Grande parte da classe média portuguesa vai ter insónias, hoje. O espectro do Comunismo foi invocado pela propaganda oficial e mete medo. Os cruzados cristãos, no século XI, comeram, mesmo, muitas criancinhas muçulmanas, em Constantinopla (e estamos a pagar esse crime tão antigo) mas não foram os comunistas! Por outro lado, Stálin mandou, de facto, muita gente inocente morrer de frio na Sibéria mas é mais fácil compará-lo, hoje, aos que dizem que “não há alternativa” que ao secretário geral do PCP.
Hoje, trata-se, apenas, caros colegas em burguesia, do funcionamento normal da democracia parlamentar, trata-se de um governo do PS que negociou o indispensável apoio de uma maioria de deputados na Assembleia da República; alguns deles são comunistas, sim, mas cumpridores da Constituição -- ao contrário dos que apoiavam o defunto governo, dado a governar fora da lei.
Nos anos 60 do século passado, legislavava Salazar, os portugueses viam a França como a terra prometida. Tanto desejávamos uma democracia parlamentar burguesa que o Partido Comunista se reuniu e decidiu criá-la, chegar ao poder pelos votos. Nunca chegou; mas devemos-lhe, em grande parte, esta democracia, “o pior dos sistemas políticos, com a excepção de todos os outros”.
E eis que os comunistas se decidiram a usar os votos que tiveram para derrubar um governo exageradamente a favor do poder financeiro e para permitir um governo alternativo. Afinal, há alternativa!
Hoje foi um dia em que os democratas se sentiram felizes. Um caminho pacífico para alguma decência na política, quem sabe? Uma esperança que vem de longe…
E “não há machado que corte / a raiz ao pensamento!“:
Portugal volta, enfim, à civilização europeia, empobrecido, embora, depois de um longo passeio pelo terceiro mundo.
Parabéns aos deputados democratas, à metade racional do hemiciclo, à decência com que se comportou perante a irracionalidade da metade direita.
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