quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O 15 de Março de 2014

A 15 de Março haverá uma marcha global pelos leões, em muitas cidades do mundo.
“Por este caminho, dentro de vinte anos não haverá leões”, diz-nos Kevin Richardson, um zoólogo que os trata como irmãos.
Ver o que estamos a fazer à Terra, à sua fauna e flora, à sua Geografia, é suficiente para tomarmos consciência de que temos de mudar de rumo, que temos que mudar o sistema mundial, centrado no lucro, o sistema financeiro, que é a estrutura da sociedade global humana. São tempos de mudança, razão para agir com calma!

Há quem mate estas maravilhosas criaturas e se orgulhe. Ainda há quem os mate e se orgulhe mas a causa principal do risco em que estão é a ganancia, que está a destruir o seu habitat.

É do medo que nasce a violência. As nossas relações uns com os outros e com as outras espécies da “nave espacial chamada Terra” só podem ser de respeito mútuo. O medo, que leva à busca do poder sobre homens, animais e território, nasce de imaginarmos a pobreza e cria-a! A abundancia é real, potenciada pela técnica. Usemos o poder para criar Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Assim como temos o dever de nos não deixarmos intimidar, temos o dever de não intimidar os outros.

Este homem, Kevin Richardson, apenas está uns anos à nossa frente! Se, num momento de loucura, deixasse de ver o leão como um irmão e quisesse ter poder sobre ele, ou, o que é o mesmo, sentisse medo, o risco de ser comido seria bem real! 

Parece que os leões sabem que os está a ajudar, com estes filmes, a recuperar o território que vão perdendo, cada dia.
A 15 de Março  de 2014 haverá uma marcha global pelos leões, pela defesa dos leões, do seu habitat, do seu direito a existir, em muitas das maiores cidades do mundo.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Um povo pacífico e valente, vítima da Geografia

A Ucrânia, no centro da Europa, não gostou da evolução que a União Soviética teve, depois da morte de Lenine. Stàlin  mostrava-se um tirano, disposto a matar gente sem lhe perguntar se desejava morrer pelo Socialismo. Alguns desejavam, sentindo-se culpados por não pensarem como o Pai da Pátria, por identificarem Socialismo com Liberdade e Responsabilidade ou por não serem capazes de compreender que só a morte dos opositores do tirano poderia trazer o desejado Socialismo.
Os Ucranianos, como nos últimos dias nos mostraram, são valentes. Em 1930, muitos falavam abertamente contra a tirania, não aceitavam o medo de falar que Stàlin instituíra como único caminho para a Liberdade das gerações futuras. Então o tirano decidiu dar-lhes uma lição e começou a exportar para o Ocidente os cereais que os ucranianos produziam, para se financiar e ao seu regime. Não se tratou apenas de terror intimidativo, tratou-se de um genocídio pela fome, o qual nos envergonha tanto, aos ocidentais compradores do trigo que custou sete milhões de mortos, que gostamos de nos esquecer dessa história. 

Os Ucranianos não podem esquecer, porém. E, assim, geograficamente entre a União Europeia e a Rússia, preferem uma aliança a Ocidente, ao verem o seu Presidente a propor leis que lhe aumentam o poder, aproximando-o do de um tirano. Mal sabem que entre a oligarquia russa e a oligarquia do capital financeiro internacional, que domina Europa, “venha o diabo e escolha!”. Breve estarão a pagar milhares de milhares de milhões de euros de juros, por ano, como nós, e compreenderão que a Revolução não consiste apenas em ter uma “democracia” representativa – ou seja, em passar da tirania para a oligarquia – mas em criar uma democracia real, com representantes sorteados e com leis votadas por todos.

Compreenderão? Estão a fazer o que é análogo ao nosso 25 de Abril, tirando as centenas de mortos e os nazis na rua, que nao houve ca! Ora, nós, 40 anos depois, ainda damos muito fracos sinais de estarmos a acordar – só os optimistas os adivinham, por entre o nevoeiro!

Mas “os tempos estao a mudar”!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Um artigo de José Gil, com a devida vénia


O passado já não existe e o futuro ainda não existe. Vivemos no presente –ou não vivemos!
Deixo aqui um artigo que me enviaram por e-mail, de José Gil, que é uma referência cultural contemporânea. Nasceu em Lourenço Marques, onde viveu até aos 18 anos; licenciado em Filosofia pela Sorbonne, fez o mestrado em 1969 e o doutoramento em 1982. Destaco os ensaios sobre Fernando Pessoa, dos quais  La métaphysique des sensations, Éditions de la Différence, Paris, 1988.

O roubo do presente
José Gil



"Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspectivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro. O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu. O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho. O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stress, depressões, patologias, border-line, enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens). O presente não é uma dimensão abstracta do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direcções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público. Actualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efectiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil. Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espectral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si. Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de acção. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país."
Jose Gil no II Congresso Pessoano

domingo, 16 de fevereiro de 2014

1963. Portugal lembra o de há 50 anos. De pobre, emigra.


Trova do vento que passa, de Manuel Alegre
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

*Conta-se que numa noite, em plena Praça da República em Coimbra, Manuel Alegre exprimia a sua revolta:
«Mesmo na noite mais triste/ Em tempo de servidão/ Há sempre alguém que resiste/ Há sempre alguém que diz não».
E Adriano Correia de Oliveira disse «mesmo que não fiquem mais versos, esses versos vão durar para sempre». Ficaram. António Portugal compôs a música . «E depois o poema surgiu naturalmente». Tinha nascido a Trova do vento que passa.
Três dias depois vieram para Lisboa, para uma festa de recepção aos alunos na Faculdade de Medicina. Manuel Alegre fez um discurso emocionado, depois Adriano Correia de Oliveira cantou e quando acabou de cantar:
«foi um delírio, teve de repetir três ou quatro vezes, depois cantou o Zeca, depois cantaram os dois. Saímos todos para a rua a cantar. A Trova do vento que passa passou a ser um hino».

