quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pediu-me o Notícias de Santo Tirso, quando nasceu, que comentasse ou criticasse o primeiro número, nas suas páginas.
Saudei o aparecimento de um novo jornal, pois não há democracia sem imprensa livre, mas respondi que não saberia criticar um recém-nascido, o qual acarinhamos e no qual só vemos as nossas esperanças. Seis meses depois, já tenho nas mãos um número "normal", o deste mês (que, por acaso, traz uma fotografia tirada do mesmo sítio onde tirei a do cabeçalho deste blog), já posso ter uma visão global e deixar aqui uma crítica, que mantém todo o carinho e esperança que a extrema juventude do jornal inspira.
"10 milhões de euros", sem dúvida uma informação, e relevante; mas o que nos interessa conhecer é o projecto, para avaliarmos se o dinheiro público vai ser bem empregue. A Câmara costuma gabar-se dos milhões que gasta mas o que caracteriza uma boa gestão é conseguir fazer uma boa obra com pouco dinheiro. No interior a informação é vaga, deixa-nos pensar que o jornalista está entusiasmado com a grandiosidade das obras e não tem tempo para se interrogar. De facto é um projecto de urbanismo muito importante, já antigo, cuja apresentação trouxe cá o presidente Jorge Sampaio e que, com a nova ponte, parecia fazer parte de uma estratégia de levar a cidade para a margem Norte. Engano! Como se pode ver na contra-capa do jornal, num artigo sobre a remodelação da praça do Tribunal, a estratégia é continuar a trazer o centro para Sul, lamentavelmente.
"Regenerar" as margens do Ave? Os ecossistemas das margens dos rios estão protegidos por leis internacionais. Tirando as cidades, onde, pontualmente, se toca no rio, não se pode construir a menos de 300 m da margem, salvo erro. Ora um caminho para peões e bicicletes, em contacto directo com a natureza, é uma coisa muito agradável. Mas há que o fazer em madeira, como se tem feito nas dunas da beira-mar, porque as frinchas entre as tábuas permitem ao Sol manter viva a vegetação por baixo do passadiço. O jornal apresenta esta fotografia de uma avenida para peões, em betão armado sobre "pilotis", com o rio ao fundo,

sem mais crítica para além das aspas que coloca em Um "agradável" percurso pedonal e que parece referir-se ao facto de ser palavra inclusa no texto que recebeu da Câmara.
O jornal cumpre a sua missão de informar mas, como digo no texto ao lado, que data do início deste blog, O poder tem sempre meios de nos informar do que faz bem feito. É para discutirmos aquilo que é polémico, que alguns consideram errado, que existe a imprensa local.  Altamente polémico, para mim, é o projecto de construir uma escola/ restaurantejunto ao antigo celeiro da escola agrícola. Se é junto ao edficio da eira, o risco é grande. Esse é, simplesmente, o mais belo edifício de Santo Tirso e mantê-lo enquadrado naquele bocadinho de campo deve ser uma prioridade.
O artigo parece-se com algo que poderia ser encontrado na revista de propaganda da Câmara e isso, para um jornal que se quer independente, é preocupante.
O mesmo se passa com o artigo sobre a remodelação da praça do Tribunal. Informação bem vinda mas escassa, apenas aquilo que o  poder nos quer dar: não estará viciado pela presença da grua, o famoso estudo de tráfego que permitiu a luz verde para uma obra que vai incomodar o mesmo tráfego? Não ficará prejudicado o acesso ao Hospital? Não faria mais sentido gastar esse dinheiro a fazer o Hospital novo, prometido pela ministra do prof. Cavaco e esquecido porque "não há dinheiro"? Não deveriam os tirsenses ter uma palavra sobre o projecto? Este tipo de interrogações é o que me parece ter interesse num jornal local.
Mas não pense o leitor que o jovem jornal vai cair na tentação de ser candidato a subsídios da Câmara, porque ele nasceu para ser independente e sabe bem que, sem independência, os jornais apenas servem para publicar fotografias dos autarcas a inaugurar obras.

