A vida parece ser complexidade crescente. O Hidrogénio, no Sol, junta as suas moléculas para produzir Hélio, que tem dois protões, é mais complexo, libertando energia (o Sol é uma bomba de Hidrogénio), energia que permite a criação de moléculas mais complexas, até chegar ao nosso ADN, que permite a consciência do seu próprio pensamento. Simultaneamente, toda a complexidade tende a simplificar-se, libertando energia, os nossos corpos serão terra, reduzidos aos seus minerais – chama a Física, a isto, a entropia. E há quem chame à vida “entropia negativa”, criação de complexidade.
Calculou-se a probabilidade de uma estrutura organizada como uma planta ou o nosso corpo acontecer espontaneamente e o conjunto de acasos precisaria de um tempo que é um múltiplo astronómico da idade do Universo, quanto mais do nosso sistema solar ou da Terra em que estamos. Esta evolução foi possível, porém, aconteceu, e é legitimo pensar que a vida seja uma inteligência organizativa com um propósito complexo que parece ser, até ver, o da criação de consciência na matéria, que somos nós. Daí a pensar que o Universo seja consciência, não acaso, é um passo que antepassados nossos já deram, há milénios. E que nós, seus descendentes, interrogamos.
A misteriosa entropia negativa, a vida, e a entropia, a morte, coexistem, de facto, à vista de todos.
À “força” que se opõe à entropia, à vida, o antónimo de morte, o étimo da nossa língua chamou a-mor, não-morte.
Yang e yin, luz e sombra, consciente e inconsciente, ambos coexistem e são o real mas a “insustentável leveza do ser” é o resultado de um imperceptível desequilíbrio a favor da vida, o resultado de estarmos banhados pelos raios do Sol, produto de inúmeros protões que insistem em se juntar, até um dia, quando entropia acabará com a vida na Terra.
Vem esta conversa, que talvez aparente “complexidade” (LOL), a propósito de uma ideia simples que me parece oportuno encarar. É ela a de que podemos classificar a mentira como entropia e a verdade como complexidade organizada, como vida.
Num estudo recente, só 10% dos portugueses confiam, em geral, nos outros. Nos países do Norte, embora a descer, essa percentagem é muitíssimo mais alta.
Há uma correlação com a taxa de desigualdadede rendimentos, somos, na Europa, Portugal e Inglaterra, os países em que há uma maior distancia entre os rendimentos dos 20% mais ricos e os dos 20% mais pobres.
Mas creio que tem a ver com a nossa cultura, com a graça que encontramos nos “espertalhões”, melhor, com a valorização social que é dada a quem se sabe “desenrascar” na vida, fazendo vista grossa da mentira que usa, com arte, desculpando-a por “inevitável”, porque a vida é assim. A nossa, é!
Mas, se passássemos a valorizar a verdade, se nos esforçássemos por ser rigorosos na comunicação, se valorizássemos o trabalho de desmontar os mal-entendidos, de criar a confiança, seriamos uma sociedade mais bem sucedida, ou, nas palavras da presidente da Assembleia da República, mais conseguida, mais réussie.
Diminuindo a força da entropia (cujos efeitos são tão visíveis!), aumentaríamos relativamente a força da vida, do a-mor. A confiança uns nos outros traz bem-estar e é benéfica para os negócios, para a prosperidade.
Parece-me saudável contrariar características culturais que nos prejudiquem. Fernão Mendes Pinto, no fim da vida, reconheceu a importância da verdade e continuou a ser brilhante e “desenrascado”.
Se um conhecido for orgulhosamente corrupto talvez não baste dizer-lhe que prejudica Portugal, talvez seja preciso perder aquela “amizade” denunciando-o à Justiça. Esta, na medida em que nos sacrificarmos confiando nela, talvez passe a merecer a nossa confiança.
A Vida consiste em lutar contra a entropia, criando complexidade com significado, transcendendo a desordem. O resultado desse esforço, paradoxalmente, é uma vida mais simples, uma vida sem medo de amar, de confiar.
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| Este grafico, que se refere apenas a paises desenvolvidos, mostra como Portugal tem um elevado grau de desigualdade social, o mais alto nos paises europeus. Tem muitos “espertos” e muitos “lorpas”. |


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