste quadro que se pode entender este recente ataque à autonomia das Universidades. O governo não está apenas a ajudar as universidades privadas, como tem feito com os colégios ou com as clínicas. Está a criar cargos apetecíveis para dar aos que o escolheram, aos "escolhedores".
As Universidades públicas estão num período criativo, produzem conhecimento e dão valiosa ajuda à produtividade de empresas inovadoras, crescem apesar de a contribuição do Estado ir diminuindo... -- Para que precisam elas de alguns burocratas (caros!) para as gerir, os quais, ao acabarem com a autonomia da gestão actual, seguramente acabarão com o que de interessante se tem passado? Trata-se de um disparate económico, se o país (e o seu futuro) for o objectivo.
Mas não é.
O objectivo neo-liberal que o partido no governo apregoa aplaudiria a criação de riqueza que as Universidades fazem. Condenaria a interferência do Estado nas mesmas.
Mas os nossos governantes, além de representarem a oligarquia financeira (nacional e internacional) e o seu gosto pelo neo-liberalismo, representam o grupo dos seus "escolhedores": o objectivo, consistentemente perseguido pelos governantes que temos tido nos últimos 20 anos, é o de criar lugares apetecíveis para os seus políticos. O neo-liberalismo assumido não passa da sua última aposta de marketing -- tinham que fingir que havia mudança: a vontade de mudança era o que as sondagens indicavam. Mesmo tratando-se de apresentar como nova uma doutrina que caiu em descrédito, com estrondo, em 2008, com a bolsa e com George Bush. E que não era mudança, no fundo, porque, encapotadamente, já era a directriz do governo anterior: o neo-liberalismo, embora com cargos e segurança social de luxo para os que representam, no Estado, o verdadeiro poder, que é a oligarquia financeira, nacional e internacional.

Assim como a Universidade se adaptou ao tempo de Salazar, assim terá que convidar -- mesmo para ensinar! -- pessoas gratas ao regime, pessoas que trabalharam nas juventudes partidárias e singraram na carreira. Universidades medíocres num país de gente pobre: já vi isso, há quem se lembre!

A custo, intoxicado de desinformação, mais ano menos ano o povo reiniciará a Democracia, nas universidades, nas autarquias -- em todo o país. Uma Democracia imune à doença de que a actual padece: a de ter tanto de democracia como tinha a "democracia orgânica", nome que Salazar, depois da guerra, deu ao Salazarismo. Será uma democracia real!
Fá-la-emos a tempo de sermos um exemplo pacífico para os outros Estados, a braços, como nós, com democracias doentes, com o problema de ver os seus eleitos a defender, encarniçadamente, a oligarquia financeira que representam, em vez de representar os cidadãos?
É minha esperança que sim :-)

Em Jaraguá do Sul, irmãos na desgraça!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Encontro da floresta

A protecção das áreas verdes do Concelho, especialmente das suas áreas de ecologia protegida, foi, durante muito tempo, desvalorizada pelo poder autárquico. O território bem ordenado tem floresta com biodiversidade; agricultura tendencialmente "biológica", ou seja, preocupada em não contaminar as águas com produtos tóxicos; áreas urbanas, protegidas do barulho das estradas e em encostas a Sul, nunca nos campos destinados à agricultura e nunca ao longo das estradas, convidando os acidentes; tem áreas industriais, não permite a indústria isolada no monte porque, ao valorizar o território, se preocupou em oferecer áreas de construção industrial a um preço que evitasse essa dispersão pela floresta, com os prejuízos que traz à fauna, à flora e, muito simplesmente, à paisagem. 
Ainda se podem ver depósitos de entulho da construção civil em áreas ecologicamente protegidas. Isso evita-se criando vários locais para o efeito, gratuitos e bem divulgados. Sei que há algum progresso mas também sei que a construção é o que dá lucro à administração autárquica, é aquilo a que ela dá mais valor. A consciência do valor da floresta e da biodiversidade está, porém, claramente, a aumentar entre os "eleitores" (a qualidade mais valiosa dos cidadãos).
Conheça ainda o projecto "Embaixadores da Floresta", que se propõe plantar árvores autóctones, informação que agradeço ao blog "Ambiente Santo Tirso", o qual merece ser visitado.


