quarta-feira, 12 de maio de 2010

Autoritas

    O equilíbrio dinâmico talvez seja o que melhor define a vida. A morte tem sempre a ver com a perda desse equilíbrio. Se, ao caminhar, tropeçarmos em qualquer coisa, a reacção para repor o equilíbrio tem que ser imediata. Se, distraídos, preguiçosos ou atrofiados pelo excesso de descanso, demorarmos a repor o equilíbrio, caímos! As doenças, da mesma forma, exigem rapidez no diagnóstico, na remoção da causa e no tratamento. Esta analogia, aplicada às sociedades, pede que sejamos céleres no diagnóstico do desequilíbrio e da sua causa, na sua remoção e no seu tratamento.
    Dir-nos-ão que as sociedades não morrem, entram em agonia e transformam-se noutras, suas filhas. Isso é parecido com dizermos que não morremos se deixarmos filhos!
    A nossa democracia está doente, até aí é claro; a causa ainda não está claramente diagnosticada, porém. Os nossos representantes não souberam gerir os recursos disponíveis, seriam os causadores, temos que os remover. Porém foram democraticamente eleitos, ao removê-los não estaremos a fazer algo de parecido com remover o cérebro de um drogado, para que se não drogue mais? Perdoem-me os cirurgiões mas a cirurgia é um recurso da medicina, elegante seria repor o bom funcionamento do cérebro doente sem recorrer à violência.
    Assistimos, há uns dias, a uma notícia pouco noticiada, desatentamente ouvida: o chefe do governo foi a Bruxelas onde os credores lhe explicaram que deixariam Portugal cair no colapso financeiro se ele não controlasse o vício antigo de fazer obras monumentais, se não parasse imediatamente os seus megalómanos projectos.
    Paremos um pouco para pensar. Se um doente com febre tomar aspirina fica sem febre -- mas falta tratar o que causou a febre, o que continuará a causar desequilíbrios se removermos a febre, a qual até faz parte do processo natural de o organismo recuperar o seu equilíbrio.
    Este governante viciado em betão armado não passa de um sintoma. Ele é, em democracia, o produto de um povo viciado em betão armado; esse povo elegerá outro desenhador de casas feito empreiteiro se não se curar a si mesmo, povo, do seu vício, da sua admiração incondicional  por quem "deixa obra feita".
    Temos que ir à origem deste vício. Nos anos 60 os portugueses emigraram em massa para a Europa porque viviam na miséria, em casas sem chaminé nem quarto de banho. Amealharam, voltaram, fizeram casas com vistosas chaminés e o seu esforço foi invejado pelos que tinham ficado.
    Os melhores de nós sempre emigraram, lembremos o padre António Vieira, por exemplo. Os que ficámos somos aqueles que se acobardaram face à Inquisição, os que batemos palmas aos governantes oportunistas e corruptos, deslumbrados pelo espectáculo do poder, que, em vez de criticar, invejamos.
    O fim do mês trár-nos-á a Liberdade. Que faremos com ela? Aproveitaremos para nos libertarmos dos nossos vícios antigos ou para os "satisfazer"?
Em democracia somos nós quem governa Portugal. Assim como fizermos assim será o futuro do "rosto" da Europa.
    A única autoridade que reconheço é a da verdade. Não pertence a ninguém, é! ... mas cuidado com o que parece, pode ser ou não ser!

12 comentários:

  1. burro que não gosta de palha13 de maio de 2010 às 14:10

    Claro que percebo o que quer dizer e acho que é palha, como de costume... mas olhe que mais ninguém percebe, não sei se percebeu?
    É um rascunho, acho melhor rescrever, pode ser que tenha algum grão pelo meio!

    ResponderEliminar
  2. Sinceramente, é preciso ter pachorra para aturar comentários destes. Se ao menos soubesse comentar...Quem não sabe como se escreve reescrever, é melhor ler um pouco mais para aprender. Quanto ao artigo, meu caro amigo José Miranda, parabéns. Li-o com muito prazer e gostei da reflexão. Acabei por reflectir consigo, também, no que é necessário ser reflectido. Abraço do Francisco.

