sábado, 4 de setembro de 2010

Reflexões sobre a escrita

A diferença entre falar e escrever talvez esteja na liberdade que a escrita dá ao leitor de nos não ouvir. É que, ao contrário dos olhos, que podemos desviar ou, até, fechar, os ouvidos não são de fechar: somos forçados a ouvir o que não queremos, o que, para nós, é ruído e só nos resta fugir de quem fala o que nos não interessa, sair dali!
Daí que, quando falamos, só o possamos fazer enquanto percebemos a atenção, o interesse de quem nos ouve. Mas, com a escrita, falamos mais despreocupadamente: sabemos que não estamos a invadir o espaço de liberdade de ninguém. O leitor que aqui chegou fê-lo em completa liberdade, não foi "violado" pela minha vontade de me exprimir.
Por isso a censura à palavra escrita me parece descabida: quem não quiser ler, não lê, a liberdade de expressão escrita pode ser total. E por isso não apago comentários nem me coíbo de escrever que me custa que não ouçam algumas ideias que parecem tão importantes e que tão poucos comentários suscitaram.
Como a descoberta, cientifica, de que a igualdade de rendimentos é, seguramente, o objectivo principal da actividade política, aquilo que faz as sociedades melhorarem. Como não estou a falar mas a escrever permito-me desafiar o leitor a comentar esse assunto, ao qual dediquei alguns "posts".
As implicações dessa ideia são tantas que ela, decerto, mereceria comentários.
Que sentido faz apoiar projectos políticos que tencionam manter os grandes rendimentos tão pouco taxados, por exemplo?
Como estou a escrever, não a falar, permito-me perguntar ao olhar do leitor, não aos seus incomodados ouvidos, mais uma vez: se temos poucos recursos financeiros e o povo tão mal servido de saúde, educação, justiça, que sentido faz gastá-los em obras caras sacrificando o essencial?
Não lhe peço desculpa por o ter feito ler este chover no molhado porque não fiz: o leitor é que leu:-)

6 comentários:

  1. Trata-se aqui, essencialmente, de ter um Estado forte ou um Estado fraco.
    O Capitalismo, assenta num Estado fraco, num Estado que delega e que subcontrata.

    Quando uma coisa pública pertencente ao Estado funciona mal, há sempre duas alternativas. Ou põe-se a funcionar bem ou acaba-se com ela. Para o estado capitalista a solução será sempre acabar com ela. Assim será mais fácil e barato. "Deixemos que o liberalismo resolva"…
    Resta-nos reflectir sobre se essa será a melhor solução para a sociedade...
    À partida, seria de pensar que, se “dá dinheiro” a alguém, seria melhor que esse alguém fosse o Estado! Na realidade, isto não acontece, ou por pura incompetência dos governantes ou por estes estarem, dissimuladamente, a defender interesses particulares.

    Perante este Estado fraco sobre o qual assenta a decadente civilização capitalista do mundo ocidental, há duas possibilidades: Ou se inverte a marcha e, democraticamente, voltamos a ter um estado forte que responda verdadeiramente à "consciência colectiva" do nosso país e à sua Constituição, ou continuaremos a deixar isto nas mãos de mercenários liberalistas e pseudo-patriotas que nada poderão contra o forte Estado que, de forma organizada e pragmática, se levanta a oriente, devastando toda a nossa economia.

    E desta, não há liberalismo que nos salve!

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  2. Obrigado por comentar. Não creio que falte força ao nosso Estado, tem tido força suficiente para fazer as coisas chegarem a este estado. O que falta ao nosso Estado democrático é Democracia. As decisões que têm sido tomadas, como essas de entregar serviços públicos aos lucros de privados são feitas sem respeito pela vontade popular expressa repetidamente nas urnas: a social-democracia, que nada tem a ver com o neo-liberalismo serôdio que temos, ainda por cima apregoando-se grande defensor do Estado Social. Não tema a China; é uma grande civilização e o desafio que faz à nossa pode ser aquilo que nos fazia falta para evitar a tal decadência, reinventando a democracia. Para mim, utilizando o Internet.

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  3. Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana.
    (Fidel Castro)
    E se alguma criança adormecer na rua é porque quer ver as estrelas......

