terça-feira, 27 de maio de 2014

Pensar alto

A vida parece ser complexidade crescente. O Hidrogénio, no Sol, junta as suas moléculas para produzir Hélio, que tem dois protões, é mais complexo, libertando energia (o Sol é uma bomba de Hidrogénio), energia que permite a criação de moléculas mais complexas, até chegar ao nosso ADN, que permite a consciência do seu próprio pensamento. Simultaneamente, toda a complexidade tende a simplificar-se, libertando energia, os nossos corpos serão terra, reduzidos aos seus minerais – chama a Física, a isto, a entropia. E há quem chame à vida “entropia negativa”, criação de complexidade.
Calculou-se a probabilidade de uma estrutura organizada como uma planta ou o nosso corpo acontecer espontaneamente e o conjunto de acasos precisaria de um tempo que é um múltiplo astronómico da idade do Universo, quanto mais do nosso sistema solar ou da Terra em que estamos. Esta evolução foi possível, porém, aconteceu, e é legitimo pensar que a vida seja uma inteligência organizativa com um propósito complexo que parece ser, até ver, o da criação de consciência na matéria, que somos nós. Daí a pensar que o Universo seja consciência, não acaso, é um passo que antepassados nossos já deram, há milénios. E que nós, seus descendentes, interrogamos.
A misteriosa entropia negativa, a vida, e a entropia, a morte, coexistem, de facto, à vista de todos.
À “força” que se opõe à entropia, à vida, o antónimo de morte, o étimo da nossa língua chamou a-mor, não-morte.
Yang e yin, luz e sombra, consciente e inconsciente, ambos coexistem e são o real mas a “insustentável leveza do ser” é o resultado de um imperceptível desequilíbrio a favor da vida, o resultado de estarmos banhados pelos raios do Sol, produto de inúmeros protões que insistem em se juntar, até um dia, quando entropia acabará com a vida na Terra.

Vem esta conversa, que talvez aparente “complexidade” (LOL), a propósito de uma ideia simples que me parece oportuno encarar. É ela a de que podemos classificar a mentira como entropia e a verdade como complexidade organizada, como vida.
Num estudo recente, só 10% dos portugueses confiam, em geral, nos outros. Nos países do Norte, embora a descer, essa percentagem é muitíssimo mais alta.
Há uma correlação com a taxa de desigualdadede rendimentos, somos, na Europa, Portugal e Inglaterra, os países em que há uma maior distancia entre os rendimentos dos 20% mais ricos e os dos 20% mais pobres.
Mas creio que tem a ver com a nossa cultura, com a graça que encontramos nos “espertalhões”, melhor, com a valorização social que é dada a quem se sabe “desenrascar” na vida, fazendo vista grossa da mentira que usa, com arte, desculpando-a por “inevitável”, porque a vida é assim. A nossa, é!
Mas, se passássemos a valorizar a verdade, se nos esforçássemos por ser rigorosos na comunicação, se valorizássemos o trabalho de desmontar os mal-entendidos, de criar a confiança, seriamos uma sociedade mais bem sucedida, ou, nas palavras da presidente da Assembleia da República, mais conseguida, mais réussie.
Diminuindo a força da entropia (cujos efeitos são tão visíveis!), aumentaríamos relativamente a força da vida, do a-mor. A confiança uns nos outros traz bem-estar e é benéfica para os negócios, para a prosperidade.
Parece-me saudável contrariar características culturais que nos prejudiquem. Fernão Mendes Pinto, no fim da vida, reconheceu a importância da verdade e continuou a ser brilhante e “desenrascado”.
Se um conhecido for orgulhosamente corrupto talvez não baste dizer-lhe que prejudica Portugal, talvez seja preciso perder aquela “amizade” denunciando-o à Justiça. Esta, na medida em que nos sacrificarmos confiando nela, talvez passe a merecer a nossa confiança.

