terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Paulo Morais

Ouvi, agora, Paulo Morais, numa entrevista na RTP2. É um matemático, parece que tem um doutoramento na área de engenharia -- não é um político. É um cidadão indignado, como seriam todos, se tivessem a necessária informação e a suficiente lucidez para a analisar.
A clareza da sua fala vem daí, da clareza do seu pensar, do cuidado em evitar o erro, o engano, cuidado de matemático. O pensador desonesto não pode ser um cientista. Este só acredita no que vê, no que é. Aquele acredita no que lhe convém acreditar. O respeito pela verdade é condição necessária para funcionar nas áreas cientificas... e o curioso, ao que vejo, é que é impedimento para ser um político bem sucedido.
Como se sabe o bom mentir precisa de bocados de verdade misturados, sem lógica -- e precisa de ouvintes pouco claros no pensar, rápidos nas conclusões que lhes sugira, descansados do esforço de análise pelas verdades que ouviram, nas quais baseiam o crédito que dão ao resto do que lhes é dito.
Pensar bem, ser lúcido, dá trabalho. Trabalho de procurar e organizar informação, de descartar a desinformação, de pôr hipóteses e de as testar, de resistir aos cantos de sereia da nossa subjectividade, das nossas emoções, até do nosso inconsciente colectivo.
Este homem, da terra das "contas à moda do Porto", parece-me um cidadão exemplar, ou seja alguém que nos está a dar o exemplo de como teremos que ser todos, se quisermos viver em democracia.
Porque, se não cultivarmos a lucidez, a clareza da fala e a verdade dela, seremos manipulados e os manipuladores do nosso pensar ficarão com o poder de decisão política que deveria ser o nosso, em democracia.

É possível procurar o lucro, fazer bons investimentos, e procurar a verdade, ao mesmo tempo. Mas, se a sociedade puser o valor "lucro" acima do valor "verdade", e isso acontece regularmente com o marketing, o resultado é perdermos o lucro que nos interessaria colectivamente -- a abundância possível, substituída pela desigualdade crescente, pelo desperdício, por aquilo a que se pode chamar a má gestão. O objectivo real, de uma empresa ou de uma sociedade é, de facto, a produção de riqueza. Se o objectivo for a criação de lucro, então o seu funcionamento será diferente, produzirá lucro (monetário) para alguns, mas não produzirá riqueza, bens e serviços de qualidade, pois estes serão um meio, não um fim. E só como "meias verdades" serão produzidos, com o fim de "bem mentir".

Tenho esperança que os jovens aprendam a pensar. Na medida em que o fizerem sentir-se-ão indignados com o funcionamento da nossa "democracia" e acelerarão a transformação política que será o abandono do valor lucro monetário em favor do lucro real. 

A procura da verdade, usando a razão e a intuição, é natural às crianças que ainda não foram "adulteradas", manipuladas... E estão a chegar à idade produtiva para a sociedade jovens que souberam resistir ao senso comum -- um bom exemplo são os estudantes de Hong Kong, a quem apetece, neste momento, mandar um grande abraço, solidário!

2 comentários:

  1. "Para o futuro da humanidade, é mais determinante eliminar a riqueza concentrada do que a pobreza"
    Neste conceito - milenar
    Tão difícil de interiorizar
    Teremos de acreditar
    Se por cá quisermos continuar

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  2. Obrigado por comentar. De facto a desigualdade de rendimentos está estatisticamente ligada a todos os males sociais, doença, crime, etc. Deixo a referencia do melhor livro do ano de 2013 para o Finantial Times: “Porque Falham as Nações” de Daron Acemoglu e James A. Robinson, que mostra isso mesmo.

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