domingo, 20 de dezembro de 2009

Poema XXXVIII de O Guardador de Rebanhos

Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu,
E nesse puro momento
Todo limpo e sensível
Regressam lacrimosamente
E com um suspiro que mal sentem
Ao Homem verdadeiro e primitivo
Que via o Sol nascer e ainda o não adorava.
Porque isso é natural - mais natural
Que adorar o ouro e Deus
E a arte e a moral...

Alberto Caeiro

O Falhanço de Copenhage

Diante de um copo meio cheio de (bom!) vinho, o pessimista diz que está meio vazio e o optimista que está meio cheio. Os governos dos países mais desenvolvidos, que têm facilmente acesso ao grande capital quando se trata de salvar o capitalismo, não o tiveram para salvar o planeta.
É verdade, o acordo não é suficiente para chegarmos a uma atmosfera segura, ou seja, com menos de 350 partes por mil de CO2

Mas lá chegaremos! O movimento mundial de milhões de cidadãos que lá querem chegar não vai parar! Exigirá do capital que sirva para salvar o planeta.
Tirando as manifestações em todas as cidades do mundo para que não começasse a guerra do Iraque, este é o primeiro sinal da globalização da opinião pública, as pessoas a pedir aos poderosos que ajam bem, em todo o mundo, ao mesmo tempo. Falhámos, é certo. Mas “o povo é quem mais ordena” e, no próximo ano, a pressão pela sobrevivencia continuará, vamos ter um Verão quente—um Inverno quente, no Hemisfério Sul! Começa em Bona, a 31 de Maio de 2010.



Aconselhava o professor Agostinho da Silva a, “das dificuldades, tirar vantagens”. Pois pode-se considerar uma vantagem o aumento da consciência global de que o sistema económico precisa de ser profundamente transformado. De que enriquecer não é o supremo desígneo deste primata de última geração que somos. Para já trata-se de tornar real o direito à sobrevivência de todos, incluindo as gerações futuras.

Só este despertar da consciência global poderá impedir os políticos eleitos de continuar a gastar os recursos disparatadamente, como o milhão de euros que a Câmara de Paredes (PSD) vai gastar a fazer um mastro de 100m para uma bandeira. As dívidas nada preocupam as Câmaras, convencidas que o que os eleitores querem é obra, betão armado. Em Santo Tirso (PS) um milhão de euros é feijões. Aliás seguem o exemplo do governo central, que anunciou recentemente que vai gastar biliões a fazer uma linha de combóio inútil. Note-se a manipulação habitual da opiniáo pública: logo depois de anunciar esses gastos inoportunos anunciou ter feito a lei que permite casamentos entre pessoas do mesmo sexo (aliás não fez mais que cumprir a Constituição, direitos iguais para todos, não pode haver discriminação por orientação sexual). Entretida a opinião pública com um assunto agendado para este momento para a entreter, ela afasta a atenção dos gastos de dinheiros públicos, assunto difícil, não somos um povo muito dado a fazer contas!
Obama não é um Messias, claro, será, quando muito, um S. João Baptista, que prepara o caminho para a grande transformação estrutural que só as pessoas poderão forçar a acontecer.
Como todos os governantes, é “governado” pelo capital, o qual, por sua vez, não é “governado” por ninguém, é ingovernável. Mas suspeito que Obama gostaria que o interesse público, pelo menos, o controlasse. Como todos os democratas.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Momento decisivo para o Mundo

Sem planeta não há Santo Tirso. Copenhage é o assunto mais importante, hoje, agora!
Eis o que recebi da AVAAZ:

Caros amigos,

Incrível. Ontem a imprensa estava dizendo que Copenhague já começou errado.

Mas 24 horas depois, com milhões de assinaturas na petição, centenas de milhares de telefonemas e apelos massivos de todo o planeta, temos a chance de conseguir um acordo!

Governantes estão freneticamente fazendo em horas o que eles falharam em fazer por anos. Mas não vamos nos iludir, ainda estamos longe de um acordo que poderá impedir o aquecimento catastrófico de 2 graus e ainda há um grande risco das negociações falharem. Nós sabemos que a pressão está funcionando então vamos usar estas últimas horas para dar um empurrão final para conseguirmos um acordo pra valer, não um acordo maquiado e fraco. Assine a incrível petição de 13 milhões de nomes no link abaixo se você ainda não o fez, e encaminhe este email para todos que você conhece:

http://www.avaaz.org/po/save_copenhagen

A petição se tornou o centro de uma revolta global contra o fracasso de Copenhague. Os nomes da petição estão sento lidos por jovens que tomaram os espaços da conferência e em prédios de governos ao redor do mundo, incluindo o Departamento de Estado dos EUA e o escritório do Primeiro Ministro do Canadá.

O mais impressionante é que os próprios governantes estão apelando para as pessoas agirem. O Primeiro Ministro do Reino Unido Gordon Brown fez um apelo para 3000 membros da Avaazem uma conferência por telefone na quarta-feira, pedindo uma campanha histórica pela Internet de 48 horas de cidadãos ao redor do mundo. Ele disse que o nosso impact é fundamental. O Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu fez um apelo em uma das 3000 vigílias organizadas pelo nosso movimento proclamando “Marchamos na África do Sul e o apartheid caiu, marchamos em Berlim e o muro caiu, marchamos em Copenhague e VAMOS conseguir um acordo pra valer”.

