domingo, 27 de fevereiro de 2011

Tempos de mudança: o 12 de Março

 Tenho escrito aqui a minha convicção de que há eras históricas de 250 anos e de que estamos no fim da era da revolução industrial: dentro de uma dúzia de anos estaremos numa nova era.

Esta, que ora finda, caracterizou-se pela libertação do poder do Rei e da aristocracia. Criou uma nova estrutura social, abriu anunciando a convicção iluminista de que “todos os homens nascem livres e iguais em direitos”. Partilho essa convicção mas, 250 anos depois, vemos que as repúblicas, que institucionalizaram Estados ditos democráticos e criados com esse propósito, apenas “libertaram” uma parte de povo, a burguesia, e que, com o tempo, o sistema monetário que criaram asfixia a maior parte dessa burguesia, já não falando dos trabalhadores assalariados.
A análise marxista, que mostrou haver uma contradição entre os interesses de quem tem dinheiro para investir— o capital— e os de quem tem apenas o seu trabalho para vender, chegou muito antes deste tempo, do fim da era que ora acaba. Levou a revoluções voluntaristas, não espontâneas mas manipuladas, que criaram sociedades não mais democráticas que as das nossas repúblicas, embora diferentes e, em muitos aspectos, experiências históricas interessantes. É assim que o Leste da Europa ainda conserva um nível de instrução superior ao nosso e foi assim que a China se libertou da fome e se aproxima do nosso nível de vida. Mas não criaram a igualdade nem trouxeram a liberdade— foram um caminho diferente para aqui, para o amanhecer da nova era.

Para quem imagina, como eu, que estamos em tempos de mudança estrutural, o cume do poder, o sistema monetário internacional, cairá. Ele nasceu com a era da revolução industrial e chegou ao fim: é-nos difícil imaginar o mundo sem ele, porém! Sabemos que o grande capital internacional já não é monopólio do Ocidente: famílias árabes, oligarquias chinesas e russas, países “emergentes”, partilham-no, o sistema já mudou de mãos e continua nesse sentido.

Se considerarmos o Estado Moderno como uma criação da revolução industrial para garantir as liberdades, a era que aí vem terá outra estrutura com o mesmo propósito, alargado: as liberdades de todos. Os Direitos Humanos são do interesse real das pessoas, não são apenas uma criação cultural ocidental. A conclusão lógica, até vendo o falhanço da maioria dos Estados em defendê-los, é a de que serão defendidos por organizações internacionais: não está o mundo a aceitar a hipótese de a ONU intervir na Líbia, se Kadafi não desistir de os violar?

Para a minha geração, que conheceu o tempo de Salazar e participou na criação do actual regime— uma simples actualização de um Estado Moderno que nos garantisse as liberdades— o receio dos regimes autoritários, do retorno do medo, da censura, é natural, assim como é natural que alertemos os mais novos para esse perigo. As soluções só serão soluções se trouxerem mais liberdade, mais respeito pelos direitos humanos, pela dignidade humana. Um dos erros do nosso actual regime (que vai cair!) foi o de ter proibido a existência de partidos fascistas. Isso aconteceu naturalmente, esses partidos estavam ligados à criação de um exército, o ELP, na Espanha franquista, o qual pretendia fazer uma guerra civil. Porém, ao serem proibidos, ganharam uma força moral, um direito a criticar a democraticidade deste regime que, agora, face à sua decadência, à sua transformação numa oligarquia de oportunistas, é perigoso. Veja-se como cavalgaram a manifestação da geração “àrrasca”, marcada, no Facebook, para 12 de Março.
Os fascistas são uma minoria que deve ter o direito a existir à luz do dia, de uma forma organizada; a democracia é inclusiva, deve integrá-los. A crítica que fazem, neste momento, à corrupção e ao nepotismo, é válida; oxalá percebam que ninguém quer perder a liberdade!

O que vemos nas manifestações do Norte de África são pessoas felizes por conquistarem a sua dignidade: liberdade e responsabilidade, bem claras no acto, tão simbólico, dos egípcios a varrerem a praça onde se manifestaram. O grande instrumento para defender essa conquista é este, onde estamos, leitor: o Internet, a teia do tamanho do mundo. Aqui imagino que poderemos criar uma espécie de democracia directa, como defendi em artigo no "Notícias de Santo Tirso" e aqui poderemos criar os mecanismos que nos protejam dos autoritarismos, das oligarquias que sempre nasceram de todas as revoluções.

Pela democracia, pelo fim da oligarquia, todos na rua no dia 12 de Março, na Praça da Batalha, no Porto (15:00 horas) e na Avenida da Liberdade, em Lisboa! Pode ser um passo importante para a nova era.

2 comentários:

  1. Eu não acredito! Ainda ninguém comentou este extraordinário artigo? Por incrível que pareça, ninguém mesmo. A minha crítica recai, portanto, sobre a falta de críticas. E a única crítica que tenho a fazer a este artigo é que não me canso de o ler. Tem, para mim, uma pertinência, uma actualidade e um rigor extraordinários. Parabéns, meu caro.

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  2. Pode ser que, futuramente, as Nacoes Unidas saibam defender os Direitos Humanos. Para já os Libios continuam a morrer pela liberdade. A opinião publica internacional nao tem força, assiste no sofá, comenta na internet...

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