quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Estacionamento

Um simpático leitor pediu-me que escrevesse mais neste blog. Este é um lugar onde quem quiser pode escrever, basta enviar-me um e-mail.
Acredito, como os "Pais Fundadores" da democracia americana, no papel central da imprensa livre no melhoramento da sociedade; se cada cidadão expressar os assuntos que lhe surgem e o poder político lhe responder (em vez de o tentar calar!) há lucro.
Aqui vai um pequeno assunto: sei que, quando o nosso mais reputado urbanista, Nuno Portas, projectou (vai para 30 anos!) a circulação pedonal e automóvel da, então, vila de Santo Tirso se preocupou em aumentar a área destinada aos peões, alargou os passeios e fê-los entrar pelos espaços triangulares de alguns encontros de estradas, como a Praça Conde S. Bento, melhorando o usofruto do espaço público; a alternativa, "mais antiquada", seria a de criar rotundas que são espaços inacessíveis, na prática, aos peões. Na altura os automobilistas queixaram-se das vias mais estreitas, da perda de estacionamento; embora o peão tenha sido claramente privilegiado, no desenho, deixaram-se umas baías nos passeios destinadas a estacionamento breve -- alguém que vai comprar qualquer coisa, por exemplo, a salvaguarda do comércio tradicional é uma das preocupações urbanas. Foi assim que ficou uma baía de estacionamento encastrada no largo passeio em frente ao parque onde há uma antiga loja de produtos para consertos domésticos e onde eram os bombeiros amarelos. Estava toda desocupada de carros quando aí estacionei para comprar uns metros de plástico que salvassem uma madeira de ser molhada pela chuva que começara. Mal entrara disseram-me que um polícia estava a anotar a matrícula da minha carrinha e fui-lhe dizer que se tratava de um estacionamento breve. Informou-me que estacionara num espaço privativo dos bombeiros amarelos e, enquanto eu me sentava ao volante imaginando um carro de bombeiros a ser obrigado a parar em segunda fila por minha causa, ele continuou a escrever. Lembrei-me que a sede dos bombeiros tinha saído dali há muito mas, antes que eu falasse já a autoridade me tinha pedido os documentos todos. 
Ficámos ali o tempo suficiente para a chuva apagar qualquer incêndio. Os cofres públicos lucraram, eu perdi mas também o funcionamento do pequeno comércio perde com esta valorização da burocracia: lei é lei, claro que eu deveria ter notado algum sinal que não vi --embora isto não passe de um regulamento, modificável com vantagem para o funcionamento da cidade. Creio que uma das funções da Polícia Municipal é a de velar pelo fluir do tráfego, pedir aos carros estacionados em segunda fila que avancem e não perder tempo com os que estão bem estacionados: ainda caberiam um ou dois carros de bombeiros naquela baía --mas já lá não param, o regulamento está desactualizado... Saberia o urbanista que estava a criar uma fonte de rendimento para os cofres públicos, uma ratoeira para automobilistas incautos? --Pelo contrário, o plano foi feito a pensar nos peões e nos automobilistas, nos cidadãos!

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