segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"Pranto pelo dia de hoje"

Este poema, escrito nos anos 60 do século passado, durante a tirania de Salazar, faz, de novo, sentido:

   Pranto pelo dia de hoje

       Nunca choraremos bastante quando vemos
       O gesto criador ser impedido
       Nunca choraremos bastante quando vemos
       Que quem ousa lutar é destruído
       Por troças por insídias por venenos
       E por outras maneiras que sabemos
       Tão sábias tão subtis e tão peritas
       Que não podem sequer ser bem descritas.


                                                          Sophia de Mello Breyner Andresen

Nunca a economia teve um lugar tão central na res publica. Em todos os países europeus o poder político se submete ao económico, o qual o manipula investindo em marketing e em "outras maneiras que sabemos / Tão sábias tão subtis e tão peritas / Que não podem sequer ser bem descritas".

Lendo o jornal de hoje, "O Público", insuspeito de ímpetos revolucionários, vemos, na página de Economia (16/17) um artigo (Governo opta por regime que favorece grupos económicos na tributação de dividendos) com um destaque, "Os serviços do IRC queriam agravar a tributação dos grupos mas a sua informação ficou parada dois meses, sem despacho", artigo em que se vê a complexidade da forma como os privilégios se conseguem manter -- e os milhões que os privilegiados gastam em pareceres jurídicos.
Ou os nossos representantes eleitos são competentes para defender o interesse público ou não são. Tudo aponta para uma terceira hipótese: são competentes para defender os interesses privados!
Na página 5 ficámos a saber que a REN (a empresa Redes Energéticas Nacionais) que é dona das linhas de alta tensão, que tanto trabalho e dinheiro custaram ao erário público durante tantos anos e que são uma infra-estrutura cuja falta mexe com a segurança nacional, já só pertence em 51% ao Estado; e que esses 51% vão ser privatizados, prevendo-se que por 700 milhões de euros.
700 milhões de euros! Vale a pena o Estado perder assim a soberania? Vai recuperar com isso os milhares de milhões de euros perdidos a indemnizar os investidores do BPN ou aqueles perdidos nos túneis da Madeira? Que é que isso ajuda a pagar os seis mil milhões que estão no orçamento de 2012 para pagar juros da dívida?
A aflição financeira do Estado é favorável a vender ao público estas vendas absurdas, que noutro tempo, o povo não permitiria.
Perdoe-me o leitor mas são coisas

3 comentários:

  1. "Para que algumas empresas da Europa, nomeadamente da Alemanha e de França pudessem vender os seus equipamentos a um mercado asiático que apenas agora começou a revolução industrial, outros países onde o têxtil era uma tradição ancestral não conseguiram resistir à invasão dos produtos asiáticos"

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  2. Os ditos "mercados" gostam da globalização, que cria situações injustas. Já que não podemos desvalorizar a moeda, temos que ter a coragem de de criar algumas taxas alfandegárias. Para os Porches, por exemplo! Como diz hoje "a Europa", recuperar a soberania política aos "mercados", as pessoas são o fim da economia, e está ao contrário.

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  3. Além disso, a REN e a EDP são empresas rentáveis.
    Porque raio quer o governo abdicar desta estratégica fonte de receitas?
    Porque não fazem um referendo na internet?
    Como anda a popularidade deste governo?
    Ainda vamos dar razão à professia do Otelo: atingido o limite, pega-se nas armas e rua com o governo!

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