terça-feira, 26 de junho de 2012

A um jovem na casa dos 20

Não me interessa que fantoche é posto no trono de Inglaterra
 para dirigir o Império em que o Sol nunca se põe.
O homem que controlar o fornecimento do dinheiro britânico
 controla o Império Britânico
 e eu controlo o fornecimento do dinheiro britânico.
Nathan Rothschild (1777-1836)

Quer sejas materialista ou espiritualista, pagão ou monoteísta, o Destino deu à tua geração a tarefa de reinventar as normas que têm poder sobre a nossa vida. Lá porque os esquecemos, os deuses não terão morrido, e se fizeste o teu destino ou to fizeram, nem se o podes descobrir eu sei.
Sei o que quero de ti, da tua geração toda: que nos libertes, a todos os humanos, de uma doença antiga, a qual deve ter chegado à medula dos teus ossos mas para a qual nasceste com anti-corpos naturais.
Como hei-de chamar a essa doença que nos trouxe aqui, habitantes infelizes de uma Terra aflita? Tem a ver com o dinheiro mas não é o dinheiro. Tem a ver com a usura mas não é a usura. Tem a ver com uma crença mas tampouco a palavra satisfaz... talvez uma norma, uma narrativa em que vivemos e que passou do seu tempo de validade. Diz ela que é natural que o dinheiro gere dinheiro, que não há almoços grátis, que quem tem é mais esperto que quem não tem e que há que ser esperto e ter para assim ter mais. Chama-se essa norma a si mesma de "lei da vida" e trata quem não a aceitar de falhado com medo de entrar no jogo. Se te lembrares de dizer que o jogo é viciado é claro que ficarás de fora.
Mas se te lembrares de dizer que se trata de uma doença curável, talvez já não sejas visto como um louco -- porque o destino deu esse papel à tua geração: o de serem os médicos do mundo!

A doença é antiga mas a pandemia terá começado no tempo de Napoleão. Esse militar assustou a Inglaterra, que só tinha poder naval, quando obrigou todos os portos do continente a não deixar atracar navios ingleses. Era uma situação insuportável para o império comercial que a Inglaterra começava a ser. O nosso rei D. João VI, creio que ainda nos Açores, em rota para o Brasil, pediu oficialmente a Arthur Wellesley que viesse reorganizar e modernizar o nosso exército. Este escusou-se e aconselhou o rei a nomear Beresford, que fez o serviço; mas acabou por vir ele mesmo comandar o exército anglo-português e, mais tarde, depois da guerra peninsular, por derrotar Napoleão em Vitória, ganhando o título de Duque de Wellington e Duque de Vitória -- o nosso rei já o tinha feito Conde de Vimeiro e Marquês de Torres Vedras, o poder real pensava salvar-se, não sabia que começara o poder do capital.
Essa guerra era vital para a Inglaterra mas caríssima. O principal "fornecedor" de dinheiro foi Nathan Rothschild, que enriqueceu de forma descomunal com a vitória inglesa.
Conta-se que, quando Napoleão voltou do seu exílio na ilha de Elba, um ano mais tarde, em 1815, e reuniu um exército, teve algumas vitórias e Wellington lhe foi fazer frente, Rothschild tinha lá espiões e se aproveitou do boato, que corria em Londres, de que a Inglaterra iria perder a guerra para vender aos desbarato os títulos que tinha de dívida inglesa, fazendo-os chegar ao preço do papel: para os comprar de novo e todos os que havia na bolsa de Londres quando Wellington venceu Waterloo -- porque foi o primeiro a saber, tinha preparado cavaleiros para lhe trazerem a notícia, logo que fosse certa.

Enquanto as gerações mais velhas admirarão o "mérito" desse capitalista esperto, a tua já se lembrará dos milhares de pessoas que perderam tudo para que o sistema em que ainda vivemos se estabelecesse. E haverá de perceber os jogos de hoje, que levam países à bancarrota -- há de ser consciente e corajosa, pois é o seu destino.

John Fitzgerald Kennedy, muito antes do tempo, fez um discurso em que pedia aos seus concidadãos que o ajudassem a controlar o verdadeiro poder, não eleito: a Reserva Federal, os "fornecedores" de dólares ao Estado americano (a 0,1%); morreu pouco tempo depois de ter pisado esse risco. 
Mas os tempos são outros. Não digo que a coragem não seja precisa mas somos os 99%! E é mais que tempo de a vossa geração, consciente da necessidade, criar a Democracia Real. Todos acabaremos por estar ao vosso lado, acordados do actual torpor.
Tenho pena dos 1%. Não é que passem a viver num andar ou percam os seus anéis. Mas ficarão fora de jogo -- na verdade o jogo do controle do mundo, desejavelmente, acabará. A democracia é outra coisa, embora tenham usurpado esse nome para baptizar o que se passa ainda: "oligarquia", assim às claras, não soaria bem aos peões que somos.

Parece que Péricles terá dito que a chave da felicidade é a liberdade; e que a chave da liberdade é a coragem! Desejo-te que sejas livre, que penses pela tua cabeça, que não ligues nem deixes de ligar ao que outros dizem ser o teu destino. 
Mas creio que o cumprirás -- e mais: creio que terás a coragem de não usar a violência. Os 1%, seguramente, usá-la-ão, sempre o fizeram. Para não responder à violência com violência -- e ganhar -- é preciso ter mérito, sem aspas! Ser adulto.

A união do rebanho obriga o leão a deitar-se com fome
Provérbio africano

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