Vi, agora, os nossos dois maiores partidos, na Assembleia da República, acusando-se um ao outro de ser responsável pelo estado a que chegámos. Imagino que, se o estado de coisas fosse bom, ambos a si mesmos atribuiriam a responsabilidade disso.
Vamos percebendo a falta de diferenças entre os dois: desde o ano em que o governo do professor Cavaco duplicou a dívida que ela foi crescendo para a situação actual, na qual fazemos empréstimos para lhe pagar os juros e na qual vendemos quase tudo o que nos quiserem comprar (perdão, "privatizámos", acção que nos foi "vendida" nos anos 80 como a que nos levaria à saúde da economia, à abundância).
Também vamos percebendo que há países em que as funções públicas não dão direito a automóvel, muito menos a motorista, que há países em que o enriquecimento absurdo dos políticos os obriga a demonstrar donde veio, sob pena de prisão, que há países em que o nepotismo é punido, países em que o gasto público que leve a endividamento é discutido pelos cidadãos e nunca tem um único responsável... e vamos percebendo que ambos os partidos nos trouxeram aqui.
Mas há outra causa do estado da nação que vai saltando à vista: existe uma oligarquia internacional que faz coisas como manipular as taxas de referência (o libor e o euribor) para, assim, conhecedores do futuro dos mercados, ganharem biliões; ou coisas como tirar lucros da compra de obrigações de estados supostamente em pré-falência, sujeitos a juros que eram impensáveis... etc!
Vamos percebendo que os bancos, em todo o mundo, há uns anos, incentivaram o crédito, por exemplo à habitação, e que, quando o preço das casas hipotecadas que lhes serviam de garantia baixou (caíu!) por serem tantas, ficaram em "falência técnica"... sabemos como alguns bancos americanos misturaram essas hipotecas em fundos "consolidados" que foram subindo em cotação e, valorizados, os venderam para bancos de todo o mundo; sabemos como, não contentes com isso, pediram biliões ao Estado Americano para os salvar -- e sabemos que o Estado Americano "só" paga 0,1% de juro à Reserva Federal, a qual passou a fabricar 100 biliões de dólares por mês. E vamos percebendo que o Banco Central Europeu só pôde ser criado aceitando as regras do Banco da Alemanha (que detêm 21% das acções do BCE); regras que o impedem de emprestar aos Estados -- empresta aos bancos a 1%, os quais emprestam aos Estados a 5% (emprestavam, a Espanha já vai em 7%, também ela!); o traumatismo da inflação, na Alemanha dos anos 20, deve estar na origem dessa regra, que fragiliza o Euro.
Foi fácil a Wall Street (e seus parceiros, como a City?) fazer subir as taxas de juro que pedem aos países mais "fora de jogo", ganhando biliões com isso, enquanto a Europa se não fragmenta, o euro se não desvaloriza e os países, mesmo os do Norte, não ficam à venda. Ter-se-à esquecido, Wall Street, que há quem tenha mais poder de compra, como a China, ou obedecerá ela aos donos da dívida americana, àqueles que, quando os portugueses conseguiram explicar donde vinham, lhes disseram que, vivendo tão longe, se compreendia que nunca tivessem conseguido vir pagar tributo ao Imperador?
Foi fácil a Wall Street (e seus parceiros, como a City?) fazer subir as taxas de juro que pedem aos países mais "fora de jogo", ganhando biliões com isso, enquanto a Europa se não fragmenta, o euro se não desvaloriza e os países, mesmo os do Norte, não ficam à venda. Ter-se-à esquecido, Wall Street, que há quem tenha mais poder de compra, como a China, ou obedecerá ela aos donos da dívida americana, àqueles que, quando os portugueses conseguiram explicar donde vinham, lhes disseram que, vivendo tão longe, se compreendia que nunca tivessem conseguido vir pagar tributo ao Imperador?
Mas, para quem ouvisse os nossos políticos, hoje, a responsabilidade era toda deles, para o primeiro ela era do segundo e vice-versa. Fica-se a pensar, já que há países, como a Suécia, que tiveram o cuidado de se não endividar e de manter baixas as taxas de corrupção, que, se calhar, em grande parte, a responsabilidade é mesmo deles! Porque, se há pequenos países europeus em muito melhor estado, apesar de o assunto ser o sistema monetário e financeiro internacional, os dois partidos que nos têm governado devem ter algo a ver com o dito Estado da Nação -- meteram-nos na boca do lobo.
Mas também vamos percebendo que os que os dirigem não teriam emprego, se o não fizessem. São peões falantes!

Sem comentários:
Enviar um comentário