sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O primeiro dia de Outono

Coincidiu com o Equinócio, hoje de manhã, a chegada aqui, à minha "caixa" do correio electrónico, de um texto que diz ser de 1967 e que é a descrição do segundo dia de aulas, no diário de uma aluna do Liceu de Setúbal; fala da chegada de um professor novo, Zeca Afonso.
Era tão claro, para nós, que havia países democratas para lá dos Pirinéus e que era tempo de acabar com a ditadura! Era tão evidente que deveria haver partidos políticos, que a censura deveria acabar, que haveríamos de ter Democracia, mais ano menos ano! Lembro-me das discussões com a geração anterior, que dizia sermos diferentes dos povos do Norte, que dizia que a Democracia não era adequada à nossa cultura!
Sete anos depois o desejo realizou-se: em 25 de Abril de 1974 o regime caiu e, dois anos depois, estava pronta a Constituição democrata mais impecável da Europa -- e do Mundo! Descansámos.
O tempo passou.
Nunca imaginei, nesse tempo, que poderíamos cair numa oligarquia. Hoje é tão evidente que não vivemos em democracia, apesar de termos partidos políticos e de não termos censura, que o inimaginável aconteceu: surpreendi-me a pensar que, se calhar, a nossa cultura de povo do Sul pede uma democracia estruturalmente diferente da dos povos do Norte.
Não tivemos a Reforma protestante: tivemos a Inquisição; somos diferentes! A nossa História, a nossa cultura, a nossa alma é diferente! Desejamos ainda a democracia, a liberdade, a dignidade humana -- a forma que importámos não nos serviu!
Parecia tão evidente, na minha adolescência, que nos bastaria imitar as leis dos povos de além-Pirinéus! Pareciam tão absurdas as razões dos que diziam o contrário!

Hoje, é minha convicção que nos compete, como povo, reinventar a democracia; criar uma nova estrutura, uma que favoreça a vida, a dignidade humana, a alegria... uma estrutura em que seja divertido viver, sem prejudicar ninguém, sem medo da velhice num asilo miserável, sem a mania da competição, substituída pela da colaboração, pela Liberdade que a Igualdade traz!

E é minha esperança que, daqui a sete anos, a teremos inventado. E que a Europa e o Mundo nos olharão surpreendidos -- com vontade de cá vir, para aprender!

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