quarta-feira, 30 de maio de 2012

Julian Assange extraditado

Em tempos de mudança, como este nosso tempo, a próxima dúzia de anos, há, naturalmente, uma contradição entre os novos paradigmas e os antigos.
Não é surpreendente que escape, ao supremo tribunal inglês, a importância histórica de wikileaks, o direito dos cidadãos à informação toda. Durante séculos as oligarquias nacionais tiveram ao seu dispor o recrutamento gratuito de mercenários -- e informação é poder, a sua divulgação enfraquece-as.
A globalização foi trazida pela técnica e não tem apenas o lado visível e absurdo do empobrecimento dos povos e do enriquecimento das companhias multinacionais. A globalização da informação é o que vai permitir aos cidadãos de todo o mundo tomar o poder às oligarquias nacionais e à internacional.
As guerras, sendo feitas pelos povos, não nascem deles mas da defesa de interesses que não são deles. A emoção patriótica é usada para mobilizar as pessoas, cinicamente. É certo que nenhum povo quer ser invadido, perder o seu direito à diferença -- mas as guerras são sempre uma manipulação desse instinto de ser livre. São um jogo dos poderosos em que os pequenos são apanhados.
Vamos para um tempo em que deixará de ser possível convencer-nos a não respeitar os outros povos, línguas, culturas, direito a serem felizes. Vamos para um tempo em que a maior parte --senão todas!-- as pessoas serão conscientes, responsáveis.
E uma das razões porque isso está a acontecer é o crescente acesso dos cidadãos à informação. O desabar do prestígio mítico das instituições que temos contribui para a nossa consciência e responsabilização crescentes. O último exemplo é o Relatório Anual da Amnistia Internacional que nos mostra como o Conselho de Segurança da ONU está na origem das carnificinas que os que "representam" os países que dele fazem parte dizem combater.
Ou, em Portugal, a consciência que vamos tendo de que os serviços secretos servem os interesses de grandes grupos financeiros, mesmo em tempo de paz. 
Pessoas como Julian Assange estão a viver à lei do século XXI, que ora nasce, com dor -- e com festa!

Exemplo de informação incómoda (3 de Junho): Agora até lemos o Diário da Republica, aqui no Internet! Peço desculpa à Senhora, que pode ter muito mérito para o lugar, mas o pormenor de lhe dar o subsídio de férias e o 13º mês disfarçados de "abono suplementar" mostra muito sobre quem nos (se) governa.

5 de Julho de 2012
Julian Assange refugiado na Embaixada do Equador

Outro exemplo de informação incómoda, na democracia angolana:


quinta-feira, 17 de maio de 2012

As limitações da censura contemporânea


Este documentário passou na RTP2 -- às duas da manhã;-)

O livro com o mesmo nome, e a partir do qual este filme foi feito, documenta melhor a promiscuidade entre o Estado Português e as grandes fortunas, desde sempre.
Portugal é o pais europeu em que a desigualdade de rendimentos é maior, talvez ultrapassado nesse defeito pela Inglaterra. O que seria de esperar do Estado democrático seria que atacasse frontalmente esse problema, sobretudo desde que sabemos as suas implicações.
Porém, não se trata de um Estado democrático, embora o seja, aparentemente, na forma. Trata-se de uma oligarquia cada vez menos bem disfarçada que, sempre que há uma crise internacional, como a de 1929, reage indo reaver as suas perdas aos que dependem dos seus salários e poupando-se a si mesma os "sacrifícios". Os donos de Portugal são muito pequeninos no sistema monetário/financeiro internacional e não estão acima das crises: mas têm à sua disposição o Estado, fazem as leis.

A dificuldade que temos em tomar consciência de que o Estado está nas mãos de uns poucos, de que os protege objectivamente, talvez tenha a ver com a nobreza do nosso povo, com o intrínseco respeito pelo seu semelhante. Abominamos a inveja, achamos que a riqueza dos outros não é assunto nosso -- e não é.
Mas o Estado democrático é assunto nosso. E que ele esteja ao serviço de uns poucos é responsabilidade nossa. Devemos aos nossos compatriotas a criação de um Estado em que haja fair play, a criação de uma democracia.

Os programas de computador que decidem e efectuam transacções nas bolsas de todo o mundo, automatica e instantaneamente, devem ter contribuído para que o sistema monetário/financeiro mundial tenha saído do controle daqueles que o criaram e esteja em falência. Creio que, simplesmente, já não é possível adapta-lo ao nosso tempo, que um outro terá que aparecer.
Entretanto, no nosso cantinho, a partir de alguns exemplos indisfarçáveis, como a EDP ou a CGD, que sabemos que se financiam com o nosso dinheiro e cujos lucros nos não cabem, vamos percebendo a oligarquia. É indecente que sejam sacrificados apenas os mais pobres e isso cria indignação. O paradoxo é termos, os indignados, como aliados, os capitalistas inteligentes, os quais compreendem que, sem poder de compra da população, as falências das pequenas (e de grandes!) empresas continuarão a aumentar.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Reflexões sobre a democracia que temos

