sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sobre hierarquias

Numa dessas discussões cheias de amizade que vou fazendo, quando eu defendia a ideia que, na democracia real que vamos criar, votaremos as leis, votaremos ideias e não pessoas... quando eu defendia que, em democracia, não pode haver políticos profissionais, que os cidadãos encarregados de fazer cumprir as leis (e que nada decidem) têm que ser escolhidos por sorteio, que não podem ser escolhidos pelos chefes dos partidos... disseram-me que não se pode entregar as decisões importantes ao povo, que há hierarquias, que essa democracia seria uma anarquia.

Disseram-me que a hierarquia é natural, falaram das "sociedades" animais, da natureza -- ou, como se dizia antes da "democracia" que temos, a qual trouxe um certo pudor para dizer essas coisas: "há os que nascem para mandar e os que nascem para ser mandados"!
É curioso que sejam as pessoas mais ligadas à nossa forma tradicional de cristianismo quem mais se assusta com a ideia do poder do povo -- da democracia. Porque Jesus Cristo nos é contado como insistindo em que somos todos irmãos, como tendo resistido aos que queriam fazer dele o rei dos judeus e como tendo sido morto porque a parte da sociedade mais ligada às hierarquias preferiu libertar um criminoso, Barrabás, a aceitar a ideia da fraternidade, a de que não precisamos de fariseus e quejandos.

Lembrei-me então dos factos narrados nesta apresentação do TED, com que fiz um "post" anterior. A forma como as mulheres ainda são tratadas, no mundo, os abusos cometidos são inimagináveis pelas pessoas da nossa sociedade. Mas são consideradas normais noutras. No "software" que corre nas cabeças da maior parte dos nossos irmãos humanos há uma hierarquia em que os homens valem mais que as mulheres. Na cabeça de um homem que viola uma mulher há um "direito natural" que lhe assiste e, num número demasiado grande de sociedades, a culpa e a vergonha são da mulher, normalmente julgada como tendo "provocado" o acto, por ser atraente, por não ter uma roupa que a cobrisse bem -- e, embora ela implorasse ao homem que a deixasse em paz, ele pratica o acto sinceramente convencido que era o que ela queria, embora, por ser mulher, obrigada ao recato, dissesse que não!
Pois há uma analogia entre essa crença de que os homens são hierarquicamente superiores às mulheres e a crença de que há hierarquias entre nós, seres humanos.

Claro que há hierarquias pontuais, caso a caso: mas o avô que pede ao neto que o ajude com o comando do aparelho de televisão não lhe é hierarquicamente inferior. Cada um de nós tem as suas competências pontuais e daí aceitarmos tão naturalmente que quem andou na Jota a treinar o discurso desde pequenino seja mais competente para decidir as taxas dos impostos que levaram à morte de milhares de empresas -- mesmo depois de, feitas as contas, se saber que os impostos arrecadados com as taxas anteriores, mais baixas, somavam um valor mais alto...
Ah! Os doutores economistas, a nata da hierarquia! Dizem-nos, com franqueza e inocência, que se avalia a saúde de uma sociedade pela subida das cotações das acções das bolsas de valores, ou pelos lucros dos grandes bancos e nós -- haja hierarquias! -- logo nos esquecemos de que os esfomeados não têm acções nem sequer onde ir vender, por uns tostões, o seu esforço, o seu trabalho, o seu tempo, a sua alma!

No topo da hierarquia da nossa sociedade está, oficialmente, o Sr. Presidente da República, o qual, depois de ter sido primeiro-ministro e de ter posto em prática a ideia Keynesiana dos grandes investimentos públicos para lançar a economia ajudando as empresas privadas (e esquecendo-se de que já não produzimos notas, ignorando, olimpicamente, o crescimento da dívida) se entreteve, enquanto aguardava as suas funções presidenciais, a gerir o BPN, com cujos gestores visíveis, seus amigos, se reunia todas as semanas, sendo o verdadeiro responsável pela herança que nos deixaram... Ah! Como seria Portugal, hoje, se, à míngua de hierarquias, as decisões tivessem sido tomadas pelo povo? Por essa "cambada de incompetentes", como o "software" mais prevalente nas nossas cabeças considera ser o povo, os portugueses sem curriculum numa Jota, nem sequer numa universidade privada?
Notícia de última hora:
O governo formou uma orquestra para interpretar "Grandola, vila morena" em digressões pelo país:

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A privatização da água

O Estado foi criado para proteger os cidadãos ... até que foi comprado pela alta finança internacional, transformado no seu poder local para explorar -- até à escravatura, por este caminho dito "liberal"!
Se os eleitos são compráveis para tomar decisões que permitam lucros especulativos, a Comissão Europeia, não eleita, também age como tendo sido comprada:
As legendas em português no botão "cc"

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Autarcas injustiçados

O semanário "Expresso" publicou uma notícia sobre a Camara de Loures, a 5ª maior do país, que é gerida como se fora uma empresa familiar. Carlos Teixeira, o autarca, empregou a mulher, uma filha, um irmão, dois cunhados e, quando empregou a namorada do filho, que é espanhola, deu origem a um artigo no "Expresso".
A lei dá aos autarcas grande autonomia, é legal esta situação. O comentário do autarca do PS foi este: "Admito que possa parecer mal, mas não me pesa na consciência". É claro que as leis são feitas pelos partidos, os quais só valorizam a opinião pública na medida em que isso renda, em votos. E se os votos lhes permitem ter poder, o qual pode ser usado em seu benefício, seu da classe política, porque haveríamos de esperar que os deputados fizessem leis que o restringissem?
Por outro lado a "vox populi" pode ser injusta; incomoda-me muito a falta de rigor, o exagero das anedoctas sobre os políticos. Por exemplo diz-se que os autarcas são muito devotos já que não fazem contratos sem ter um terço na mão! Ora, um terço é 33,(3)% do montante da adjudicação, quando, como sabem os fornecedores de bens e serviços às Câmaras, o que está estabelecido como norma, no país, pagável a "testas de ferro" e indetectável a uma muito pouco provável investigação judicial, é 30%: para fazer uma graça sacrificou-se o rigor, a justiça!

