Este predador consciente que somos foi acumulando reflexões, primeiro com histórias que se iam contando e acrescentando (e que se não perderam, a Ilíada ainda nos ajuda a reflectir!), depois com as técnicas que fomos criando de as conservar, até aqui chegarmos, à informática, decerto só mais um passo de uma velha caminhada... Hoje, as reflexões de todos os outros predadores conscientes, mortos e vivos, nos são acessíveis de bandeja, como soi dizer-se.
O assunto, então, é querer -- e conseguir -- ouvir o outro.
Ao mesmo tempo, precisamos de saber ouvir-nos a nós mesmos. Sabemos, intuitivamente, que é perigoso pensar pela cabeça dos outros; que, dessa forma, nada contribuiríamos, nem para nós, nem para os outros.
Mas, face ao manancial inesgotável de reflexões alheias sobre a nossa misteriosa situação, de animal consciente, a tendência actual é a de passar a vida a consultar o que pensam os outros e a pouco valorizar o que pensamos nós. Torna-se difícil ouvir «a voz do silêncio».
Paradoxalmente, a linha de reflexão que mais cresce, no mundo-- a qual não podemos chamar de filosófica nem de religiosa mas que é essas coisas sem as nomear -- falo do pensamento new age -- sugere-nos exactamente isso, que nos voltemos para dentro, que ouçamos o nosso espírito.
Ora, a primeira pergunta que lhe fazemos, é se existe. Assim como não podemos provar que não exista, também não podemos provar que exista, o tal espírito -- o materialismo e o espiritualismo são velhíssimas linhas divergentes da filosofia.
Nos dois séculos anteriores, talvez as reflexões predominantes deste animal pensante fossem no sentido do materialismo e, talvez -- não há reflexão que não seja subjectiva! -- este século esteja a voltar ao espiritualismo.
Desde que se provou, contra a intuição de Einstein, que as teorias da mecânica quântica eram leis da física que o pensamento positivista dominante começou a deixar de o ser.
Como dizia o materialista Caeiro: -Álvaro de Campos, eu creio no que tenho que aceitar.
E temos que aceitar, por exemplo, que o observador interfere no fenómeno observado, ou seja, que a realidade é, como sempre foi, misteriosa. Mas não lhe podemos chamar incognoscível, até porque há quem diga que há um caminho para o conhecimento e experimentar esses caminhos é atraente para qualquer mortal.
Por exemplo, o sistema em que funcionam as sociedades contemporâneas, chamemo-lo pelo nome com que foi baptizado no século XIX, quando começou a Sociologia, a ciência que as estuda, o Capitalismo, teve como principal adversário o pensamento dialecto-materialista. E, hoje, creio que podemos dizer que tem o espiritualismo como principal adversário. Exactamente porque, com a sociedade de consumo, o capitalismo faz as pessoas inclinarem-se para um pensamento materialista. Ou, se formos pessimistas, que não sou, para um abandono da reflexão, para uma desumanização, no sentido de que o consumista se queda pelo animal predador, descurando a consciência ou, ate, tentando afoga-la nos centros comerciais.
E, no topo da pirâmide biológica, o predador que somos, sem a consciência, está a destruir o seu habitat, o terceiro planeta do sistema solar.
E, no topo da pirâmide biológica, o predador que somos, sem a consciência, está a destruir o seu habitat, o terceiro planeta do sistema solar.
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