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Limpar Portugal 2012


Informe-se e inscreva-se aqui.  No dia 24 de Março vamos limpar o Concelho de Santo Tirso!
Entretanto, entre 24 de Março e 25 de Setembro, haverá limpezas dessas pelo mundo fora:
é o world clean up, passámos da escala nacional (o primeiro let's do it foi na Estónia, em 3 de Maio de 2008) para a escala planetária!

domingo, 16 de outubro de 2011

Melhorar o mundo

A consciência de que o sistema chegou ao seu limite, de que tem que ser substituído por democracia real, participativa, criativa, continua a aumentar ... e continuará até chegar a abranger mesmo os 1%, aqueles que pensam preferir o passado!
É como "baixar" um programa, como dizem os brasileiros, fazer um "download". Somos os 99%. O download está a fazer-se pacificamente. Daqui a um ano, nos últimos 1%, "é que a porca torce o rabo". Aproveitemos este tempo de paz, de encanto, de esperança, de alegria, de criatividade... exigeons l'impossible
O movimento em curso é rigorosamente não violento. A violência é sempre uma provocação comprada pelos 1%. Lembremos que a arma do passado é a mentira, a manipulação, a incitação à desistência, ao desespero.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Até à democracia real





Watch live streaming video from globalrevolution at livestream.com
"Let's treat this beautiful movement as if it is the most important thing in the world. Because it is. It really is."
"Tratemos este lindo movimento como se fora a coisa mais importante do mundo. Porque o é. É mesmo."
(in Occupied Wall Street Journal)   

Porto: Praça da Batalha, 15 de Outubro, 15:00
A colaboração em vez da competição!                                                     


Veja em alta definição: 720p

domingo, 9 de outubro de 2011

Já chegámos à Madeira?

Lembremos que a fronteira entre a saúde e a doença é indefinível (as definições são arbitrárias, têm origem no pragmatismo). Isto é mais evidente no campo da saúde mental.
Tomemos o exemplo da "negação", aquele processo em que o paciente se recusa a ver algo que é evidente para os outros -- mas que lhe é insuportável. Isto passa-se com todos nós, aqui ou ali; os americanos usam a expressão (denial, negação) na linguagem de todos os dias, é útil que os amigos nos digam o que, estando diante dos nossos olhos, nos recusámos a ver. Quando é que podemos falar em "delírio" ou em "delírio sistematizado", sintomas de demência, já dentro da fronteira da doença? -- Sobretudo quando, posto diante dos factos, o paciente reage com agressividade e obstinação "exageradas", coisa subjectiva, como se vê!
É sabido que o Dr. Alberto João Jardim passou a vida a chantagear os deputados do PSD, ameaçando votar contra o seu partido se a Madeira não fosse privilegiada na despesa pública. Para o seu ponto de vista, a injustiça da insularidade justificava tudo -- incluindo a dívida não declarada que foi fazendo, confiando que o desenvolvimento da região acabaria por a justificar. Mas isto de fazer dívidas não é sustentável -- os credores vão-se tornando caros!
Repetidamente avisado de que se não tratava de um comportamento decente em relação ao resto do país ele foi atribuindo a responsabilidade ao "Continente", que trata a Madeira muito mal!
Será o senhor demente? Essa fronteira mal definida entre a saúde e a doença varia com a cultura em que se está. Ele seria considerado demente num país do Norte, sem dúvida, nunca teria sido eleito, sequer, mas é considerado "esperto", em Portugal; irritante, para alguns, mas "bom para a Madeira", competente governante porque põe a sua região acima do interesse de Portugal.