A Vida consiste em lutar contra a entropia, criando complexidade com significado, transcendendo a desordem. O resultado desse esforço, paradoxalmente, é uma vida mais simples, uma vida sem medo de amar, de confiar.
Este grafico, que se refere apenas a paises desenvolvidos, mostra como Portugal tem um elevado grau de desigualdade social, o mais alto nos paises europeus. Tem muitos “espertos” e muitos “lorpas”. 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Abstenção e corrupção. Pegadas

Só um terço dos eleitores votaram, nas eleições europeias. Terá a ver com o aumento da consciência de que não escolhemos aquelas personagens, de que estamos a legitimar uma oligarquia, votando nos representantes dela? Há, lá no meio, pessoas que vão representar os nossos interesses e parece-me melhor votar bem que não votar.
Quando dizia a um amigo que a maioria dos eleitos ou é manipulada pelo poder financeiro ou é mesmo comprada, ele disse-me que ambas as coisas se passam, com a mesma pessoa. São comprados e manipulados para pensarem que estão a agir normalmente. A entrevista que aqui fica, é importante para sabermos o que se passa. Como sempre, concluo da necessidade de criar uma democracia directa mas não concluo que o caminho seja o da abstenção. Pelo contrario, precisamos de acordar!
Pegadas, “huellas"
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar
.1

sábado, 24 de maio de 2014

“Réussir"

Como se sabe, os cidadãos, incapazes, delegam em pessoas capazes, os seus representantes, a feitura das leis. Os deputados são a nata da nossa sociedade, pelo que pensam regemos o nosso pensamento,  pelo que falam, o nosso falar e pelas leis que produzem, regemos a nossa vida. Eis la crème de la crème, a Presidente da Assembleia da Republica, une réussite.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

A Monsanto como uma das faces de um sistema que tarda a cair

A Monsanto e os seus advogados, com as leis das patentes de sementes (!), puseram lavradores sem conta, pelo Mundo fora, arruinados, por terem usado parte da sua colheita para semente. Mesmo os que resistem ao marqueting são forçados a pagar licenças por sementes infestantes que são patenteadas pela Monsanto. É a face visível de um sistema que está a escravizar, legalmente, o Mundo.
No sábado, amanhã, há uma manifestação global, em centenas de cidades do Mundodas quais o Porto (15:00, no Marquês) e Lisboa (15:00, no Largo de Camões).

Queremos:
-apoios coerentes para a Agricultura em pequena escala
-Liberdade da Semente
-não ser expulsos de terrenos abandonados por ocupar com hortas
-defesa dos consumidores e não dos lucros
-Transparência
-Menos burocracia nos processos "democráticos"

E somos contra:
-a privatização das sementes
-a concentração que há neste mercado,
-a diminuição de direitos dos agricultores (quem nos dá alimento!)
-o TTIP e o seu impacto quanto à soberania alimentar e a fragilização das normas europeias quanto aos químicos e tóxicos utilizados em tratamentos.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Representar-nos

Não vejo que os candidatos saibam do artigo 123 do Tratado de Lisboa, não vejo que algum deles saiba que o dinheiro é fornecido por privados, que o fabricam do nada e cobram juros. Não vejo em quem votar -- mas voto!
Deixa-me esquecer, enquanto posso.
Esta fotografia tem 50 anos. Trata-se de um parto dificil!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Europeias

O miudito sabia como a sua Mãe gostava de figos. Reparou, ao vir da escola, que havia uma figueira com eles maduros e tratou de encher os bolsos de figos. Subiu o muro, subiu à árvore, encheu os bolsos e continuou caminho, antecipando, na imaginação, a surpresa da Mãe ao ver uma taça com figos, madurinhos, na mesa.
Para que esta estória corra bem é preciso que o dono da figueira se não aflija por perder alguns figos, que não comece a imaginar a figueira despida com o descontrole da ladroagem -- que não tenha medo. É preciso, também, que a Mãe da criança saiba ficar surpreendida e feliz, que não pergunte de onde vieram os figos, que não lhe ralhe --  que não tenha medo.
É preciso que todos, o miúdo, a sua Mãe e o dono da figueira, sintam o prazer silencioso de ver o outro feliz e se fiquem por aí, sem filosofar. Eventualmente que saibam agradecer à Terra, que deu os figos, à sorte de estar vivo e à mesma Vida.

