sexta-feira, 13 de março de 2015

Estamos em tempos de mudança II

"Estamos em tempos de mudança" foi o “post” mais lido deste blog. Sentimos, cada vez mais, estar em tempos de mudança, e, cada vez mais, compreendemos estar. Daí que, cada vez mais, e cada vez para mais gente, faça sentido agir como se estivéssemos em tempos de mudança -- quase sabemos estar.
“Todo o tempo é composto de mudança” mas esta consciência age como feed-back positivo: cria-a.
E uma coisa é inegável: Precisamos delas, da consciência e da mudança.

Partindo de um facto que se avoluma, o do empobrecimento dos povos, e de um outro que se não consegue esconder, o do avanço técnico, da informatização da indústria, do real aumento da produtividade e, portanto, da riqueza, percebemos que algo está errado.

Algo de fundamental, de estrutural: o sistema, as regras do funcionamento das sociedades. A Sociologia nascente, no século XIX, usou, o melhor que pôde, o método científico, e cunhou a palavra Capitalismo para designar o sistema em que vivemos. Deduziu, do que observou, que, com o tempo, nesta forma de funcionar, haveria uma acumulação de capital em cada vez menos companhias, as quais iriam comprando as mais pequenas, num processo cada vez mais global.
A cunhagem da moeda, a sua produção (uma indústria rentável), feita por reis e, depois, pelas repúblicas, quando estes e estas se endividaram o suficiente, foi comprada pelo “Capital”, o qual passou a cunhar moeda, o símbolo, por excelência, do poder.
O Capital empresta esse seu produto, a moeda, aos Estados, que lhe ficam a pagar juros ad æternum, ao novo senhor do mundo. Como isto seria um pouco chocante, esses juros ainda são muito baixos, nos Estados Unidos da América, onde o sistema medrou, depois da queda do Império Britânico. Mas, na Europa, o Capital conseguiu fazer passar uma lei, o artigo 123 do Tratado de Lisboa, que nega aos Estados esses juros baixos, obrigando-os a recorrer aos bancos privados, que têm o mesmo dono, mas a juros altos.

O Capital dispõe de funcionários especializados, os economistas, cuja preocupação é “o crescimento da economia”. De facto o sistema só pode funcionar em perpétuo crescimento, única forma de manter os crescentes juros, que são a sua essência.
Mas lá aparecem uns economistas “fora da caixa”, como Kenneth Bouldingque disse: “Anyone who believes exponential growth can go on forever in a finite world is either a madman or an economist”, ou seja"Quemquer acredite que o crescimento exponencial pode continuar indefinidamente num mundo finito ou é louco ou é economista”.

De facto o mundo é finito, os recursos estão a ser desbaratados e o planeta tem um desequilíbrio que ultrapassou a sua capacidade homeostática.
É mais racional imaginar a nossa espécie a desaparecer do planeta dentro de poucos anos que imaginar a paragem milagrosa do aquecimento global.

Mas estamos em tempos de mudança e a fé na vida é atributo dela. A fé é coisa irracional, mal vista pelo senso comum do animal que somos, tão ufano do seu cérebro de última geração.
O cérebro mais primitivo seria o dos peixes, animais irracionais por excelência, ouvintes atentos das palavras de fé de Santo António. Os peixes, símbolo do Cristianismo, da ideia de que basta amar e a vida se encarrega de nos dar o necessário. Da fé.

O bom senso do animal que somos, consciente da subida exponencial do metano na atmosfera, da morte anunciada da nossa espécie, não rejeita a fé na Vida, não rejeita o irracional. E vê sabedoria na natureza, na intuição dos animais, a que chamamos instinto. É humilde e procura a sabedoria dos antigos, que viam as estrelas à noite, ora escondidas pelas luzes da cidade.
Criaram eles, por sábia intuição, uma interpretação simbólica do movimento aparente dos planetas mais próximos ao longo da circunferência do zodíaco. Uma circunferência não tem princípio nem fim mas escolheram este momento próximo, o equinócio da Primavera, para seu início e recomeço.
Chamaram Peixes ao tempo em que estamos e Carneiro àquele em que vamos entrar, a 21 de Março, como todos os anos. Carneiro, a coragem de se atirar de cabeça, sem medo das consequências, de iniciar coisas, e Peixes a fé, o que transcende a razão, a humildade dos sábios.

Quis o Destino que, nestes tempos de mudança, este ano, totalmente visível na ilha do Encoberto, também chamada Avalon por metade dos nossos avós, mas visível parcialmente em Portugal a partir das oito horas do dia 20, haja um eclipse solar.
“Lunático”, por breve tempo, o astro-rei, o símbolo da Razão, deixa-se esconder pela Lua, o símbolo da falta dela (LOL), umas horas antes de “recomeçar” o seu ciclo anual, de começar a encorajar as sementes a saírem da Terra, os seres vivos a viverem.
Talvez nos venha lembrar que os extremos se tocam e que a coragem de pensar racionalmente, a saga da nossa espécie, nos trouxe, no fim desta grande aventura, à fé irracional na vida, ao início de uma outra.

2 comentários:

  1. Fale da vida e dos problemas tirsenses e deixe-se de outras filosofias que não interessam a ninguém....

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  2. Caro anónimo
    Antes de 2008 eu dar-lhe ia razão. Entretanto foi possível ir percebendo que há um magno problema global a condicionar tudo. Estamos a ser manipulados para pensar que o sistema se não pode mudar. Pode. Mas é preciso que as pessoas estejam conscientes dessa necessidade; em todo o mundo. Depois, pacificamente, darão força à criação de democracias directas e a oligarquia ficará a falar sozinha, deixará de escolher os nossos representantes porque deixaremos de ter representantes para ela controlar. E, sem representantes, decidiremos que a criação de moeda deixe de estar na mão de privados, em democracia o dinheiro é um serviço público, não se destina a criar pobreza, como acontece actualmente.
    Os tirsenses não podem ser uma ilha de abundância num mundo em que o progresso técnico é usado para enpobrecer! Não lhe terão acesso enquanto não mudarmos o sistema.

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