O Jornal de Santo Thyrso de hoje informa-nos do novo alento do velho projecto de edificar um novo edifício para o Hospital Público (projecto prometido pela ministra Leonor Beleza).
Cautelosamente (a geringonça continua a temer os lobis da medicina privada), apenas se fala de um edifício complementar, sem que o actual fosse destinado a outra coisa. É que o Estado paga uma renda à Misericórdia, a quem o edifício foi devolvido (em vez de expropriado) e a Misericórdia, sem essa renda, teria a vida dificil -- perder-se-iam votos, o motor das obras! Mas é claro que seria menos oneroso para o Estado e mais prático para os serviços fazer um Hospital novo, com todas as valências no mesmo local e livrando-se o Estado dessa renda.
Vamos, porém, ser optimistas (ou ingénuos!) e ver na notícia um recuo do poder político das empresas privadas de saúde, que têm direito constitucional a existir, mas que têm sido beneficiadas pelo Estado de forma chocante. É uma situação análoga à das escolas privadas, em que o Estado constrói uma Escola Pública mas continua a pagar à escola privada da zona, com quem tinha um contrato, por não haver, ali, uma escola pública, mesmo depois de a construir: é a conhecida submissão do poder político ao poder financeiro.
Mas o Hospital é uma boa notícia! O projecto tem razão de ser --há doentes!-- e resistiu aos interesses privados que o atrasaram durante tantos anos.
Pretende servir, também, a Trofa e Famalicão. Do ponto de vista de Santo Tirso é um equipamento, tem influência no Urbanismo da cidade, chama-a para onde for edificado.
Escrevi, há anos, um artigo no Jornal de Santo Thyrso, "A Cidade Desnorteada", em que falava do indesejável crescimento para Sul da cidade e da necessidade de construir equipamentos na margem Norte do rio, para a chamar para lá, para a encosta virada ao Sol, onde ficam todas as nossas cidades, como Lisboa, o Porto ou Coimbra. Santo Tirso começou à volta do Mosteiro, na margem Sul, obedeceu ao primeiro grande equipamento que foi feito, o parque D. Maria, um passeio público localizado para usufruir da vista, também na margem Sul, depois o velho Hotel Cidnay, perto do parque, para os turistas do Porto que nos visitavam, o Liceu -- e o urbanismo estava lançado para Sul!
Apesar de a burguesia do século XIX ter construído as suas casas em Além-do-Rio, perto da Estação, são os equipamentos quem leva a cidade atrás, não a habitação. E veio o Mercado, sempre para Sul, os Correios, o novo Cine-Teatro, as novas instalações da Câmara, o novo Tribunal -- afastando a cidade, cada vez mais, do seu centro histórico, que é o Mosteiro.
A zona industrial, por exemplo, localizou-se muito a Sul, ao que dizem em terrenos comprados prevendo a grande valorização que teriam, vendidos ao Município para esse fim. Há uma contradição entre urbanismo e especulação, que espero seja resolvida a favor do urbanismo. Um Hospital deve ter boa exposição solar e ficar numa zona arborizada, não muito longe do centro histórico da cidade. No caso de Santo Tirso, deve ficar na encosta a Norte do rio, contribuindo para corrigir o excessivo crescimento para Sul, que descentrou a cidade. Oxalá esta seja a opinião pública -- e as pessoas tenham, como nos foi prometido, influência na escolha da localização do Hospital. Afinal, este é o tempo da "geringonça" e trata-se do futuro da cidade.
A distância entre a Estação de caminho de ferro e a Central de camionagem (que, idealmente, ficariam juntas) mostra a necessidade de levar o crescimento para Norte.
Alguma coisa foi feita nesse sentido, nos últimos anos: a nova ponte e o percurso pedonal para o parque da Rabada e, na margem Sul mas ainda perto do rio, a utilização pública da antiga "fábrica do Teles" e o restauro do museu Abade Pedrosa, com o novo museu de escultura ao ar livre. Espero que o Hospital seja um bom projecto, funcional, e que ajude a cidade a recentrar-se no Mosteiro, estratégia urbanística correcta, que foi apresentada ao Presidente Jorge Sampaio, quando cá veio, e que espero continue a ser seguida.

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