domingo, 24 de julho de 2011

  Passei, agora, num passeio de uma rua do Porto onde um homem, agachado, limpava o chão de um resto de cigarro ainda aceso; depois reparei que, ao lado, um outro dormia e percebi que este se preparava para dormir, também. Bem estacionado, estava um BMW preto, alto e enorme, desses que parecem tanques blindados com todo o conforto lá dentro...
Aquele monstro de ar agressivo parecia defender-se, com seus alarmes sofisticados, destes homens indefesos que dormiam na rua... talvez o seu dono achasse que "era necessário", como dizia aquele norueguês que se defendeu, a tiro, de tantos jovens indefesos, culpados de se preocuparem com a pobreza; eram uma verdadeira ameaça -- mas foram mortos.
Os governantes europeus, reunidos lá em cima pelo medo, deram um sinal de quê, de inteligência? 
Não basta saber História para a fazer. Conhecimentos e inteligência não passam de ferramentas para criar os sonhos. Teremos, europeus, a arte de os fazer sonhar os nossos sonhos? 
(Porque não acredito que se possam sonhar carros tão feios como aquele, nem chacinas tão tolas como aquela, nem moedas tão fortes à custa de tanta miséria!).

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
                                                                                                                                                                           Luís Vaz de Camões

2 comentários:

  1. pois... ninguém comenta...embaralham-se as ideias...ficam os olhos em bico, os queixos no chão, já não há palavras q expliquem, mesmo q expliquem...
    alguém sabe onde se desliga o complicometro?

    ResponderEliminar
  2. Há um explicador: o medo. É o medo que leva algumas pessoas a ficar obcecadas com a defesa do que lhes traz segurança, daquilo a que se habituaram. O medo.
    Há quem não o leve tão a sério, felizmente, há quem saiba que "todo o Mundo é composto de mudança"!
    Obrigado pela crítica!

    ResponderEliminar