quinta-feira, 8 de maio de 2014

Europeias

O miudito sabia como a sua Mãe gostava de figos. Reparou, ao vir da escola, que havia uma figueira com eles maduros e tratou de encher os bolsos de figos. Subiu o muro, subiu à árvore, encheu os bolsos e continuou caminho, antecipando, na imaginação, a surpresa da Mãe ao ver uma taça com figos, madurinhos, na mesa.
Para que esta estória corra bem é preciso que o dono da figueira se não aflija por perder alguns figos, que não comece a imaginar a figueira despida com o descontrole da ladroagem -- que não tenha medo. É preciso, também, que a Mãe da criança saiba ficar surpreendida e feliz, que não pergunte de onde vieram os figos, que não lhe ralhe --  que não tenha medo.
É preciso que todos, o miúdo, a sua Mãe e o dono da figueira, sintam o prazer silencioso de ver o outro feliz e se fiquem por aí, sem filosofar. Eventualmente que saibam agradecer à Terra, que deu os figos, à sorte de estar vivo e à mesma Vida.

A abundancia é possível mas o caminho para ela não pode ser a violência. Denunciar o erro, dizê –lo, não implica ódio pelo errante, é comunicação natural.

Apareceu, enfim, nesta campanha para as europeias, quem dissesse que o rei vai nu, quem lembrasse que, nos tratados europeus, os nossos representantes puseram um artigo que tem que ser de lá retirado. Um pequeno artigo que proíbe o Banco Central Europeu de emprestar dinheiro directamente aos Estados, à taxa de juro a que o empresta aos grandes bancos. Teoricamente as decisões políticas são nossas. Na prática os nossos representantes representam a oligarquia financeira internacional. Mas nem todos, curiosamente!
Denunciar o erro que seria manter esse artigo (o Artigo 123o, reproduzido abaixo) no Tratado de Lisboa não implica odiar os políticos que vão votar a favor de o manter, a favor dos grandes banqueiros e dos seus lucros agiotas. Trata-se de comunicação natural.

Para que esta história corra bem é preciso que sejamos conscientes, em números avassaladores, -- que não tenhámos medo.
Imagem primaveril do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França
Versão consolidada do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia 99 
30.3.2010 PT Jornal Oficial da União Europeia C 83/99

Artigo 123.o
(ex-artigo 101.o TCE)

1. É proibida a concessão de créditos sob a forma de descobertos ou sob qualquer outra forma pelo Banco Central Europeu ou pelos bancos centrais nacionais dos Estados-Membros, adiante designados por «bancos centrais nacionais», em benefício de instituições, órgãos ou organismos da União, governos centrais, autoridades regionais, locais, ou outras autoridades públicas, outros organismos do sector público ou empresas públicas dos Estados-Membros, bem como a compra directa de títulos de dívida a essas entidades, pelo Banco Central Europeu ou pelos bancos centrais nacionais.
2. As disposições do n.o 1 não se aplicam às instituições de crédito de capitais públicos às quais, no contexto da oferta de reservas pelos bancos centrais, será dado, pelos bancos centrais nacionais e pelo Banco Central Europeu, o mesmo tratamento que às instituições de crédito privadas.

A taxa actual que pagam os Bancos privados (e a Caixa Geral de Depósitos) ao Banco Central Europeu é de 0,25%. O Estado grego chegou a ser forçado, (pelo artigo acima) a financiar-se “nos mercados” a taxas superiores a 90%, enquanto uma fortíssima campanha o desprestigiava. Isto sem que qualquer crítica fosse feita ao artigo 123!







Cerca de 8% do Orçamento do Estado Português, nos últimos anos, destina-se a pagar juros da divida publica. Para a Saúde têm sido orçamentados cerca de 7%.

Os impostos dos portugueses têm subido apenas para pagar juros que poderiam ser de um vigésimo do seu valor, se este artigo não existisse. Se os “representantes” dos cidadãos o não tivessem lá inserido, sabendo, ou não, que estavam a representar os interesses da alta finança internacional. É só comunicação, isto, não interessa lutar contra os políticos estúpidos ou corruptos, não interessa julgá-los... interessa, apenas, tirar o citado artigo das Leis que nos regem. Mudar as regras. Fazer, tranquilamente, uma “Revolução social”. Nao votar em quem quiser continuar este erro, esta lei que nos prejudica tanto.
É preciso ver para lá do discurso político manipulativo e palavroso.
--Esse partido é a favor do artigo 123?
–Então vou procurar um que seja contra o artigo 123!
Simplifiquemos a campanha eleitoral.



1 comentário:

  1. http://www.bloomberg.com/news/2014-05-15/france-beefs-up-anti-takeover-tool-as-ge-and-siemens-eye-alstom.html

    França protege os seus interesses, e muito bem!

    Só os lorpas dos portugueses, amarrados do seu complexo de inferioridade, é que querem vender as águas aos chineses

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