terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Amar a Liberdade, liberdade de amar

Vejo uma civilização como uma planta: enraíza-se, cresce, dá frutos e acaba, devagarinho, por morrer. Se as suas sementes se tiverem enraizado alhures, de forma parecida, continua!
Hoje, no Público, Eduardo Lourenço pensa a Europa em aparente decadência e nós nela, este "cabo da Asia", este "falso continente" que se viu como centro do mundo e se não conhece, se interroga.
Fala, de passagem, de que aqui nasceu o poder actual do mundo, não lhe chama oligarquia financeira, monetária, mas refere-se a "isso"; não nos lembra que ela já não é europeia nem que é dona da imensa moeda "virtual", que se cria, continuamente, a si mesma, a partir de transacções virtuais sobre bens reais, de "títulos". Lembrar-se-à de que, das 100 maiores "Unidades monetárias" do mundo, mais de 50 são grandes companhias, menos de 50 são países? Certamente há de ter consciência de que o poder político está submetido ao monetário -- isso é bem visível na Europa e aqui em Portugal em particular.

Que nos caracteriza, à nossa civilização, que continua nas américas e de que o Brasil é o mais belo dos filhos? -- Não se zanguem do nosso orgulho, brasileiros, claro que são independentes, claro que têm raízes locais e em todo o mundo... também nós esquecemos a Grécia antiga mas somo-la, somos o resultado das suas sementes!
Cada um valoriza o que valoriza, cada um define (ou não define) Europa como quiser. A Razão, a Consciência, creio serem a luz que nos atrai; e a liberdade e o amor os instrumentos de que não prescindimos.

E que nos diz a consciência livre sobre o poder, aquilo a que almas simples chamam de "natureza humana" e que parece ser o objectivo das acções dos homens, visíveis no mundo, aquilo que tantos confundem com a Vida e que os leva a lutar e a perder a razão?
O poder de dirigir os meus passos para onde quero ir é diferente do poder que dirige os meus passos para onde ele quer. O poder de realizar os meus sonhos é diferente dos sonhos de poder, cujo realizador já não é um homem livre mas o escravo de uma parte de si, perdida a integridade, descentrado o ser: tendo recuado para esse maravilhoso momento em que sonhou e agiu para ser mais que um animal -- mas agora em sentido inverso!
Kheíron é o centauro sábio que quer ir além da consciência animal, o professor

A Civilização pode ser vista como o reconhecimento do direito do homem ao seu poder e a negação do direito a ter poder sobre os demais. A democracia ateniense foi um momento de civilização e essa civilização vive, sujeita às intempéries do irracional.

Na natureza só o homem é mortal. Porque só ele tem (ou pode ter!) uma consciência individual, irrepetível, os seus filhos terão consciências diferentes. Para que a consciência, a que será legítimo chamar "natureza humana", evolua, de geração em geração, precisamos uns dos outros, precisamos de testar e debater ideias, precisámos da civilização.

Nos tempos em que ela, qual árvore, está enfraquecida, os "civilizados" regressam ao animalesco, à valorização do poder sem propósito "humano", aos instintos animais -- que temos! -- mas que servem, normalmente, a consciência. Este mito de Kheíron (na figura Peleu entrega o filho Aquiles para ser educado) este mito do centauro sábio, o qual, apanhado no meio de uma luta entre humanos e centauros, foi ferido com uma seta envenenada, simboliza a tragédia da nossa condição, o que ela tem de anti-natural -- de divino!

A Associação Amar Santo Tirso poderia ser um forum de debate entre indivíduos com raízes diferentes, que procurassem nesse debate crescer em consciência, ser civilização. Eventualmente, se se estendesse a muita gente, se dos debates nascessem ideias, úteis à terra e partilhadas por todos, eles poderiam juntar os seus poderes individuais para as realizar, poderiam ser um "movimento". Foi com mágua, com o meu claro desacordo, que vi a associação, antes de o ser, enveredar, sem ideias para defender, por um caminho de procura de poder, eventualmente por via eleitoral.

Os "políticos" simbolizam o homem de pernas para o ar, a sua inteligência ao serviço do poder pessoal, quando, evidentemente, deveria ser o poder pessoal a ser usado, com inteligência, para os objectivos da Consciência, da verdadeira "natureza humana". Como é evidente para quem não desviar o olhar da realidade, o nosso sistema de abdicar do poder pessoal em representantes é a abdicação da vida civilizada, a qual só é possível com homens livres -- nem os escravos nem os seus senhores são tal!
Trata-se de eleger as melhores leis. Quando, iludidos, elegemos os melhores representantes, apenas estamos a dar a esses desgraçados poder sobre outras pessoas -- ou seja, a desumanizá-los.

Eis o comunicado que a Direcção da Associação Amar Santo Tirso redigiu, depois da sua primeira tentativa de debate de ideias entre associados, nascida da necessidade de aprovar (apenas entre os sócios fundadores) a sua proposta para que ela "possa vir a criar um movimento com características eleitorais". Que longe ainda estamos da democracia real!:
"Perto de cumprir 3 anos de actividade, a associação cívica “AMAR Santo Tirso” lançou um debate interno em torno de um documento de estratégia para o futuro. Esse debate, rico e intenso, tratou de sufragar um novo posicionamento da associação face a uma eventual evolução do contexto político local.
O documento, elaborado pela Direcção, propõe que a “AMAR Santo Tirso” “possa vir a criar um movimento com características eleitorais, que tenha por finalidade lançar ideias, organizar sessões e debates e elaborar propostas no âmbito do processo eleitoral local”. E que “o processo, as condições, o momento e a oportunidade para, se for o caso, tal vier a concretizar-se, são da responsabilidade da Direcção, auscultados todos os outros fundadores”.
É com especial satisfação que a Direcção da “AMAR Santo Tirso” comunica que ouvidos os 14 sócios fundadores desta associação cívica, num ambiente de real prática democrática, 12 se manifestaram a favor desta proposta, 1 levantou reticências à mesma e 1 colocou-se contra, mas mantendo-se no seio da associação.
É esta prática de democracia plena, hoje tão afastada da nossa vida colectiva, que queremos levar para outros espaços e para outros fóruns. Esta proposta é o princípio de um caminho não é um sinal de chegada.
Queremos e vamos manter a nossa postura apartidária, independente, civilista, mas este percurso será feito com o objectivo de integrar e não de excluir, de aglutinar e não de dividir. Queremos dar um contributo assente nas competências dos nossos associados, validado pelos percursos profissionais de todos eles e credibilizado pela actividade desta associação nos últimos 3 anos.
Queremos ajudar os partidos políticos, as associações, as empresas, as instituições públicas e privadas a formular as propostas e as soluções mais concertadas com o sentir da sociedade civil.
Queremos ter o nosso papel no debate sobre o futuro do concelho de Santo Tirso. Também temos propostas, ideias e soluções sobre como preparar esse futuro. Neste momento único da nossa História, faz cada vez mais sentido dar a palavra à sociedade civil.
Esta congregação de esforços, este dar as mãos, é um sinal que deve ser apreendido e compreendido por todos. Quem não perceber que a hora é de união e de fomento do debate democrático e civilizado, não percebe nada. Os interesses do concelho de Santo Tirso estão acima de quaisquer interesses individuais ou vaidades pessoais. Nós dizemos presente a favor de Santo Tirso!

 A Direcção"

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