O tema era a atitude face a esta lei que juntou freguesias, sem perguntar aos moradores. O candidato esclareceu-nos que as Juntas antigas se mantêm com funcionários e a prestar os serviços habituais e parece ver esta inovação como análoga às associações de municípios ou à Europa das Nações. Assumiu-se a favor, trata-se de uma pessoa prática, habituada a lidar com as leis que há e preocupada, antes de mais, com as pessoas. As juntas têm um orçamento de valor muito abaixo do necessário, o qual sofreu, há pouco, uma redução de 22% e o actual presidente da Junta de Freguesia de Santo Tirso vê no crescimento da percentagem da população do Concelho que a nova Junta representará, um crescimento no seu poder negocial com a Câmara; a qual, percebemos das palavras dele, deveria delegar mais responsabilidades nas Juntas e financiar muito melhor as que lhes competem.
Gostei de o ouvir falar das Comissões de moradores, de elas estarem inscritas na Constituição e do papel fundamental que pensa deveriam ter. Para ele são as pessoas quem conserva as tradições, não são as leis, são as pessoas quem deve organizar as festas tradicionais, por exemplo, e as Juntas ou a Câmara apenas devem, porque representam as pessoas, apoiá-las -- que diferente da utilização das festas para o seu marketing político, que os partidos costumam fazer!
Também gostei de o ouvir falar na democracia participativa, no interesse que tem em ouvir as pessoas, as suas ideias -- e percebe-se, sabe-se, que as ouve --, não se trata de um político profissional, tem outra profissão, as pessoas não são, para ele, "eleitores", são os habitantes da sua terra. Mas, ou não fora um "democrata de direita", valoriza o seu poder de decisão final: e é reconhecido como um líder sensato -- mas quantos o são?
Talvez para a maior parte dos leitores, que ainda não era adulta antes de Abril de 1974, um "democrata de direita" seja algo de normal. Mas, antes do 25 de Abril, as pessoas de direita não eram democratas, só no fim do regime apareceram pessoas como o advogado Francisco Sá Carneiro, do Porto, que eram vistas com desconfiança pelo regime ... e pelos democratas. Quando comentei que o orador era democrata disseram-me: "é natural, é uma pessoa educada, respeita as pessoas".
Fiquei a pensar nesse assunto da esquerda e da direita, que era uma clivagem tão real na nossa sociedade: havia quem denunciasse a censura, o Tarrafal... e quem aproveitasse a invisibilidade dessas coisas para as não ver (só soube noutro dia de um descarrilamento, com cerca de 150 mortos, nos anos 60, aqui bem perto, que os jornais não tiveram licença de noticiar); e pensei na ideia, que o neo-liberalismo nos vendeu, depois da queda do muro de Berlin, de que já não havia tal distinção, entre a esquerda e a direita. Talvez essa táctica de desmobilização política tenha, em si, uma verdade, bem mobilizadora: hoje há os 99% e os 1%, as pessoas tradicionalistas pertencem, agora, aos 99% -- e a luta não é com pessoas, é com um sistema de exploração mundial que está nos seus anos finais -- e será uma luta não violenta, à maneira de Gandhi, não serão golpes militares nacionais, será mundial.
Porém, não é possível esquecer a analogia entre o nosso tempo e os anos 20 do século passado, o aparecimento dos nacionalismos belicistas, da direita inimiga da democracia. As pessoas não sabiam que estavam, com as suas paixões patriotas, a obedecer aos interesses de negócios monstruosos. E, hoje, apesar das grandes manifestações que se passam nos E. U. da América, tudo indica que os 1%, que manipulam, malgré lui, o Presidente Obama, vão manipular os cidadãos e bombardear a Síria, criar um conflito eventualmente à escala mundial, que se desenha diante do nosso olhar incrédulo, análogo ao olhar das pessoas de 1914 ou de 1939.
Vejo, na displicência com que o nosso primeiro-ministro critica os juízes do Tribunal Constitucional, a direita anti-democrática sob uma nova forma. E custa-me engolir que se trate de "economicismo", de ingenuidade, de estupidez, de táctica política -- porque se trata da mesma displicência com que Salazar projectou, sozinho, a Constituição anti-democrata de 1933 (e a fez aprovar num plebiscito "para inglês ver", sem recensear os seus opositores).
O paradoxo é que precisamos, nas "democracias" ocidentais, de novas Constituições: mas têm que ser redigidas por cidadãos sorteados, nenhum deles sendo um político profissional, precisaremos, porque a Revolução Industrial chegou ao fim, de um novo sistema, da Democracia Real, directa.
Entretanto, precisamos de eleger quem nos represente, neste sistema, quem prepare os cidadãos livres que não precisem de líderes, quem esteja a favor, na prática, da saúde e da educação para todos -- e ainda bem que há políticos não profissionais, democratas e responsáveis, que advogam a transparência das contas públicas e se apresentam às eleições. Admirei o optimismo do orador de ontem mas fiquei a pensar que, se a Junta dispusesse de outras verbas, o partido o não teria proposto. Convido quem ainda acredita no sistema de "governo representativo" que temos a responder a isto: se os partidos do "arco da governação" têm gente desta, porque é que temos tido os governantes que temos tido? E respondo: -- porque estamos numa oligarquia, não estamos em democracia!
Se ages contra a justiça e eu te deixo agir,
então a injustiça é minha.
e
então a injustiça é minha.
e
Não existe um caminho para paz! A paz é o caminho!
Gandhi
E fazem parte dessa oligarquia as empresas de construção civil.
ResponderEliminarOs partidos do tal arco da governação só propõem para a câmara quem lhes der lucro
ResponderEliminarDe facto, um partido que tem pessoas como Pacheco Pereira, porque é que escolhe este caminho de desgraça nacional? Porque é controlado não só pela alta finança portuguesa mas também pela internacional.
ResponderEliminarPessoas Como o José Pedro Miranda fazem falta na nossa sociedade! Pois foi dito e muito bem, "vê as pessoas como habitantes da sua terra e, não como eleitores"!
ResponderEliminarEsta é uma verdade mesmo. Acredito na nossa terra, acredito no nosso povo, que é Portugal...Peço todos os dias que acordemos desta demanda de adormecidos!
Os meus parabéns ao blogue, O Tirsense! Sem duvida um exemplo a seguir para um jornal independente.
Obrigado pelo encorajamento. O blog nasceu de ter visto o deficit democrático na nossa terra e a manipulação da opinião publica pelo marketing do poder político. Fui vendo que é problema nacional e global e que é mesmo quando a coisa publica nos não interessa que mais preciso é que os cidadãos a tomem nas mãos. Que acordem, exactamente! Estes sininhos que são os blogs, todos juntos, hão de atrapalhar o sono... Obrigado.
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