terça-feira, 20 de maio de 2008

Da importância da censura

A liberdade de expressão é coisa recente e frágil. Nas sociedades antigas a censura estava dentro da cabeça das pessoas, cabeças pelas quais não passaria a ideia de pôr em causa as regras de funcionamento das sociedades em que viviam. Se passasse seriam consideradas loucas e não seriam compreendidas, nem sequer escutadas.

A globalização pôs sociedades dessas em contacto com os “nossos” costumes (bem! sempre temos uma constituição, à míngua de costumes democráticos locais) e a reacção dos que lucravam com a velha ordem foi, por vezes, brutal. Porque a censura é, sempre, uma forma de quem lucra com um sistema se proteger da mudança das regras; é sempre reaccionária, seja a de Stálin, seja a de Santo Tirso. Com a mundialização apareceram coisas tão estranhas como uma escola de jornalismo no Afeganistão democrata, “dominado” pela NATO. Um dos seus alunos está, neste momento, preso e condenado à morte, alegadamente por ter desrespeitado o Corão (o que ele desrespeitou foi uma sociedade que ainda não respeita a dignidade humana).

O fundamentalismo, pretensamente “islâmico”, pode ser visto como uma forma de censura: os cidadãos não se atrevem a pensar de maneira diversa dos que não querem perder o viver a que se habituaram, a submissão das mulheres, o controle da riqueza do país… o terrorismo externo faz parte da forma de aterrorizar internamente desses beneficiários da estrutura tradicional, faz parte da forma de fazer as pessoas terem medo de tudo o que saia dos costumes locais. Usa o Islão, uma religião como qualquer outra, uma religião em que existem pessoas decentes, evidentemente, pessoas que não aterrorizam ninguém.

A intimidação é uma forma muito primitiva de censura (não digo que não seja eficaz!). Na liberal América do Norte pode ver-se o que nos espera e já vai acontecendo entre nós: por exemplo a desinformação. Não sendo possível comprar todos os jornais nem calá-los por outras formas, inunda-se a sociedade com informação que interessa ao poder: água mole em pedra dura… os rapazes do interior dos Estados Unidos foram morrer para o Iraque convencidos que lá havia armas de destruição massiça, porque essa informação se sobrepôs, simplesmente, àquela que mostrou o contrário, que provou a mentira mas que não chegou à maioria das pessoas.

1 comentário:

  1. Esta história de usar os blogs para publicidade -- há inúmeros comentários destes que são apagados automaticamente pelo anti-spam -- vem mostrar-nos como a lei do lucro se sobrepõe a quaisquer outras. É um sintoma dos tempos!

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