A abundancia é possível mas o caminho para ela não pode ser a violência. Denunciar o erro, dizê –lo, não implica ódio pelo errante, é comunicação natural.

Apareceu, enfim, nesta campanha para as europeias, quem dissesse que o rei vai nu, quem lembrasse que, nos tratados europeus, os nossos representantes puseram um artigo que tem que ser de lá retirado. Um pequeno artigo que proíbe o Banco Central Europeu de emprestar dinheiro directamente aos Estados, à taxa de juro a que o empresta aos grandes bancos. Teoricamente as decisões políticas são nossas. Na prática os nossos representantes representam a oligarquia financeira internacional. Mas nem todos, curiosamente!
Denunciar o erro que seria manter esse artigo (o Artigo 123o, reproduzido abaixo) no Tratado de Lisboa não implica odiar os políticos que vão votar a favor de o manter, a favor dos grandes banqueiros e dos seus lucros agiotas. Trata-se de comunicação natural.

Para que esta história corra bem é preciso que sejamos conscientes, em números avassaladores, -- que não tenhámos medo.
Imagem primaveril do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França
Versão consolidada do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia 99 
30.3.2010 PT Jornal Oficial da União Europeia C 83/99

Artigo 123.o
(ex-artigo 101.o TCE)

1. É proibida a concessão de créditos sob a forma de descobertos ou sob qualquer outra forma pelo Banco Central Europeu ou pelos bancos centrais nacionais dos Estados-Membros, adiante designados por «bancos centrais nacionais», em benefício de instituições, órgãos ou organismos da União, governos centrais, autoridades regionais, locais, ou outras autoridades públicas, outros organismos do sector público ou empresas públicas dos Estados-Membros, bem como a compra directa de títulos de dívida a essas entidades, pelo Banco Central Europeu ou pelos bancos centrais nacionais.
2. As disposições do n.o 1 não se aplicam às instituições de crédito de capitais públicos às quais, no contexto da oferta de reservas pelos bancos centrais, será dado, pelos bancos centrais nacionais e pelo Banco Central Europeu, o mesmo tratamento que às instituições de crédito privadas.

A taxa actual que pagam os Bancos privados (e a Caixa Geral de Depósitos) ao Banco Central Europeu é de 0,25%. O Estado grego chegou a ser forçado, (pelo artigo acima) a financiar-se “nos mercados” a taxas superiores a 90%, enquanto uma fortíssima campanha o desprestigiava. Isto sem que qualquer crítica fosse feita ao artigo 123!







Cerca de 8% do Orçamento do Estado Português, nos últimos anos, destina-se a pagar juros da divida publica. Para a Saúde têm sido orçamentados cerca de 7%.

Os impostos dos portugueses têm subido apenas para pagar juros que poderiam ser de um vigésimo do seu valor, se este artigo não existisse. Se os “representantes” dos cidadãos o não tivessem lá inserido, sabendo, ou não, que estavam a representar os interesses da alta finança internacional. É só comunicação, isto, não interessa lutar contra os políticos estúpidos ou corruptos, não interessa julgá-los... interessa, apenas, tirar o citado artigo das Leis que nos regem. Mudar as regras. Fazer, tranquilamente, uma “Revolução social”. Nao votar em quem quiser continuar este erro, esta lei que nos prejudica tanto.
É preciso ver para lá do discurso político manipulativo e palavroso.
--Esse partido é a favor do artigo 123?
–Então vou procurar um que seja contra o artigo 123!
Simplifiquemos a campanha eleitoral.