    ResponderEliminar
  3. Obrigado, Francisco, pelo seu simpático comentário. Mas tenho que dar razão ao nosso amigo burro: este "post" foi escrito "ao correr da pena" e houve pelo menos uma leitora amiga (muito mais letrada que eu!) que me disse que o não tinha percebido! Comecei com o título "Autoritas" sem sequer ir verificar se, de facto, é a palavra latina para autoridade. Pretendia dizer que a autoridade não está nas pessoas mas nas ideias. A Economia não é uma ciência como a física, por exemplo, e a verdade económica é sempre polémica. Não podemos provar que fazer o TGV seja um disparate, temos, porém, factos como o citado hoje no Público pelo ex-ministro Luis Campos e Cunha que, referindo-se ao programa aprovado em Bruxelas no Domingo passado, diz que "Portugal ficou um quase-protectorado alemão" e que "só foi pena não ter vindo mais cedo, evitar-se-ia o TGV de Madrid ao Poceirão": o governo meteu água com as suas obras megalómanas, esta é a verdade possível! Não é a Alemanha quem tem autoridade sobre nós: é a verdade de nos termos endividado para lá do aceitável. E eu reconheço autoridade à verdade. O burro percebeu que escrevi à pressa, é verdade, logo reconheço-lhe autoridade para dizer palavras desagradáveis;-)
    Quanto ao burro, se não percebeu leia outra vez: eu quis dizer que nos deixemos de mandar a nossa responsabilidade pelo que se passa em Portugal para fora de nós, portugueses: Portugal é assunto nosso, temos que sofrer as consequências dos nossos disparates e evitar fazer mais!

    ResponderEliminar
  4. «...temos que sofrer as consequências dos nossos disparates e evitar fazer mais!» Peço desculpa mas pergunto que disparate é que eu fiz? E pergunto que disparate é que o meu amigo fez? E pergunto que disparate fizeram os pensionistas e os reformados e os assalariados e os desempregados à força e... Enfim, que disparate fizeram os portugueses que não governam nem estão no governo? Só se fizeram o disparate de votar... Ah, só se fazem um disparate ao votar... É isso. Nunca mais aprendemos a votar. Saudações tripeiras do Francisco.

    ResponderEliminar
  5. Obrigado, Francisco, por comentar. Os tempos pedem mais de nós que apenas votar. Salvo raras excepções (leia Rui Tavares, hoje, na contra-capa do Público), os nossos deputados eleitos limitam-se a pensar o que lhes mandam. Se os partidos conseguirem perceber a opinião pública e encontrar outra forma de escolher os deputados que nos propõem poderão evitar a tragédia que é, sempre, um golpe de Estado. Mas eu quis dizer que a opinião pública portuguesa não cuidou de pressionar aqueles que elegeu; mais quis dizer que não cuidou de que aparecessem, a votos, pessoas que pensem; de facto votou em imagens, em "outdoors", em palavras que soaram bem num minuto televisivo; não reflectiu. Eu não duvido, somos responsáveis.
    Os eleitos poderiam ter regulamentado, controlado, o sistema financeiro. Até os americanos elegeram o Obama, mexeram-se; pode ser que tenham salvo a sua democracia. E nós? Ela está em risco, simplesmente, na Europa. Se é que existe, se é que quem governa não é apenas a alta finança!

