segunda-feira, 19 de maio de 2008

Intimidações

Num país livre, como o nosso, não há censura, ponto final. A intimidação é uma forma, menos clara, dela. O BES e o Expresso convidaram Bob Geldof, aqui há tempos, para fazer umas conferências sobre desenvolvimento sustentável. Sir Bob, personagem controverso, a certa altura, disse que Angola “é gerida por criminosos”; mais disse que “uns poucos têm milhões e milhões têm pouco ou nada”.

O Expresso, um jornal que se quer livre, não reagiu mas o BES demarcou-se imediatamente. Porque sentiu o banco essa necessidade? É legítimo pensar que se sente intimidado pelo governo de Angola, onde a produção de petróleo ultrapassou, há pouco, a da Nigéria, onde há muito dinheiro, muito poder; é legítimo pensar que tema perder a sua posição lá (apesar da filha do presidente angolano ser, aí, sua sócia importante). A tentação de usar o poder para intimidar os outros é natural— natural mas inaceitável.

Por sinal Aguinaldo Jaime, ministro-adjunto do primeiro-ministro angolano, reagiu civilizadamente, apenas considerou “injustas” as críticas (que o jornal oficial atribuíra ao whisky). Serão?

Sabemos que, em Abril, o Governo angolano ordenou o encerramento do escritório dos Direitos Humanos da Nações Unidas em Luanda. Sabemos que quase todo o povo vive quase na miséria…

Mas sabemos também que há um esforço real de democratização, que talvez os governantes já não confundam os dinheiros públicos com os seus, como nos velhos tempos da guerra, das fortunas transferidas para a Europa.

Olhamos paternalistamente para Angola, país africano, mas, nas nossas autarquias, não haverá intimidação, não haverá medo de dizer o que possa incomodar o poder? Este blog, onde quem quer, incluindo o poder, pode publicar tudo, sem censura, recebeu ontem um recado deste, que considerou “injustas” as críticas aqui feitas. Serão?

Há quase dois meses que não aparece um post neste blog mas foi agora, depois de o poder lhe mostrar como poderia ter feito gorar uma sua iniciativa, de interesse concelhio, aliás, que o mensageiro escolhido recebeu e transmitiu o recado. Deve, quem se não demarcar claramente do que aqui for dito, temer represálias? Ficarão os angolanos assim tão atrás, em subtileza, na intimidação censória?

Vou perguntar a quem foi intimidado se me permite que conte a história. Se não permitir confirma a intimidação, confirma que continua a haver censura em Santo Tirso.

E o que se não pode permitir é que haja medo de falar, no Portugal de Abril.

P.S.: Se o poder me quiser intimidar não incomode intermediários, “não é bonito”! Nem “justo”. Só eu devo sofrer as consequências da minha lealdade à Declaração Universal dos Direitos Humanos e, no caso deste blog, à causa da liberdade de imprensa.

P.S. 2: Não sou do PSD :-)

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