segunda-feira, 5 de março de 2012

Política local

O periódico "Notícias de Santo Tirso", a propósito da intervenção do PSD, na última sessão da Assembleia Municipal, pedindo explicações sobre a não concretização do Hospital Privado de Santo Tirso, traz para a primeira página, em letras muito grandes, a pergunta "Onde está o hospital privado?"
Não há artigos, nem jornais, que não tenham, a informar o que escolhem dizer, ou mesmo a sua forma --e tamanho!-- um pensamento, quiçá uma "ideologia", um propósito, pelo menos.
Eu faria a pergunta "Onde está o parque das Rãs?", pergunta que, se tivesse sido feita na Assembleia, não poderia ter tido a resposta de que o contrato tinha sido "resolvido", por incumprimento da outra parte. Aqui a parte que não cumpriu o contrato foi a Câmara, um contrato com as leis do urbanismo da cidade, as quais atribuíram àquela zona uma certa densidade de habitação e, por isso, deixaram aquele terreno para não ser construído... imagino que o que tomei por entulho a ser descarregado lá possa fazer parte, afinal, de uma sofisticada preparação do terreno para uma horta comunitária. Quem sabe se a Câmara, tantos anos depois, dá enfim o assunto por "resolvido" e entrega o terreno aos moradores para estes plantarem os seus legumes? Afinal a pretensão que teve de construir ali uma universidade, anterior a esta de um hospital, foi derrotada por mais do que um tribunal... A Câmara pode ter-se recordado da repetida sentença... Posso ter sido injusto em "posts" anteriores.
Mas, neste, o que quero dizer é que a pergunta do jornalista, "Onde está o hospital privado?", sem mais, deixa no leitor a ideia de que nos conviria um hospital privado, anunciado e não realizado.
Ora, o que nos convém é que o Hospital Conde S. Bento seja público, seja gratuito, eficiente, lesto, acolhedor e que tenha todas as valências necessárias a esses objectivos. Seria nesse sentido que gostaríamos de ver os poderes públicos a "envidar", como dizem, "todos os esforços". Endividar os tirsenses preferindo ajudar as empresas privadas de saúde -- que têm todo o direito a existir, note-se! -- não me parece ser trabalho para eleitos com um programa social-democrata e num país cuja Constituição prevê o direito à saúde.
O assunto da política é melhorar a vida dos cidadãos. Desde que sabemos que os países em que há maior diferença entre os mais altos rendimentos e os mais baixos são aqueles com menos saúde, menor sucesso escolar, maior criminalidade, etc -- sabemos que a política tem a ver com justiça social. E que a saúde pública deve ser o primeiro objectivo da política sabemos desde um célebre estudo da ONU, feito na Dinamarca há bastantes anos: a ONU aconselhou a saúde como o esforço mais importante do Estado, aquele que traz mais depressa o desenvolvimento económico.
Que os nossos partidos sociais-democratas acreditem no monetarismo neo-liberal como caminho para vivermos melhor sugere que a "ciência política" que têm não é o conhecimento científico que se vai atingindo: "ciência política", entre nós, parece ter a ver com a melhor forma de ganhar eleições, com a "ciência" do marketing.

4 comentários:

  1. Neste sentido, enquanto denúncia do marketing, a fotografia de 2008 que o Notícias de Santo Tirso publica, a da assinatura de um protocolo com uma sociedade privada, faz todo o sentido mas precisaria de uma ajuda para se entender, o que não acontece no artigo, nas páginas interiores: estamos em 11 de Setembro de 2008, depois do terramoto financeiro cujas consequências continuarão a empobrecer as nossas sociedades. E o protocolo foi apresentado, como marketing político, a uma autarquia já empobrecida, tanto, que a maioria da sua população não tem acesso à consciência de que não poderia usar esse hospital privado -- simplesmente não teria dinheiro para pagar a conta ou para aguentar o seguro.

    ResponderEliminar
  2. Como disse bastas vezes, o que deveras me incomoda no marketing é ser inestético. É inteligente usar a construção de um hospital privado, inacessível à maior parte da população, para obter apoio político, apoio que se baseia na ignorância de que o contributo da Câmara consiste em desrespeitar o urbanismo, vendendo um terreno que se não destinava a construção. E, por ser inteligente, o marketing é inestético.
    Política que ajude os cidadãos a ser conscientes,

    ResponderEliminar
  3. não a vejo nos partidos social-democratas que nos governam. E gostaria de ver a procura da verdade e gostaria de viver numa social-democracia: como todos os eleitores, tão mal servidos de políticos e de jornais.

    ResponderEliminar
  4. congratulo-o por insistir neste tema, sintomático da decadência do nosso estado de direito

    PSD e PS não se destinguem, na obtusa forma de fazer política, pelo que não admira que os primeiros não tenham sabido colocar a outra pergunta...

    Que se insita!

    Para quendo a devolução do terreno à população, na forma de um parque público, tal como está previsto no PDM?

    ResponderEliminar