sexta-feira, 28 de maio de 2010

Intervalo

Em 14 Abril de 1929, uns meses antes do início da grande depressão, num tempo idêntico ao nosso, o "Notícias Ilustrado"(nº 44) publicou a resposta de Fernando Pessoa a um inquérito que andava a fazer sobre o FADO:

Toda a poesia-- e a canção é uma poesia ajudada--reflete o que a alma não tem. Porisso a canção dos povos tristes é alegre, e a canção dos povos alegres é triste.
O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.
As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e que também o abandonou.
No fado os deuses regressam, legítimos e longínquos. E, esse o segundo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.


É sabido como Salazar, "o velho abutre", aproveitou o fado, "o cansaço da alma forte", para a enfraquecer, a quase escravizar. Mas o fado não tem ideologia! Haverá fados de direita e outros de esquerda, para os seus ouvintes, mas o fado "é um episódio de intervalo". E as canções não têm dono!
Aqui fica a Mariza a cantar um poema de Pessoa:



Há uma música do povo, 
Nem sei dizer se é um fado 
Que ouvindo-a há um ritmo novo 
No ser que tenho guardado... 


Ouvindo-a sou quem seria 
Se desejar fosse ser... 
É uma simples melodia 
Das que se aprendem a viver... 


E ouço-a embalado e sozinho... 
É isso mesmo que eu quis ... 
Perdi a fé e o caminho... 
Quem não fui é que é feliz. 


Mas é tão consoladora 
A vaga e triste canção ... 
Que a minha alma já não chora 
Nem eu tenho coração ... 


Sou uma emoção estrangeira, 
Um erro de sonho ido... 
Canto de qualquer maneira 
E acabo com um sentido!

7 comentários:

  1. burro que não gosta de palha28 de maio de 2010 às 07:54

    Um poema cantado, ok!
    Mas não resiste a dar-nos palha, também: quem é que não sabe que a poesia e a música não têm ideologia? Acha que ainda há neo-realistas? Ou salazaristas? Palha! Molhada.

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  2. com actual cenário de crise, a palha acabou, portanto vamos ter que comer o burro.....

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  3. Eu sei que o tema “Intervalo” nada tem a ver com isto. Mas não resisto a este tema. A esta democracia. A esta corrupção.
    “….O presidente do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) foi afastado do cargo pelo Ministério do Ambiente por ter anulado um concurso para a vaga de um cargo no Instituto em que o seu genro tinha chumbado na primeira fase.
    Depois de ter sido destituído da administração do Taguspark, Nuno Vasconcelos foi nomeado em 2007 para o IHRU.E agora onde será colocado? ….”

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  4. burro que não gosta de palha1 de junho de 2010 às 11:15

    Essas informações interessam. Mas, para serem informação, precisam de ser comprováveis, de sabermos a fonte. E não percebi porque saíu o sugeito do Taguspark, por ser honesto ou por não ser? Ou nada disso?
    "Oh Portugal! Hoje és nevoeiro. É a hora!"
    O intervalo (de 400 anos) deve estar perto do fim.

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  5. Destituído, meu amigo. Destituido

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  6. Triste fado é o nosso! ai,ai burrito,se ao menos vencesse o festival da eurovisão.E o Mundial de futebol.Ups!Um dia vai ser destituído.

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  7. Acho graça às coincidencias. Quando escrevi este "post" não me lembrei disso nem sabia que era agora uma sessão de fados que a Junta de Freguesia de Santa Cristina costuma organizar. É hoje.
    Telefonou-me o dono da casa que cede o terreiro para o evento, a lembrar. No terreiro da casa de Deniz, rua major de deniz, à esquerda quem desce da rotunda Timor Leste, pelas 9 da noite. Imagino que a organização ponha entraves à entrada quando o terreiro estiver cheio mas não hão de ser grandes entraves: é uma casa liberal:-)
    até os miguelistas podem entrar, hoje!
    (e há fadistas que ainda o são lol)

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