segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O pântano

 Cada um de nós tem uma maneira única de ver o mundo que o rodeia, a natureza, as pessoas, o sentido que as coisas que vê possam fazer.
Uma sociedade que aproveite todos estes pontos de vista será necessariamente mais rica, mais complexa, estará mais perto da verdade, que é a totalidade dos pontos de vista, que uma sociedade em que um só, ou uns poucos, impõem a todos a sua visão.
A sociedade que integra todos os seus membros é mais íntegra, mais saudável, que aquela que exclui partes de si mesma. O mesmo se passa com cada um de nós.

Podemos entender isto mas a todos nos parece, naturalmente, que, se os outros conseguissem ver o mundo pelos nossos olhos, tudo correria melhor. A alguns de nós acontece acreditar que seja legítimo obrigar os outros a isso. Esta seria a origem da violência: a visão estreita, a não-aceitação da diferença, a negação de partes do todo, a desintegração.

O caminho da integração deve ser o diálogo, a aceitação do outro como igual e o trabalho de juntar pontos de vista numa visão cada vez mais ampla. Pede-nos o paradoxo de ser seguros do nosso ponto de vista, de ser claros e sinceros, e, ao mesmo tempo, humildes para aceitar outros pontos de vista, igualmente legítimos, claros e sinceros. De um diálogo bem sucedido deve resultar, para todos, uma visão mais ampla, mais verdadeira.

Tivemos um primeiro-ministro que teve a coragem de defender o diálogo, de o pedir: o eng. Guterres. Os seus colaboradores tomaram-no por um dirigente fraco e, cobardemente, oportunistamente, mentiram-lhe, impuseram os seus pontos de vista (outros diriam os seus interesses enquanto grupo em posição de conquistar privilégios).
Apanhado entre a sua lealdade ao seu partido e a sua lealdade à democracia o engenheiro demitiu-se, dizendo-nos que nos encontrávamos num pântano. Um pântano é um lugar hostil à vida, um lugar onde é penoso e perigoso caminhar, um lugar onde não é possível construir, um lugar de onde é preciso sair.
Não soubemos sair do pântano. Institucionalizámo-lo. Continuámos a chafurdar e, agora, o risco de nos afogarmos é real, estamos em perigo.

Drenar o pântano. Trabalho grandioso, que exige organização, visão, persistência, um plano claro e bem pensado (bem dialogado!). Trabalho que só pode ser feito pelos portugueses que no pântano se não deixaram prender. Trabalho que salvará os presos e permitirá a sua integração na sociedade futura. Mas, muito claramente, trabalho que não pode ser feito por quem precisa de ser salvo.

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