quarta-feira, 27 de julho de 2011

Radicalismo

A palavra radicalismo vem de raiz; nas ideias será o que têm de mais primitivo, a sua essência sem floreados.
Porém, as ideias são as flores da evolução biológica, são esperança de fruto, de novas raízes, de continuação da vida, sob nova forma. Uma flor que se toma por raiz recusa transformar-se em fruto, recusa morrer, como é o seu destino de flor, para dar fruto, semente, esperança de novas flores a vir, idênticas mas diferentes.
É vulgar os radicais endeusarem a morte, dizerem coisas como "viva la muerte!", o que é, claramente, o contrário de "viva a vida!", ou seja, a mudança, a evolução. Agarram-se, desesperadamente, àquela forma de vida enterrada, a raiz, esquecendo que "todo o Mundo é composto de mudança", como diz o poeta.

Creio que a ideia de Democracia ganhou a Europa e grande parte do mundo porque propõe a mudança que vem do debate livre de ideias, propõe a discussão da qual nasce a luz, aceita que as ideias são para evoluir e que todas são necessárias para que nasçam as novas, suas filhas. É ideia fértil, a Democracia, é o fruto maduro da nossa civilização e certamente estará na raiz das ideias novas, que os tempos pedem.
Mas é uma ideia grega, melhor, o cruzamento, o fruto, feito no Renascimento, designadamente em Florença (que até parece vir de flor, em português!), da Grécia Antiga com a Europa medieval, de Carlos Magno e de Ricardo Coração de Leão.

É natural que seja na terra dos bárbaros, nos países que mais longe estavam da civilização grega e dos seus admiradores romanos, que o radicalismo cristão, das cruzadas, apareça. Paradoxalmente, onde as flores da democracia moderna atingiram o seu esplendor!
É legítimo, em democracia, que as ideias radicais se exprimam, que se mostrem na ágora (que hoje é a televisão e o internet) e tentem convencer a maioria: da discussão nasce a luz.
O que não é legítimo, o que é morte da nossa espécie biológica, de uma evolução crucial que partilhamos com outros primatas, no seu ADN, é pôr em causa a noção de que é errado matar, de que "os fins não justificam os meios". Sempre que esse radicalismo rebenta (milhares de vezes na História!), ele perde para a poderosa raiz genética, que é a nossa, que nos pede a luta leal, sem matar o adversário.
As manifestações populares que se passam agora, na Noruega, são a prova disso. Oxalá, enquanto vacina para uma Europa já doente, a tragédia tenha sido, pelo menos, eficaz!

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