O velho ditador mantinha uma relação cerimoniosa com a oligarquia financeira que representava mas representava-se a si mesmo, em última análise: "sei o que quero e para onde vou", disse.
Os actuais representantes da oligarquia financeira, como estamos em "democracia", representam, em última análise, aqueles que os escolheram (não, não somos nós, os eleitores). Esse grupo de "escolhedores" ganhou a sua posição por conseguir votos ou financiamentos para o seu partido; são normalmente pessoas "simpáticas", inteligentes, bem falantes e bem apessoadas e com outras qualidades que os fizeram ir subindo nos quadros do seu partido. Por vezes são capazes de ter a sua visão estratégica para o país; aquilo de que nunca podem ser capazes -- se o fossem não teriam chegado ou seriam afastados -- é de pôr as suas ideias à frente dos interesses do seu partido, ou seja, à frente dos interesses do seu grupo de "escolhedores": sabem o que querem e para onde vão.Enquanto o ditador queria, "apenas", satisfazer o seu vício de poder, impor a sua ideologia à custa da nossa dignidade e liberdade, esta oligarquia quer, "apenas" (muitos!) cargos muito bem remunerados, com direito a viajar extensível à família, com despesas de representação previstas, automóveis, etc -- e com grandes reformas precoces, onde, por vezes, se inclui o conforto do uso-fruto de "agradecimentos", recebidos por debaixo da mesa; e é para esses cargos que vai.
Os seus eleitos -- que não são nossos! -- esforçam-se como podem para os colocar em empresas públicas, nas Câmaras, nos Hospitais, nas parcerias público-privadas e mesmo nas empresas em que o Estado é accionista, como a Caixa Geral dos Depósitos, a PT ou a EDP: em tudo em que o Estado tenha influência. É claro que nesse esforço se inclui o esforço por arranjar financiamento para o Estado português, de quem dependem, tanto que os credores começaram a fazer-se caros e chegámos a uma situação em que vale tudo para os acalmar, para que o Estado possa continuar a receber emprestados os biliões anuais a que se acostumou.
É neste quadro que se pode entender este recente ataque à autonomia das Universidades. O governo não está apenas a ajudar as universidades privadas, como tem feito com os colégios ou com as clínicas. Está a criar cargos apetecíveis para dar aos que o escolheram, aos "escolhedores".
As Universidades públicas estão num período criativo, produzem conhecimento e dão valiosa ajuda à produtividade de empresas inovadoras, crescem apesar de a contribuição do Estado ir diminuindo... -- Para que precisam elas de alguns burocratas (caros!) para as gerir, os quais, ao acabarem com a autonomia da gestão actual, seguramente acabarão com o que de interessante se tem passado? Trata-se de um disparate económico, se o país (e o seu futuro) for o objectivo.
Mas não é. É neste quadro que se pode entender este recente ataque à autonomia das Universidades. O governo não está apenas a ajudar as universidades privadas, como tem feito com os colégios ou com as clínicas. Está a criar cargos apetecíveis para dar aos que o escolheram, aos "escolhedores".
As Universidades públicas estão num período criativo, produzem conhecimento e dão valiosa ajuda à produtividade de empresas inovadoras, crescem apesar de a contribuição do Estado ir diminuindo... -- Para que precisam elas de alguns burocratas (caros!) para as gerir, os quais, ao acabarem com a autonomia da gestão actual, seguramente acabarão com o que de interessante se tem passado? Trata-se de um disparate económico, se o país (e o seu futuro) for o objectivo.
O objectivo neo-liberal que o partido no governo apregoa aplaudiria a criação de riqueza que as Universidades fazem. Condenaria a interferência do Estado nas mesmas.
Mas os nossos governantes, além de representarem a oligarquia financeira (nacional e internacional) e o seu gosto pelo neo-liberalismo, representam o grupo dos seus "escolhedores": o objectivo, consistentemente perseguido pelos governantes que temos tido nos últimos 20 anos, é o de criar lugares apetecíveis para os seus políticos. O neo-liberalismo assumido não passa da sua última aposta de marketing -- tinham que fingir que havia mudança: a vontade de mudança era o que as sondagens indicavam. Mesmo tratando-se de apresentar como nova uma doutrina que caiu em descrédito, com estrondo, em 2008, com a bolsa e com George Bush. E que não era mudança, no fundo, porque, encapotadamente, já era a directriz do governo anterior: o neo-liberalismo, embora com cargos e segurança social de luxo para os que representam, no Estado, o verdadeiro poder, que é a oligarquia financeira, nacional e internacional.
Assim como a Universidade se adaptou ao tempo de Salazar, assim terá que convidar -- mesmo para ensinar! -- pessoas gratas ao regime, pessoas que trabalharam nas juventudes partidárias e singraram na carreira. Universidades medíocres num país de gente pobre: já vi isso, há quem se lembre!
A custo, intoxicado de desinformação, mais ano menos ano o povo reiniciará a Democracia, nas universidades, nas autarquias -- em todo o país. Uma Democracia imune à doença de que a actual padece: a de ter tanto de democracia como tinha a "democracia orgânica", nome que Salazar, depois da guerra, deu ao Salazarismo. Será uma democracia real!
Fá-la-emos a tempo de sermos um exemplo pacífico para os outros Estados, a braços, como nós, com democracias doentes, com o problema de ver os seus eleitos a defender, encarniçadamente, a oligarquia financeira que representam, em vez de representar os cidadãos?
É minha esperança que sim :-)
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| Em Jaraguá do Sul, irmãos na desgraça! |














