domingo, 2 de fevereiro de 2014

Historia


A História que vou contar é subjectiva— duvido que as haja objectivas. 
Nos artigos de opinião, escritos por fundadores do actual regime, de que falei no ultimo post, há uma crítica clara à “democracia” que temos, identificada como o que é —uma “partidocracia”.
Quando acérrimos defensores do parlamentarismo burguês, seja por influencia inglesa ou por francesa, compreendem que o que se passa nada tem a ver com democracia—não deve ter mesmo!

É conhecida a influencia do iluminismo nos “pais fundadores” da Constituição dos Estados Unidos da América, vai para 250 anos, Constituição que influenciou todas as actuais, na Europa e pelo mundo. Menos conhecida é a influencia do “governo representativo" que era a Confederação Iroquesa, que juntava as cinco nações índias dos grandes lagos, divulgada por Benjamin Franklin, que a estudou e apresentou como exemplo, na criação deste sistema parlamentar que temos-- e que nestes anos se finda, tendo cumprido o seu papel na História.

Como hoje é muito claro—mas não era problema dos índios americanos, que viviam sem dinheiro e sem juros!— o nosso sistema deixou a porta aberta a uma oligarquia, quando, com o tempo, a concentração de capital, a que o capitalismo inexoravelmente leva, lhe permitisse controlar a escolha dos candidatos dos partidos e os partidos eles mesmos.
Esta consciência crescente de que quem manda é o grande capital internacional teve percursores nos marxistas, que viam, desde o século XIX, a “democracia” representativa como um inimigo da libertação dos povos. Mas a hora ainda não tinha chegado e, especialmente depois da II Grande Guerra, as nossas “democracias” conseguiram sobreviver ou, mesmo, fazer sociedades de bem estar, sobretudo na Europa do Norte, onde uma síntese entre o Socialismo e o Capitalismo deu bons frutos.
Entre nós, face a esse sucesso europeu, nos anos 60 do século passado, o PCP de Álvaro Cunhal mudou de estratégia e decidiu lutar pela criação de uma democracia parlamentar à europeia, convencido de que os portugueses, chegada a hora, nele votariam para formar governo, nele que fora a única oposição real à ditadura. E terá sido essa mudança de estratégia do PCP que levou ao aparecimento dos partidos marxistas-leninistas estalinistas e trotskistas que tentaram impedir a instituição da “democracia” representativa, depois do 25 de Abril, e que tanto trabalho deram ao PCP até ao 25 de Novembro de 1975. Mas este novo golpe militar permitiu que se fizesse a prevista Assembleia Constituinte, com eleições em que participaram mais de 90% dos eleitores,  eleições exemplares.
Porém, para surpresa do PCP, só 12% nele votaram.
O PCP manteve, estoicamente, a estratégia delineada nos anos 60, a de ganhar as eleições num parlamento burguês. Obviamente sem sucesso. Enquanto os outros partidos potencialmente revolucionários entravam, também eles, no jogo parlamentar.

É assim que, hoje, quando se pode ver a necessidade histórica de criar uma democracia autentica, quando se pode ver, com clareza, que o sistema parlamentar é o disfarce de uma partidocracia, a qual está nas mãos de uma oligarquia internacional –- hoje não há partido que represente essa visão. Melhor, hoje sabemos que a democracia tem que existir sem partidos e sem “representantes” eleitos, terá que ser uma democracia directacom votação de ideias, não de pessoas, e com sorteio de responsáveis.

Os Awa sao uma tribo amazonica que ainda resiste aos intrusos

Como a alma portuguesa emigrou para o Brasil no tempo da Inquisição e como ela sonha, desde sempre, com um tempo de fraternidade, liberdade e abundancia, é no Brasil que nascerá o novo sistema mundial, aquele que venha render o capitalismo. E os índios do Brasil, ecologistas por natureza, hão de ter um papel na criação desse novo sistema, o da era da revolução informática, que nestes anos começa. Como será? Decerto algo que permita a sustentabilidade ecológica do planeta, ora em risco. E decerto um em que os poderosos temam as leis que lhes limitem o poder, em vez do actual, em que tememos as leis que os poderosos fazem-- poderosos porque lhes oferecemos o poder, neles votando! Votaremos leis, nunca pessoas.

O primeiro passo, a burguesia esclarecida a pôr em causa o sistema parlamentar que criou e o mesmo capitalismo— está–se a dar, diante dos nossos olhos. O povo adormecido a acordar, também, será o passo seguinte!
 
Antemanhã

O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse: “Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quer desvendar?”

E o som na treva de ele a rodar
Faz mau o sono, triste o sonhar.
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar —
Chamar Aquele que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.

Fernando Pessoa, Mensagem

O Senhor da Pedra, 12/02/2014

4 comentários:

  1. Obrigado pelo “link”. Ja tinha uma entrevista ao mesmo senhor na coluna ao lado, desde ha anos, mas acrescentei-o hoje, no principio da dita coluna lateral.

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  2. "Estamos prontos a assumir todas as responsabilidades que o povo nos queira confiar"

    Jerónimo de Sousa, 8fev14

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  3. Claro que sim. Mas não o tomo por nefelibata e creio que sabe que o povo tem medo de sair do euro. Uma coisa que valeria a pena tentar seria propor que o Banco Central Europeu fosse controlado pelo Parlamento Europeu. Claro que, se essa proposta política ganhasse veríamos a oligarquia internacional a escolher os eurodeputados, a investir nas campanhas dos que escolhera, com toda a elaborada desinformação possível, e o parlamento europeu a votar contra a ideia, defendendo a "independência do Banco Central". Porém, o controlo, pelo povo, da produção de moeda é a única ideia política que faz sentido, neste tempo.

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