Nem os fascistas põem em causa a democracia representativa, nos tempos que correm. Veja-se como os neo-nazis anti-alemães (uma espécie que só existe porque ainda não estava tudo inventado, como diz Rui Tavares, no Público de hoje) passaram de zero para 7% dos lugares no parlamento grego: mais um perigoso grupo terrorista decapitado pelo sistema! Ou veja-se como o ditador sírio vai a votos, depois de ter matado o máximo de democratas que conseguiu. A democracia é como o poder real antes da revolução industrial: inquestionável!
Haverá grupos radicais anti-democratas que contestam a democracia parlamentar. Mas quem põe em causa a democracia que temos, somos, crescentemente, os democratas! Não digo que todos os democratas se tenham apercebido de que o sistema em que vivemos não é democracia mas essa percepção está a tornar-se comum.
Porém, também é comum o pânico que a ideia de perdermos a democracia parlamentar cria, nos democratas! Auschwitz e o Gulag são memórias vivas: os direitos humanos são para ser levados à prática em todo o mundo e têm tido, nas democracias parlamentares, um aliado.
Mas não é imaginável uma democracia sem isonomia, isogoria e isocracia, traduzindo, sem as mesmas leis para todos, sem o mesmo direito a falar livremente na assembleia e sem que todos tenham a mesma participação no poder (é o mesmo "iso" de isótopos, por exemplo, elementos que têm o mesmo lugar na Tabela Periódica)

-  Ora não temos as mesmas leis para todos; não falando nos privilégios fiscais de bancos e de grandes grupos financeiros -- até da bolsa --, sabemos que o cidadão com dinheiro para contratar certos advogados está em vantagem sobre o que o não tem: na prática não há isonomia!
-  Nem temos o mesmo direito a falar livremente na assembleia; falam por nós os nossos representantes -- quando o partido em que votámos conseguiu algum lugar na assembleia -- e é claro que ninguém pode falar por nós quando está a falar por muitos, de facto, pelo partido. Quanto à liberdade de nos exprimirmos fora da assembleia, ela existe, aqui, mas dificilmente temos acesso a escrever em jornais (que têm dono!) e dificilmente poderíamos ser ouvidos no meio da ensurdecedora desinformação e marketing que existe. Não temos isogoria!
- Tão pouco temos todos o mesmo poder de decidir sobre os assuntos públicos; há quem decida por nós -- e por nós decida gastar recursos a convencer-nos de que está a decidir bem. Trata-se de uma oligarquia, o poder de quem tem dinheiro, muito sofisticada porque se trata do poder do sistema monetário/financeiro ele mesmo, cujos fins de acumulação nem a 1% dos cidadãos interessam. Não há isocracia.

Sempre houve, na História e há, na Geografia política do mundo, privilegiados. A democracia é um milagre, fala-se do "milagre grego". E, mesmo na Atenas antiga, com as leis de Clístenes, a maior parte das pessoas não tinha o privilégio de ser cidadão, por ser mulher, estrangeiro (meteco) ou escravo.

Mesmo assim, o aparecimento da democracia em Atenas desencadeou a criação da Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, que a atacou militarmente. Sempre que exista uma hipótese de democracia, seja onde for, esse povo é atacado. Depois do 25 de Abril a esquadra americana apareceu a intimidar e só a diplomacia de Mário Soares, que prometeu (e cumpriu!) que não sairíamos do sistema, impediu o "castigo exemplar" que Kissinger advogava. Outro exemplo é o socialista Léon Blum, o qual, depois de ter ganho as eleições francesas, antes da segunda guerra mundial, foi ao Banco de França comprometer-se a não aumentar os salários!
Mas Atenas ganhou a guerra do Peloponeso e foi um sucesso económico e cultural que ainda ecoa, um milagre histórico. Os mercadores não eram ostracisados, os seus navios vendiam azeite e arte mesmo para lá das colunas de Hércules, aos nossos antepassados (encontraram-se os vasos em que o azeite era transportado); eram fabulosamente ricos, só não tinham o poder político.
E porque é que não tinham o poder político? Porque é que não eram eleitos para liderar Atenas, se tinham os mesmos direitos (embora alguns mercadores os não tivessem, por serem estrangeiros)? Como é que a democracia ateniense se defendia de cair numa oligarquia?

O kleroterion era um instrumento usado para escolher à sorte os jurados que iriam aplicar as leis da assembleia
É que o voto era usado para tomar decisões na assembleia, não para escolher decisores. Aqueles que eram encarregados de executar as decisões da assembleia eram escolhidos à sorte! Isocracia quer dizer que esse papel podia acontecer a qualquer um e o seu trabalho era rigorosamente escrutinado pelos cidadãos. Isto fazia com que todos estivessem informados e interessados na coisa pública pois poderiam ter que lidar com ela -- e sabiam que, se caíssem na humana tendência para abusar do cargo, corriam o risco do ostracismo, de perder o direito a fazer parte da assembleia durante dez anos.

Só poderemos criar uma democracia se deixarmos de estar em oligarquia. E só a poderemos fazer em todo o mundo ao mesmo tempo ou teremos que ser capazes de vencer as forças militares dos nossos vizinhos, que seguramente nos atacarão, caso criemos entre nós a democracia.

Estão a aparecer assembleias populares em todas as cidades do mundo e elas estão a tomar as medidas indispensáveis para que as suas decisões não venham a reflectir o poder da oligarquia. Este instrumento, o Internet, poderá ser a chave para que seja possível criar a democracia real.
E já está debaixo de fogo!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

12M - 12 de Maio - MayDay!- Primavera global

Concordamos em estar em desacordo uns com os outros. Somos livres, únicos. Mas estamos juntos em sentir que é tempo de acabar com o disparate. Esta é a primeira revolução mundial. Pacífica, consciente, "transcendente", porque somos todos um, essencialmente idênticos, interligados.
Os que sabem que a democracia que temos não é real, os democratas suficientemente loucos para querer mudar o mundo, estaremos na rua em 12 de Maio: em todo o planeta!


Passa-se uma guerra religiosa: a religião do dinheiro está a ser posta em causa. O dinheiro é o cancro do mundo. Precisa de ser posto no seu lugar: é um instrumento nosso, não somos instrumento dele! 



Não será a 12 nem a 15, quiçá em Outubro se comece a antever o dia em que o sistema cairá.