*Eduardo M. Raposo, Cantores de Abril – Entrevistas a cantores e outros protagonistas do Canto de Intervenção, Lisboa, Edições Colibri, 2000.

E aqui fica um outro poeta de Coimbra, um transmontano, Miguel Torga

— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

     Por fim, leitor, lembro a informacao que esta no YouTube, como este video

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Historia


A História que vou contar é subjectiva— duvido que as haja objectivas. 
Nos artigos de opinião, escritos por fundadores do actual regime, de que falei no ultimo post, há uma crítica clara à “democracia” que temos, identificada como o que é —uma “partidocracia”.
Quando acérrimos defensores do parlamentarismo burguês, seja por influencia inglesa ou por francesa, compreendem que o que se passa nada tem a ver com democracia—não deve ter mesmo!

É conhecida a influencia do iluminismo nos “pais fundadores” da Constituição dos Estados Unidos da América, vai para 250 anos, Constituição que influenciou todas as actuais, na Europa e pelo mundo. Menos conhecida é a influencia do “governo representativo" que era a Confederação Iroquesa, que juntava as cinco nações índias dos grandes lagos, divulgada por Benjamin Franklin, que a estudou e apresentou como exemplo, na criação deste sistema parlamentar que temos-- e que nestes anos se finda, tendo cumprido o seu papel na História.

Como hoje é muito claro—mas não era problema dos índios americanos, que viviam sem dinheiro e sem juros!— o nosso sistema deixou a porta aberta a uma oligarquia, quando, com o tempo, a concentração de capital, a que o capitalismo inexoravelmente leva, lhe permitisse controlar a escolha dos candidatos dos partidos e os partidos eles mesmos.
Esta consciência crescente de que quem manda é o grande capital internacional teve percursores nos marxistas, que viam, desde o século XIX, a “democracia” representativa como um inimigo da libertação dos povos. Mas a hora ainda não tinha chegado e, especialmente depois da II Grande Guerra, as nossas “democracias” conseguiram sobreviver ou, mesmo, fazer sociedades de bem estar, sobretudo na Europa do Norte, onde uma síntese entre o Socialismo e o Capitalismo deu bons frutos.
Entre nós, face a esse sucesso europeu, nos anos 60 do século passado, o PCP de Álvaro Cunhal mudou de estratégia e decidiu lutar pela criação de uma democracia parlamentar à europeia, convencido de que os portugueses, chegada a hora, nele votariam para formar governo, nele que fora a única oposição real à ditadura. E terá sido essa mudança de estratégia do PCP que levou ao aparecimento dos partidos marxistas-leninistas estalinistas e trotskistas que tentaram impedir a instituição da “democracia” representativa, depois do 25 de Abril, e que tanto trabalho deram ao PCP até ao 25 de Novembro de 1975. Mas este novo golpe militar permitiu que se fizesse a prevista Assembleia Constituinte, com eleições em que participaram mais de 90% dos eleitores,  eleições exemplares.
Porém, para surpresa do PCP, só 12% nele votaram.
O PCP manteve, estoicamente, a estratégia delineada nos anos 60, a de ganhar as eleições num parlamento burguês. Obviamente sem sucesso. Enquanto os outros partidos potencialmente revolucionários entravam, também eles, no jogo parlamentar.

É assim que, hoje, quando se pode ver a necessidade histórica de criar uma democracia autentica, quando se pode ver, com clareza, que o sistema parlamentar é o disfarce de uma partidocracia, a qual está nas mãos de uma oligarquia internacional –- hoje não há partido que represente essa visão. Melhor, hoje sabemos que a democracia tem que existir sem partidos e sem “representantes” eleitos, terá que ser uma democracia directacom votação de ideias, não de pessoas, e com sorteio de responsáveis.

Os Awa sao uma tribo amazonica que ainda resiste aos intrusos

Como a alma portuguesa emigrou para o Brasil no tempo da Inquisição e como ela sonha, desde sempre, com um tempo de fraternidade, liberdade e abundancia, é no Brasil que nascerá o novo sistema mundial, aquele que venha render o capitalismo. E os índios do Brasil, ecologistas por natureza, hão de ter um papel na criação desse novo sistema, o da era da revolução informática, que nestes anos começa. Como será? Decerto algo que permita a sustentabilidade ecológica do planeta, ora em risco. E decerto um em que os poderosos temam as leis que lhes limitem o poder, em vez do actual, em que tememos as leis que os poderosos fazem-- poderosos porque lhes oferecemos o poder, neles votando! Votaremos leis, nunca pessoas.

O primeiro passo, a burguesia esclarecida a pôr em causa o sistema parlamentar que criou e o mesmo capitalismo— está–se a dar, diante dos nossos olhos. O povo adormecido a acordar, também, será o passo seguinte!
 
Antemanhã

O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse: “Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quer desvendar?”

E o som na treva de ele a rodar
Faz mau o sono, triste o sonhar.
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar —
Chamar Aquele que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.

Fernando Pessoa, Mensagem

O Senhor da Pedra, 12/02/2014