A história está sendo escrita em Copenhague, mas não pelos governantes e sim por nós, milhões de pessoas ao redor do mundo que estão engagados diretamente, minuto a minuto, como nunca antes, na luta para salvar o planeta. A pressão está funcionando, vamos dar tudo de nós.

http://www.avaaz.org/po/save_copenhagen

Com esperança e determinação,

Ricken, Alice, Ben, Paul, Luis, Iain, Veronique, Graziela, Pascal, Paula, Benjamin, Raj, Raluca, Taren, David, Josh e toda a equipe Avaaz


Visit msnbc.com for breaking news, world news, and news about the economy



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009


Assim como permitiu as técnicas que fizeram a revolução industrial, assim a Ciência permitirá as técnicas que farão a revolução ecológica em curso.
As energias "limpas", que aproveitam o Sol, o vento, as marés, estão em plena expansão.
Como sempre, os poderosos e os seus representantes, os políticos, estão atrasados. A Europa, depois de muita discussão, arranjou uns sete biliões de euros para incrementar essas energias nos países pouco desenvolvidos, para que eles não sigam o mesmo caminho que nos trouxe aqui, o das energias poluentes. É o preço da linha Porto/Lisboa do TGV (que, por sinal, dará prejuízo). A Europa, vinte e sete países, deu a esse assunto a mesma importância que um pequeno país dá a uma linha inútil.
Aconselho os leitores a ver o filme de Michael Moore, "Capitalismo, uma história de amor", enquanto este documentário está por aí. Este sistema, as bolsas de valores, o capitalismo financeiro internacional, está claramente desajustado à economia que ora começa. Qualquer ideia interessante se poderá financiar no internet, sem as bolsas de valores. Um outro mundo, democrático, mais racional e mais justo, está a nascer. Há muito existe a palavra para o que se seguirá ao capitalismo, para o que virá depois destes 250 anos iniciados com a revolução industrial. A palavra é Socialismo, mas dele só temos o nome, ainda não sabemos como funcionará. Sabemos que não será esta espantosa atribuição de recursos colectivos ao enriquecimento de alguns manipuladores financeiros. Sabemos que não será o socialismo de Stálin nem de Sócrates -- mas pouco mais sabemos!
Oxalá hoje, em Copenhage, pelo menos não façam um acordo pior que o de Quioto.

Nesta entrevista com o Presidente da Câmara de S. Francisco podemos ver a luta que se passa entre os interesses financeiros e o interesse público. Os carros eléctricos começam a ser vulgares e a independência energética da cidade está prevista para 2020. Dentro de um mês todas as iniciativas que poupem energia, como painéis fotovoltaicos vão ficar de graça para quem os instalar. Este presidente verde é a favor do TGV entre S.Francisco e Los Angeles :-) Mas estamos a falar de milhões de passageiros e de muitos milhares de voos que se evitam.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Esperança


Começou agora a Conferência de Copenhaga, em que o Mundo põe a esperança de salvar a vida no planeta da destruição que já começou.

Nestes últimos dias têm aparecido informações díspares de cientistas que põem em causa o diagnóstico: o CO2 que descarregamos na atmosfera como causador das alterações climáticas. Basta lembrar o que se passou há 40 ou 50 anos, quando, depois de cientistas ingleses terem mostrado que o hábito de fumar cigarros estava estatisticamente ligado ao cancro, apareceram artigos científicos a combater a ideia, durante 20 anos. Hoje a correlação está firmemente estabelecida, ninguém duvida que fumar provoca o cancro. E ficou provado que foram as lesadas companhias de tabaco quem lançou essa confusão "científica". Mesmo que, por absurdo, fosse inócuo lançar estes milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, que podemos fazer para evitar o aquecimento global, que se está a passar diante dos nossos olhos, senão reduzir as emissões de CO2?

Sou dos que acredita que, do sucesso desta conferencia que ora se inicia, do sucesso desta próxima semana, depende o futuro da vida na Terra. Somos muitos milhões, os que estão, em espírito, com os conferencistas, desejando o sucesso de Copenhaga!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Da importância da estética

Hoje senti a sombra do “velho abutre” (não é um arrepio, a sensação, é um desânimo pesado, escuro e frio).

Para os gregos antigos verdade e beleza eram a mesma coisa. As contradições entre as diferentes poéticas, ou seja, os diferentes processos de criar arte, são as contradições sociais, as lutas políticas, a verdadeira origem das “ideologias”.
O velho abutre, que Deus tenha, via beleza no “viver habitualmente”, rural, da Idade Média, antes do Renascimento, antes do poder da burguesia, que, por sinal, ora se começa a extinguir, neste século XXI.
A poética da dignidade humana, da carta dos direitos humanos, com que afugentámos o velho abutre, tem a ver com a liberdade como valor e com o respeito pelo outro, com o cuidado de que a nossa liberdade não vá prejudicar ninguém. Esse cuidado, manifestamente, faltou ao grupo dominante na nossa sociedade e a poética do 25 de Abril está em risco de perder para outras, daí a sombra, o seu pairar.

A noticia que iluminou isto foi a de que o vice-presidente da bancada do PS lançou a suspeita de que Manuela Ferreira Leite tenha tido acesso, três meses antes de nós, às escutas telefónicas entre José Sócrates e Armando Vara; isto por ela ter acusado, há três meses, o primeiro ministro de ter mentido no Parlamento, ao garantir que nada sabia sobre o negócio da TVI.
A liberdade de continuar as negociatas invocou os mecanismos de respeito pela liberdade, privacidade, esqueceu que foi com a verdade que a nossa poética se impôs à medieval!
Se nos não demarcarmos dos oportunistas, chamemos os bois pelos nomes, outras poéticas substituirão a nossa.

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas

Sophia de Mello Breyner Andresen