    ResponderEliminar
  6. Não sou da opinião do blogger , José António Miranda.
    Não concordo que os portugueses votem em imagens, em "outdoors" ou em palavras que soaram bem num minuto televisivo.
    Acredito mais que, uma parte dos portugueses, votem no seu “clube” e a outra votem na forma negativa (contra quem não gostam).
    A cultura portuguesa, desde que a democracia foi instituída, é esta. Votar nos “clubes” independentemente do seu regente ou noutro para que aqueles que não gostamos sejam eleitos.
    Com esta cultura, por arrasto, os nossos políticos são figuras convidadas, pelo promotor da regência, em função da sua da obediência cujo objectivo é protegê-lo para reinar ao seu belo prazer.
    Não é por acaso que temos e tivemos casos como; Aeroporto de Macau, Freeport, Submarinos, entre outros, agora acrescidos com casos dos prémios chorudos dos gestores de empresas, criadas com os dinheiros públicos, que possuem o monopólio de serviços.
    Não é por acaso que temos o P.G.R que temos.
    A diferença entre o P.G.R e outro qualquer político é, na hora de defender o seu patrono, a visibilidade.
    A nossa democracia está podre e a saque, com um governo a fomentar a corrupção, combatendo assim as assimetrias dos vencimentos e prémios auferidos por alguns políticos que, por falta de capacidade ou de espaço não são colocados na máquina dos vencimentos lícitos.
    É esta a nossa democracia e para lá chegar é necessário o “convite” e só o tem, quem, durante a “formação”, demonstrou ser fiel e defensor da regência.

    ResponderEliminar
  7. Esse fenómeno clubístico é visível. Já não vejo diferenças significativas entre os partidos que se alternam no poder e essa alternância depende dos eleitores menos clubísticos, que escolhem ora um, ora outro desses dois partidos semelhantes para nos governar. Obrigado por comentar.

    ResponderEliminar
  8. Fizemos disparates em votar neste governo,e, fizemos disparates em não fazer uma revolução.Estes clubes não são iguais.Este governa para política e para as suas obras de betão e o outro governa para o povo e País.

    ResponderEliminar
  9. Caro amigo, João António Miranda.
    Não há dúvidas nenhumas que, quando o assunto é “Santo Tirso” a participação é outra. É muito maior.
    Efectivamente é “Santo Tirso” que os tirsenses querem que se ponha em "cima da mesa".

    ResponderEliminar
  10. burro que não gosta de palha18 de maio de 2010 às 09:35

    Lá por sermos tirsenses não deixamos de ser portugueses. Se a revolta que ao vem não trouxer um melhoramento da nossa democracia pode trazer o seu abandono. O perigo, para os democratas, é visível, não é palha, é assunto a que os tirsenses se não podem furtar.
    Cobriram-se as perdas dos especuladores do BPN e agora vai-se aumentar o pão. É para continuar por este caminho?

    ResponderEliminar
  11. Não disse nada disso.
    O que disse é que os temas sobre Santo Tirso têm mais comparticipação que qualquer outro.
    Quanto a este, eu já me prenunciei. Prenunciei-me antes de Pacheco Pereira fazer o discurso que fez, depois de ler as certidões das escutas.
    Nesse discurso, Pacheco Pereira, peca por não ir mais longe. Responsabilizar quem mandou destruir as provas.
    Quanto ao perigo, para os democratas, não estou a ver qual, dado que a democracia em Portugal é adjectivo de um determinado grupo restrito.
    Se não acredita espere para ver a reacção dos nossos democratas às declarações do Prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, que considera que, a solução para os desequilíbrios na Zona Euro passa por uma descida entre 20% e 30% dos salários relativamente aos da Alemanha. Isto quer dizer que, aqueles, os únicos e verdadeiros democratas!!!!, que ganham 20, 25, 30 % e mais que o seu homólogo Alemão, terá uma redução salarial acima dos 50%. Você acredita que com estes democratas!!!! isso seja possível?
    Mas não se preocupe, porque a tese vai ser defendida pelos únicos e verdadeiros democratas!!! portugueses. Aproveitando o discurso de Paul Krugman, os democratas!!! vão propôr e discutir para reduzir o seu, o meu e o salário de todos aqueles que ganham 50% do salário dos nossos homólogos Alemães.
    Depois de toda esta discussão, haverá novas eleições e a vitória sorrirá novamente ao mesmo democrata!!!!

    ResponderEliminar
  12. São estas as medidas!E Portugal é menos desenvolvido do que a Alemanha e a Espanha.

    ResponderEliminar