quarta-feira, 9 de março de 2016

A última frase escrita por Fernando Pessoa

O homem não deu ponto sem nó, os rabiscos que deixou sabiam que seriam encontrados (e quando!).
Donde que o último deles, escrito na véspera de morrer, possa ser a última pedra de uma grande construção.
“I know not what tomorrow will bring”

1. Podemos ler o Fernandinho assustado que não sabe o que vem depois da morte.
2. Podemos ler o escritor que se armou em profeta e nos quer dizer que só estava a escrever, a fingir.
3. E podemos ver o sábio que resume o que sabe.

Passamos a vida a desejar coisas que aconteçam e a reagir, desde com birras até com estoicismo, a que não aconteçam como as desejámos. E se desejássemos não saber o que acontece? Se aceitássemos o que não sabemos que queremos como o que queremos?
Só quando não sabemos o que vai acontecer amanhã estamos vivos.
“Não sei o que o amanhã trará” pode ser saber que se quer cumprir o destino e que se o não conhece.

EPITAFIO DE BARTOLOMEU DIAS

Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,

O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.


s. d.
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 
(Lisboa: Ática, 10a ed. 1972): 64.


3 comentários:

  1. És uma caixinha de surpresas. ...
    E o Pessoa também. ...

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  2. És uma caixinha de surpresas. ...
    E o Pessoa também. ...

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  3. Pessoa traduziu livros de Teosofia e disse (em carta ao Sá Carneiro, creio) que ficou muitíssimo impressionado… ou seja, Pessoa é “new age”. Decidiu aceitar o Destino, respeitar as Erínias --e, paradoxo, sabia que somos livres, que temos livre-arbítrio. Que criamos o nosso destino.
    Mais dia menos dia a liberdade deixará de surpreender! Obrigado por comentares;-)

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