Se um campónio vier dizer que o melhor é não ter dívidas e se, com a sua aritmética da quarta classe, calcular quanto é que o município (os munícipes!) terá que pagar, em juros anuais, ao banco que lhe emprestou o dinheiro, os provincianos que nos governam chamam-lhe provinciano, criatura retrógrada que nada percebe de economia contemporânea. Quer dizer: chamavam, é possível que tenham perdido, recentemente, alguma da sua sobranceria.
A nossa cultura popular é um modelo para entendermos a realidade e o facto de a nossa industrialização ser muito recente – e incipiente! – aconselha-nos a não a abandonarmos de ânimo leve. Eram bem conhecidos – e muito mal vistos – uns sujeitos que emprestavam dinheiro aos lavradores e acabavam por lhes ficar com a quinta, porque eles não conseguiam pagar os juros; ouvi essas histórias na infância, assim como me lembro de ouvir dizer que, nos anos vinte, na Alemanha, as pessoas iam á mercearia com uma mala de notas, as coisas custavam centenas de milhares de marcos. Essa história está na memoria colectiva dos alemães, faz parte da sua cultura, da sua experiência como povo. E é essa história que os faz temer o fabrico de euros pelo Banco Central Europeu, a única solução para a nossa moeda, que aguentaria alguma desvalorização.
Não interessa culpar os responsáveis pelo buraco em que nos metemos: na verdade não soubémos resistir aos slogans e aos cartazes, às bonitas palavras e ao resto do marketing: somos os responsáveis últimos, em democracia!
Se quisermos ser independents teremos que conseguir pagar as centenas de milhares de milhões de euros que devemos – o que é manifestamente impossível!
Um blog é um espaço de liberdade de expressão, vou dizer onde a lógica me leva: o Banco de Portugal poderia fabricar escudos. O novo escudo custaria 50 centimos de euro, por exemplo, e todos os bancos, empresas, pessoas, veriam, por lei, os seus euros confiscados e substituídos por Novos Escudos.
O Banco de Portugal, com esses euros, trataria de pagar a dívida, de a comprar. Teríamos que estar preparados para uma economia interna de subsistência mas continuaríamos senhores das águas, da REN, da CGD, da PT, etc e a agricultura desenvolver-se-ia imenso. Deixaríamos de ter que pagar juros. Passados uns anos proporíamos a adesão ao euro, de novo, se isso nos conviesse. Seríamos um país sem dívidas, "apto".
Esta loucura seria menos louca que o abismo para que caminhamos: vamos vender tudo, enquanto a nossa economia regride e trabalhamos para pagar juros. Daqui a uns anos ninguém nos quererá no euro, se ele ainda existir!
E acontecer-nos-á refazer o escudo – só que em piores circunstâncias e sem nos termos libertado da dívida, que será imensa.
A atitude actual dos bem pensantes é bem mais louca que a proposta acima. Consiste em esperar que os alemães se decidam a fazer do euro uma moeda normal, desvalorizável. Nada indica que se decidam a tempo, pelo contrario!
Tivémos a audácia de votar neles, oxalá não sejamos suficientemente corajosos para persistir. Ao que parece a inteligência consiste em aprender com os erros: o orçamento para 2012 tem cerca de dez mil milhões de euros, nas “receitas”, provenientes de empréstimos. Que é que aprendemos?
E porque não aderirmos ao Mercosul?
ResponderEliminarE porque não substituirmos o Euro pelo Real brasileiro?
Mais tarde, Angola e Moçambique...
Podemos começar por aderir ao Escudo, que ainda existe em Cabo Verde!
ResponderEliminarO que não pode ser caminho é esta subserviência, esta lorpice de vender empresas estruturais ao preço da chuva e sem resolver coisa que se veja.
Tem razão. Se a nossa pátria for a língua portuguesa temos dimensão para jogar no mundo que aí vem.
Mas -- a estética primeiro -- se a Europa quiser existir, se quiser ser o que sonhou ser, não a abandonaremos, seremos a ponte com a lusofonia, criaremos civilização em conjunto. Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Concordo.
ResponderEliminarCom toda esta situação apenas nos estamos a pôr debaixo dos pés deles e a pedir que nos pisem...
Estamos aqui estamos a pagar pelo ar que respiramos para pagar a divida...
Obrigado pelo comentário:-)
ResponderEliminarNesta altura do campeonato, a indignação faz sentido!
Somos os 99%!
Tal como aconteceu com a Alemanha no pós-guerra, deveríamos ter o juro da dívida indexado ao nosso crescimento económico.
ResponderEliminarIsso mudaria muita coisa...
Para que houvesse quem nos emprestasse a esse juro -- o nosso crescimento é negativo! -- seria preciso que o Banco Central Europeu se responsbilizasse: que o euro fosse, de facto, a nossa moeda! Mas é o marco com outro nome e os alemães incomodam-se, com razão, com a leviandade com que criámos dívida, desde o tempo em que "o professor", nos anos 80, conseguiu dobrar a dívida num ano, além de privatizar imensa coisa!
ResponderEliminarmuito pertinente, vou partilhar!
ResponderEliminarbjs
E eu que pensava estar a ser impertinente;-)
ResponderEliminarBjs,caro Anónimo!