terça-feira, 13 de setembro de 2016

Perguntaram-me se acredito no Pai Natal

No meu tempo era o menino Jesus quem trazia os presentes mas os meus Pais não tiveram coragem de negar que eram quem os comprava.
O pensamento infantil é subestimado pelo senso comum, exactamente porque é desprovido de senso comum: é bom senso!

O sorriso de uma cria humana de uns meses é, para mim, um vislumbre do paraíso. Beleza é termo pouco, trata-se de um projecto que todos tivemos e que o tempo nos foi diluindo: a confiança nos outros, a vontade de viver com eles e, com eles, criar o paraíso na terra.
O sorriso dos primeiros meses diz, simplesmente: cheguei, estou morto por começar a fazer da terra um paraíso!

Alguns de nós esquecem-se, outros desistem mesmo, a “realidade” das sociedades humanas pede que se não traga o coração aberto por aí.
Pedirá? Ou pede exactamente o contrário?

O dilema é se será preciso criar, antes, a abundância para todos os humanos, para que confiem uns nos outros, ou se será preciso esquecer a aprendida desconfiança para que haja abundância?
Trata-se de uma tarefa, a de recriar a confiança perdida, é para essa tarefa que aqueles sorrisos chegam, convidando. A sabedoria que procuramos nos velhos, encontram-na estes nos mais novos; basta ver como conversam, a confiança que partilham, os sorrisos que iluminam os sítios mais escuros, mais amedrontados.

Estamos em tempos de mudança. Saímos do paraíso há cerca de oito mil anos, começamos a semear, a plantar e a criar animais. Isso trouxe a necessidade de contratar alguns “selvagens” que ainda não conheciam as novas técnicas (ia dizer “tecnologias”, como ora se diz, mas é uma palavra feia) e de lhes dar a tarefa de nos proteger de outros “selvagens”, os que vinham roubar a nossa produção; tão só porque ainda não dispunham do novo conceito de “roubo”: estavam-se a servir à mesa da mãe terra.
Eramos cinco milhões, há dez mil anos; foi graças à agricultura que hoje somos sete milhares de milhões.
Antes da agricultura os recursos eram partilhados, não havia celeiros e salgadeiras, fazia-se uma festa e comia-se tudo! Depois veio a organização, a poupança, a ganância e a guerra. Ficou a memória do paraíso.
Os que o queremos recriar ainda somos minoria, tratados como gente que acredita no Pai Natal. Queremos usar a ciência e a técnica, a nova “sociedade do conhecimento”, a “robótica”, para criar o paraíso, um planeta aprazível para dez milhares de milhões de humanos, livres e “sinédicos”. Criei agora esta palavra, assim como “simpático” quer dizer que comunga a dor dos outros, “sinédico” comunga o prazer.
Que nos impede? Apenas ainda não termos chegado ao número mágico do limiar. Não se trata de uma maioria numérica ou da força das armas (coisa a esquecer): o limiar é uma tomada de consciência colectiva que tornará impossível voltar ao tempo em que se "ganhava o pão com o suor do rosto”. 

Nunca acreditei no pai Natal mas acredito no que em nós há da criança que fomos.
Nota: sinedónico parece-me melhor!
http://www.ncdc.noaa.gov/paleo/ctl/clisci10k.html

Sem comentários:

Enviar um comentário