terça-feira, 26 de julho de 2016

Despeça o barbeiro, Monsieur le Président!

Vi, há pouco, na televisão, um senhor que dizia que Portugal é o único país da União Europeia em que os muçulmanos não têm dificuldade em se integrar. É bom ouvir um português (que deve ter apreciado o golo do Eder como os outros), que, por acaso, é muçulmano, fazer essa justiça à nossa cultura, a que costumam chamar universalista mas que é, simplesmente, uma que põe o coração no centro, que é o lugar dele. Somos civilizados sem dar por isso, não nos concebemos a discriminar minorias -- embora a estupidez exista entre nós, existe menos... gosto de pensar assim!
Ao seu lado, também a responder ao locutor, um padre católico, que usou a palavra "primário" para as atitudes irracionais que têm, por exemplo, as claques de futebol, ou as pessoas que se deixam levar pela propaganda xenófoba crescente.
Os terroristas não são bons muçulmanos, são pessoas que merecem mais a nossa compaixão que os que mataram -- esses já estão ao abrigo de "primarismos". Neste tempo de máquinas electrónicas como estas que nos unem, leitor, podemos fazer uma analogia dizendo que uma pessoa que escolhe ser terrorista (temos sempre escolha, bem difícil, por vezes) é uma pessoa que está "avariada", que tem um vírus que a afasta da harmonia universal que é o funcionamento que nos interessa ter.

E há uma epidemia. Portugueses sensatos, pessoas amigas, deixam-se levar pela xenofobia de forma primária, não discriminando entre terroristas e muçulmanos normais, imaginando o perigo onde o não há... é bem verdade que o medo é aquilo de que devemos ter medo;-)

Oxalá (palavra que vem do árabe, de inshallah, literalmente "que seja a vontade de Deus"), ou mais cristãmente, Deus queira que o senhor na televisão, que deve ser o equivalente a um padre, no Islão, tenha razão, e Portugal tenha resistências naturais a essa epidemia. Porque ela é perigosa.

As nossas democracias estão mais doentes que estavam quando o sr. Hitler conseguiu cerca de 30%  de votos e manipulou o primarismo (que sempre existe) de um povo de filósofos, de matemáticos e de músicos para chegar a ditador e matar milhões de pessoas inocentes.

Nem só os americanos, que gostamos de tratar com condescendência, correm o risco de eleger um xenófobo perigoso, o sr. Trump. Marine Le Pen pode ser a próxima presidente de França, por inépcia dos democratas, tão "primários" como os outros. Seja falso ou verdadeiro, corre em França que François Hollande tem um barbeiro presidencial, com um salário de sete ou nove mil euros por mês.
Leve a epidemia a sério, monsieur le Président, olhe que já há quem diga que a Marine, pelo menos, não teria um cabeleireiro pago pelos contribuintes -- esquecendo que o sr Hitler também era inteligente, também sabia manipular emoções e ganhar os votos mais "primários".

Despeça o barbeiro, Monsieur le Président!

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