6 comentários:

  1. As chamadas apresentações públicas dos projectos, não esperam críticas, contributos dos cidadãos... são apenas informativas...
    Pensei exactamente o mesmo quando li sobre a remodelação da praça do tribunal.E precisa ser remodelada? Não haverá mais nada urgente em que gastar o dinheiro? Se os Tirsense deveriam ser ouvidos?? Dever, deveriam... mas não era a mesma coisa...
    Em relação ao jornal, tem toda a razão... informação escassa que mais parecia ter saído do famoso e propagandista boletim municipal...
    Mas é como diz, mais um jornal, é sempre bem-vindo!
    Cumprimentos

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  2. Obrigado por comentar. Eu acredito muito na crítica, na dialéctica. É muito mais interessante uma solução que foi muito discutida que a primeira que aparece. Sobretudo em urbanismo estranho a apatia da população. Antes de ser "adjudicada" (só 4% vão a concurso, em Portugal!) uma obra deveria ser muito discutida. Teria mais qualidade e representaria melhor o sentir dos tirsenses, a sua maneira de ser, o seu gosto.
    Também um jornal muito criticado pelos seus leitores terá mais qualidade. O Notícias de Santo Tirso pôs na capa a fotografia de um pobre rapaz, que era bombeiro, que terá, num momento de loucura, pegado fogo a uma mata. Eu não faria isso antes de ele ser efectivamente condenado. É preciso estar consciente de que essa fotografia lhe destruiu a vida, o futuro. Trata-se de um julgamento popular e a justiça deve ser administrada pelos tribunais. O risco de o jornal ir pelo caminho dos "tablóides", que vendem emoções em vez de informação preocupou-me muito.
    A vantagem de escrever aqui é ser de graça:-) Não temos que pedir sacrifícios aos colegas de redacção que têm ideias lucrativas porque não precisamos de lucro nem temos colegas de redacção! Seriam bem-vindos, por sinal:-)

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  3. Ainda mais simples e barato seria considerar-se apenas o, já existente, trilho de terra batida junto ao rio.

    Já quanto à ponte pedonal para a outra margem é prioritária e já deveria estar construída há muito!

    E que gastem o resto do dinheiro a despoluir o Ave e o Vizela.

    Mas, o pior de tudo é a indiferença dos tirsenses em relação à qualidade da água do seu próprio rio.

    Noutros tempos, "alguém" já teria sido levada "ao pelourinho!"

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  4. Está convidado para "colega de redacção" deste blog:-)...como toda a gente, de resto, basta mandar um e-mail para ter direito a escrever "posts"...mas nunca alguém ligou a este convite:-(
    Em todo o mundo há esses caminhos de terra batida, apenas carreirinhos, por vezes, e vêm nos guias turísticos e têm gente a andar neles; apenas põem, de longe a longe, um sinal de madeira nos sítios onde é mais fácil perdermo-nos.
    São em parques naturais frequentados por citadinos que, por serem citadinos, amam a natureza.
    Mais que megalomania, esta mania dos nossos governantes de construir nos sítios bonitos vem do provincianismo de que padecem, desde Belém à Junta de Freguesia.
    http://www.citador.pt/pensar.php?op=10&refid=200905221400

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  5. Apoio a criação do caminho pedonal, mas penso que se deveria pensar bem para onde se quer que a cidade cresça. Porque inevitavelmente este tipo de equipamentos atraem população. Penso que se deveria ter escolhido uma localização mais central para o parque da Rabada porque não me parece bem que a cidade vá até tão longe. Não é isso que demonstra a estatística de desenvolvimento demográfico que se tem verificado recentemente. O mais certo é que torne muito desagragada com muitos espaços devolutos pelo meio e, pior, resulte na desertificação do centro. Estas políticas de espansão desmedida dos Municípios são erradas, mas resultam da vontade do povo. As Câmaras não tem meios para efectuar tal carga de trabalhos de manutenção.
    Este caminho pedonal, mais tarde ou mais cedo vai ter um viaduto a atravessá-lo a meio, porque a variante para Famalicão não está concluída.
    Concordo que a empreitada da Praça do Tribunal não é prioritária, (é assim que criam inimizades com as restantes freguesias e vontade das mesmas em obter a emancipação), censuro a alteração do arranjo do jardim. Bastaria uma pequena alteração da praça. Porque não os serviços da Câmara a realiza-lo? Porque não fazer a obra por administração directa?, (é o termo burocrático para intervenção deste tipo).

    Cumprimentos,

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  6. Obrigado por comentar. Concordo consigo que as cidades se não devem espraiar para muito longe do seu centro histórico. Escrevi um artigo no Jornal de Santo Thyrso intitulado "A cidade desnorteada", criticando o seu crescimento para Sul. O centro histórico de Santo Tirso é o parque D.Maria II, um típico "Passeio Publico" do urbanismo do século XIX, da "cidade jardim". Mas continuam-se a construir equipamentos importantes para Sul. O passeio pedonal, na margem Norte, é bem vindo, por contrariar esse desnorte antigo. Seria bem vindo um Hospital na margem Norte, por exemplo. Mas não é preciso fazer uma avenida para peões em betão armado, há que respeitar a paisagem!

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