José Socrates no seu último banho tirsense
O mesmo se passa nos Municípios. Na nossa estrutura centralizada os impostos locais não cobrem as despesas e os autarcas tratam de estar de bem com o governo, donde vêm as "verbas". Todos gastam mais que o possível, prometendo votos ao partido, em troca de "verbas" --uma situação insustentável.
Comparemos com uma família em que os filhos se fazem amorosos para ter um gelado, uma biciclete, ou qualquer coisa. Se os pais dependerem emocionalmente dos filhos gastarão mais que o possível -- e serão eles os responsáveis, as crianças não têm acesso ao orçamento familiar, imaginam que se trata de uma nascente, que nunca seca!
Os municípios também fazem as suas "malandrices", desde que não "dê nas vistas": inventam as suas parcerias público-privadas locais, a exemplo do governo central -- escondem as despesas!

Se não quisermos considerar doentia a nossa cultura (se estivermos em "negação"!), teremos, pelo menos, que considerar a nossa irresponsabilidade como pouco adulta -- teremos que lidar com a nossa imaturidade. Donde vem tal coisa? Do paternalista Salazar? Da Inquisição? Seja como for é mais que tempo de crescer, de ver que Portugal é assunto nosso.

A negação essencial que fazemos, os portugueses, é a de que o Estado seja da nossa responsabilidade, de que ele não é um poço sem fundo onde nos vamos abastecer. E, enquanto terapêutica para a nossa demência, a ajuda que o colapso financeiro internacional veio dar à clareza da falência em que estamos pode ser o caminho da saúde!

Já chegámos à Madeira? -- Já! Apenas nos recusamos a ver isso!

domingo, 2 de outubro de 2011

A transparência da abundância

As contas públicas do Concelho de Santo Tirso são rigorosamente transparentes. São publicadas todos os meses em revistas ilustradas distribuídas gratuitamente a todos os munícipes, os quais sobre elas se pronunciam amiúde, incentivando a Câmara Municipal a investir mais em obras de Arte.
Nem a Câmara nem alguma empresa municipal tem dívidas a bancos ou ao Estado e Santo Tirso pode, assim, contribuir, desafogadamente, para o prestígio e dignificação da Justiça, por exemplo, que tão sofredora anda, no resto do País. 
O Palácio da Justiça, visto à transparência das contas municipais
O desenho deste novo pavimento de granito, que vem dignificar o Palácio, foi discutido ao pormenor, durante meses, pelos tirsenses, que acreditam na Arte como solução para os problemas da Justiça. Note-se como uma pequena roseira, ali no centro, se mantém, como símbolo da intemporalidade da mesma. 
A opinião pública, reflectindo a abundância em que vive a grande maioria da população, tem instado o Edil a aumentar os impostos autárquicos e a investir, ainda mais, no património artístico contemporâneo.

Outro exemplo é a já citada instalação temporária em que a reconstrução do cinema se transformou: bem podem os contabilistas da Câmara explicar o custo desmedido que "atrasos" deste género acarretam às contas públicas -- em Santo Tirso a democracia faz acontecer o que a população exige: a Arte!
A Arte sobrepondo-se à economia
Ainda um outro exemplo é o anunciado projecto de Arquitectura para o Museu Abade Pedrosa. A intenção da Câmara era entregá-lo aos seus arquitectos mas a população exigiu que ela contratasse os dois portugueses mais conhecidos internacionalmente, ambos vencedores de um Prémio Pritzker. E, nesta autarquia, a Democracia directa funciona: o que se faz é a conclusão de um debate cívico exaustivo e bem informado. É, de certa forma, o retomar dos métodos do SAAL: o projecto poderá demorar mas terá, certamente, a mão de todos os tirsenses, será aquele que o povo exige: será uma obra de Arte!


Santo Tirso é dos poucos Concelhos que compreendeu que a Democracia moderna só pode funcionar se houver um rigoroso escrutínio popular das contas públicas. Na Suécia, por exemplo, também não há dívida pública ou de Estado e também se trata de uma excepção, entre os países da Europa. Mas a Suécia é um país protestante, é gente dada a fazer contas, a escolher muito bem quais são as despesas que têm prioridade! O mérito de Santo Tirso é que isso se passa num Concelho com uma cultura claramente católica! 
Afinal, quando os políticos eleitos cumprem o seu dever de apresentar, transparentemente, as contas públicas, pode haver, no Sul da Europa, democracia e abundância!