Diziam-me, antes do 25 de Abril de 1974, que as democracias só podiam existir nos países industrializados do Norte, por um lado porque exigiam um nível de riqueza colectiva que não tínhamos, incluindo nisso um nível de instrução pública que não tínhamos, e, por outro lado, porque só nos países protestantes a honestidade e o dever cívico eram características culturais; a democracia não seria a forma de governo natural aos países católicos do Sul.
É porque quero continuar a viver em democracia que a memória me trouxe essas velhas discussões. Em Italia, como cá, Berlusconi está a usar a democracia para criar e manter os seus privilégios e os de uns poucos. A lei da mordaça, que propõe agora, vai buscar a nossa preocupação democrata com a devassa pública da vida privada, a nossa natural antipatia às escutas, para proteger a censura e a devassa aos dinheiros públicos que nada têm de democrata.
Corrijam-me os historiadores, que agradeço, mas parece-me que a nossa primeira democracia, em monarquia, à maneira inglesa, deu a ditadura de Joao Franco porque os dois partidos que se revezavam no poder fizeram dela o processo de manter os seus privilégios; a mesma coisa se passou com a primeira republica, chamemos-lhe uma democracia à francesa, dois partidos que repartiam a gamela e se deixaram cair no 28 de Maio. A nossa democracia à portuguesa tem dois partidos que se parecem entre si, se apoiam e se parecem com os falhanços anteriores.
Ontem, no Público, o "meu" deputado europeu, Rui Tavares, insurge-se bem contra esta tendência actual dos "media" de demonizar os políticos mas não estará a falar de excepções, como ele? Sei que a falta de confiança nos políticos só põe em risco a democracia mas a realidade do nepotismo, do encobrimento da corrupção, tem responsáveis: os políticos! Não todos, claro! mas parece evidente ao eleitor que é preciso que as listas que lhe são propostas para nelas votar sejam compostas de pessoas em quem confie e não de pessoas em quem confiem os que estão mais chegados à gamela.
É simples: ou os partidos transformam radicalmente a forma de escolher aqueles que nos vão propor para elegermos e vemos esperança de que nos representem ou o regime cai. O resultado costuma ser um desastre, costuma ser uma gamela defendida por um cordão policial. Note-se que esse regime pode continuar a chamar-se a si mesmo de democracia e ai de quem disser o contrário!
Creio que estamos na véspera de grandes manifestações democráticas exigindo aos partidos que sejam os seus programas e só usem os dinheiros públicos para os cumprir.
“É simples: ou os partidos transformam radicalmente a forma de escolher aqueles que nos vão propor para elegermos e vemos esperança de que nos representem ou o regime cai.”
ResponderEliminarCaro amigo, usei a sua frase só para reforçar quanto é complicado o sistema político em Portugal.
Não é nada simples. Não é simples, porque o “clubismo” está acima de tudo e de todos e por outro lado, para se entrar na “equipa” do “clube” é necessário aceitar as condições estipuladas por quem lá está.
Não é por acaso que conclui; “O resultado costuma ser um desastre, costuma ser uma gamela defendida por um cordão policial”.
Não é simples, pois para alterar tudo isto, Portugal precisa de “Baltazares Garzóns", nos lugares dos nossos “Lucianos Varelas”.
Nós já tivemos o nosso “Baltazar Garzón”, …. Mas por pouco tempo. A ousadia ia-lhe custando uma carreira. “Juiz Rui Teixeira tem carreira estagnada”.
Só porque teve a ousadia de cumprir o seu dever, mandando prender (Carlos Silvino (Bibi), Carlos Cruz, Manuel Abrantes, Jorge Ritto, Hugo Marçal, João Ferreira Diniz e Gertrudes Nunes, Paulo Pedroso, Herman José, Francisco Alves e Gertrudes Nunes) todos aqueles que, segundo as provas apresentadas, praticavam pedofilia.
É este Portugal que temos. Estamos num país dos “Paulos Pedrosos”.
São estes os nossos deputados.
São estes que ditam as leis democráticas.
"É este o Portugal que temos", diz. Parece outro pais, o que descreve, nao o meu. Parece um em que todos se querem chegar à gamela e, para isso, empurram os que têm à frente. Passam por cima da Constituição, por exemplo, esquecendo que os arguidos, como toda gente, têm direito ao bom nome e reputação.
ResponderEliminarPortugal não precisa de juízes salvadores, precisa de nós, os portugueses. Precisa de que nos civilizemos.