O responsável por aquilo a que se chama "corrupção" é o sistema de governos "representativos" ao qual chamamos "democracia" mas que é o seu contrário, é uma oligarquia! Os "políticos" são inocentes, pessoas bem adaptadas ao sistema, incapazes de ver injustiça no que fazem. O poder corrompe e só lá chega quem o não tenciona pôr em causa.
O que é notícia não é a norma, é a excepção: é notícia a Câmara de Cascais e a experiência de democracia participativa que está a levar a cabo:
http://www.cm-cascais.pt/video/cascais-capital-da-cidadania-e-democracia-participativa-2013

O jantar de fim de curso do doutor Relvas: a injustiça da opinião pública.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

As alterações climáticas

Ainda há quem diga que não se passa nada, ou que nada tem a ver com o homem, com a absurda sociedade de consumo, com o vício do poder e da ganância a falar mais alto que a sobrevivência:
Veja em HD no YouTube

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A iletracia da maioria


Esta conferência foi há mais de um ano mas é actual. A falta de clareza nos documentos oficiais que nos chegam às mãos pode fazer com que os não compreendamos e, portanto, pode fazer com que sejamos prejudicados. Trata-se de uma forma de violência, a qual, mesmo que a ultrapassemos, é sempre uma forma de stress. Como terá corrido a vida a este belo projecto?
É oportuno lembrar que, naquele estudo sobre a desigualdade de rendimentos nos países desenvolvidos,  no qual se encontrava uma relação estatística entre a diferença de rendimentos entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres e uma data de maleitas sociais, Portugal estava no pior lugar entre os europeus do estudo (depois dos EUA) e a Suécia no melhor (depois do Japão)!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A violência

We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.
Esta deve ser a frase mais conhecida da língua inglesa, faz parte da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América e está no cerne da cultura americana, a qual, sobretudo através de Hollywood, chegou ao resto do mundo.
Django Libertado, o ultimo filme de Quentin Terantino, põe-nos em contacto com o inconsciente colectivo, o que caracteriza a arte -- uma opinião, claro, falta saber se ele faz isso em culturas não ocidentais. Porque a arte se caracteriza por conseguir falar com todo o género humano.
Que um filme sobre a violência (a qual está a aumentar, no mundo) crie emoções estéticas, é Obra! O homem faz o filme como lhe apetece e sai Arte! (não sairia se não viesse de dentro, de quem é, da sua intuição, do seu humor, da sua liberdade, fundamentalmente ...).
É possível fazer uma analogia entre a nossa situação e a dos escravos negros no Sul dos Estados Unidos, no século XIX: sujeitos a violência!
Estamos -- não só em Portugal mas em todo o mundo! -- numa sociedade em que um roubo de milhares de milhões de euros, se cometido por um "branco", um banqueiro/político, ou fica impune ou tem uma sentença, dezenas de anos depois de ter sido cometido, sujeita ainda a variados recursos e sempre inferior à que se aplica, imediatamente, a quem roubar uma caixa multibanco: estamos numa sociedade violenta. As leis não são iguais para todos, quem dispuser de muito dinheiro, de bons advogados (dos que fizeram as leis) está, na prática, numa situação privilegiada: é "branco", beneficia de uma sociedade violenta sobre os "pretos".
A manipulação das nossas consciências, a narrativa que nos é dada sobre a realidade, é uma das formas da violência.
O medo que temos de não estar nas boas graças dos "brancos" ( dos bancos e dos políticos) é outro sintoma de uma sociedade violenta.
A mentira, como a de dizer aos cidadãos que lhes convém privatizar a saúde e a educação, é outro.
O dinheiro, de instrumento de troca, tornou-se instrumento de violência. Estamos a pagar juros milionários de dívidas que nos fizeram, a trabalhar para credores fantasmas cujo propósito é comprar, aos desbarato, os bens públicos: violência!

A forma de sair de uma sociedade violenta -- que é o mundo todo!-- tem que começar por sacudirmos as crenças que violentamente nos teem levado a ter: a crença de que a violência é natural, de que faz parte da "natureza humana", de que não há alternativa... A antropologia mostra-nos que houve sociedades pacificas.
Depois, é crucial compreender que, para acabar com a violência, a não podemos usar!
A transformação que o mundo está a sofrer só será bem sucedida se for pacifica. O cerne do problema é a violência: ela não pode fazer parte da solução. 
Se não percebermos isto podemos repetir o erro de há 250 anos: perante a violência do Império Britânico, as colónias usaram a violência, encorajaram os cidadãos a andar armados -- hoje o seu governo está nas mãos de algumas "Corporations", nascidas da competição violenta, que o conseguem forçar a levar a violência financeira a todo o mundo (com guerra!) -- que transformaram o governo do povo na derivada do Imperio Britanico... e está impotente para controlar os cidadãos que, à falta de soldados do Rei de Inglaterra, matam crianças nas escolas... Os soldados do Rei, hoje, que sabemos mais, devem ser levados, pacificamente, a destruir as armas, devem ser seduzidos para a "procura da felicidade" na Paz. Devemos compreender e ajudá-los a compreender que são, como nós, pretos por acaso, pessoas, de nascença!