    Cuba, onde as crianças não têm acesso a Play Stations (pelo menos com facilidade).
    Nem se sentem inferiorizadas por não vestirem roupas de marca.
    Onde os supermercados não apresentam 60 marcas de manteiga diferentes.
    E a TV não mente a publicitar que os Danoninhos ajudam as crianças a crescer.
    Os carros de luxo não abundam.
    Nem as malinhas Louis Vuitton.
    Mas tem talvez o mais avançado sistema de saúde de todo o planeta.
    E um sistema de ensino í­mpar, em que os professores ensinam e os alunos aprendem, com rigor e disciplina, onde não há lugar para Escolas Novas, estatísticas aldrabadas, pseudo-universidades e Novas Oportunidades da treta.
    E pleno emprego.
    E as ruas seguras, livres de criminalidade e de drogados

    Invejo-lhes, aos Cubanos, a falta de liberdade.
    Falta de liberdade para assaltarem idosos e crianças.
    Falta de liberdade para agredirem professores dentro das escolas.
    Falta de liberdade para dispararem contra polí­cias.
    Falta de liberdade para desrespeitarem o seu semelhante.
    Falta de liberdade para os polí­ticos corruptos que enriquecem à sombra do erário público.
    Cuba, onde tantas coisas faltam, principalmente as supérfluas, as inventadas pelo capital na sua necessidade de se reproduzir.
    Mas onde abundam a solidariedade, a fraternidade e, principalmente, a humanidade.

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  4. Obrigado por comentar. Não sei se sabe que o "link" que fez ao seu nome de comentador é para um filme para o qual também eu fiz um "link", em Junho de 2009, no "post" "Saúde pública ou privada", onde se lê "vale a pena ver este filme". As empresas privadas de saúde só podem ter lucro, existir, se o serviço nacional de saúde for, de alguma maneira, ineficaz. O que ficámos a saber que Cuba gasta com o seu Serviço de Saúde é muito pouco, para um país muito mais rico, como o nosso; ou seja, nada justifica que o nosso serviço não seja melhor que um dos melhores do mundo. A não ser que os interesses privados consigam, de alguma maneira, levar o Estado a desinteressar-se da sua obrigação constitucional para com a saúde.
    De facto a saúde gratuita é uma forma de aumentar a liberdade do povo. Mas a Dinamarca, por exemplo, mostra-nos que não é preciso uma ditadura para fazer isso. Quando agimos bem por medo em vez de ser porque chegámos à conclusão de que é assim que devemos agir, infantilizamo-nos, não somos responsáveis, não existe dignidade humana. A liberdade é condição necessária para que haja direitos humanos no país. Basta um preso político para que, politicamente, o regime seja inaceitável. "Os fins não justificam os meios". O exemplo da saúde em Cuba, porém, é-nos muito útil para exigir ao nosso Estado que cumpra a nossa Constituição: fica mais barato ao país e aos cidadãos.

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  5. Pessoalmente, nunca tive dúvidas que a falta de vontade de ser /ter mais que os outros, é o caminho da felicidade... mas esse é um lema pessoal, pouco partilhado...
    Se a igualdade é o objectivo último da actividade política, talvez devesse haver uma selecção profissional com avaliação psicológica e vocacional dos candidatos a exercerem essa actividade...:) e uma descrição detalhada das funções dos políticos e clarificação do tal objectivo... parece-me que se está provado cientificamente (acabei por ler/ver apenas agora o post sobre a igualdade), os resultados deveriam ser amplamente divulgados... e os cidadãos (numa verdadeira democracia...), deveriam exigir o cumprimento desse objectivo...
    Tem toda a razão quando diz que se a Internet serve para alguma coisa, é também para dar voz (ainda que escrita), à liberdade de cada um... e quem sabe, sacudir consciências padronizadas, infantilizadas... felizmente, ainda selecciono o que leio, ainda tenho opinião crítica, e sim, penso que se não estão assegurados os direitos básicos, não faz qualquer sentido gastar dinheiro em obras caras!

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  6. Muito obrigado por comentar. Quando me referi ao Internet, a propósito da necessidade que há de reinventar a Democracia, estava a pensar na democracia participativa que apareceu em várias cidades europeias, incluindo Lisboa, em que o cidadão vota, na rede, o orçamento da Câmara, propõe e escolhe as iniciativas que têm prioridade. Ainda é apenas um arremedo de democracia, os autarcas controlam, mas é novo e poderia ser o caminho para evitar erros de gestão grosseiros: erros de prioridades!

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