segunda-feira, 27 de junho de 2016

A secessão da Grã Bretanha

http://www.senses-artnouveau.com/biography.php?artist=SEC
Athena, pintura de Gustav Klimt
Não vejo o resultado do referendo em que o Reino Unido votou a saída da União Europeia como um prejuízo para esta mas como um despertador útil.
Há anos que é visível que "A Europa ou se democratiza ou se desintegra". A partir do dia em que as decisões importantes deixaram de ser tomadas por unanimidade, a União Europeia deixou de ser um projecto inovador e democrático para ser o clássico projecto de um Império, em construção clandestina, sem o consentimento dos povos. A feitura e a aprovação do Tratado de Lisboa são disto demonstração suficiente.
Voltemos ao projecto europeu, construamos a democracia a partir da base! A União Europeia.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Três dragões

Um texto de Agostinho da Silva, de 1973:

" E agora vamos lutar contra os dragões. O primeiro é o ideal de um produto nacional sempre crescente e um sempre mais elevado nível de vida material. Neguemos tal ideal. O que queremos é que o produto nacional seja distribuído com justiça, isto é, com amor, e que a qualidade do nível de vida seja elevada.  Como indivíduos podemos escolher ser pobres (não miseráveis, com certeza) e recusarmo-nos a comprar, passando para os outros o que é demasiado para nós.  Empresas e governos querem que sejamos ricos e tenhamos coisas. Sejamos pobres e sejamos coisas — repito, ser coisas, não ter coisas. 
O segundo dragão é a informação, desde a bisbilhotice e a escola até à imprensa e à televisão.  O modo de lutar é dizer a verdade, e somente a verdade, cada vez e em cada coisa, e estarmos prontos a informar  quem quer ser informado. Noutras palavras, devemos ser professores de todos que queiram aprender e nunca deixarmos que a nossa inquiridora, ansiosa em aprender e critica mente adormeça, nunca apoiar erros e mentiras, nunca ficar passiva em confronto com agressões contra a nossa inteligência, o nosso poder de julgar e comparar e o nosso poder criativo. Podemos fazer isto como indivíduos, como pontos com alma.
E eis que chega o terceiro dragão, o pior deles todos — a nossa tendência de pertencer a grupos, de ter um partido político ou uma igreja que pense por nós, de consultar ou seguir professores e gurus, numa palavra, de engolir a vida como criança chupa o leite do biberão. Na realidade nós somos piores, porque no nosso caso o leite já está digerido. Está alerta em relação a dinâmica dos grupos e de invenções skinnerianas similares. Tu podes, com certeza, conviver com os outros, mas nunca seres os outros. Eles podem ser muito bons, mas tu és sempre melhor porque és diferente e o único com as tuas características.
Podes, e deves, ter ideias políticas, mas, por favor, as tuas ideias políticas, não as ideias do teu partido;  O teu comportamento, não o comportamento dos teus líderes; os interesses de toda a humanidade, não os interesses de uma parte dela. E lembra-te que "parte" é a etimologia de "partido".
O mesmo se aplica às igrejas, se tens uma religião que não é a principal religião para mais ninguém, como um objeto é principal para todas as palavras que ela possa significar em todas as nossas linguagens. Está de sobreaviso  em relação a gurus e outros líderes carismáticos. A atração pessoal é o seu esconderijo e nada pode ser pior do que ela para a liberdade de atuar e pensar.  Se possuis ou estás possuído, então estás perdido. Neste caso só o amor te poderá salvar. E amor é raro, raro e frágil, frágil e rápido — Agostinho da Silva, " Três dragões ", 1973, in "Textos e Ensaios Filosóficos II", pp. 293-294.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Minha Pátria está doente

Isto é um excerto do questionário OTES-Observatório de Trajectos de Estudantes do Ensino Secundário, feito pela DGEEC- Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, que está a ser aplicado a todos os alunos que completam agora o 12° ano.








segunda-feira, 13 de junho de 2016

Orlando

Orlando é o biografado num romance de Virgínia Woolf, dos anos 20. Não o surpreende continuar vivo desde o tempo de Isabel I nem aquele dia em que acordou mulher, durante uma viagem à Turquia e em que a vida continuou, com roupa nova!
A palavra "sincronicidade" foi criada por Jung para as coincidências com significado. Orlando é o nome da cidade da Flórida onde, ontem, se passou o maior crime de fanatismo homófobo nos Estados Unidos da América: meia centena de mortos e outros tantos feridos.
Donde vem a homofobia? Estudos já antigos e confirmados (a sociologia é feita com estatísticas), mostram-nos o afecto e a sexualidade humana dirigindo-se para ambos os sexos e distribuindo-se com a habitual curva de Gauss. As culturas patriarcais proíbem a homosexualidade e, como dizia Bernard Shaw com ironia "as pessoas inteligentes adaptam-se"! 
Uma lei fundamental da psicologia é que "a frustração leva à agressão". Há quem acredite na narrativa patriarcal de que o normal é pertencer à cauda "boa" da curva de Gauss e se sinta frustrado ao sentir em si mesmo afectos "anormais". Essa frustração leva a auto-agressão e/ou a homofobia. Quanto mais patriarcal a sociedade (o criminoso era afegão) maior o ódio aos que são diferentes da pseudo-norma.
Ao ponto de dar a vida pelo ódio.

A sabedoria contemporânea é milenar: sentir compaixão por quem odeia.
Mas, quando Obama diz a frase cristã, "amemo-nos uns aos outros", referido-se aos americanos, procurando que o medo não destrua a cultura de liberdade do seu país, deixa a porta aberta para odiar os que são de culturas diferentes, neste caso mais homófobas, os países islâmicos em geral. Deixa a porta aberta para a guerra, o contrário da compaixão. Ora não se combate a violência com violência! ... Mas tampouco com cobardia!

Estamos num tempo análogo aos anos 30, em que os nazis começaram a tomar conta da Alemanha e do mundo, pelo medo. Anos em que Churchill batalhava, nos Comuns, contra o desarmamento ingénuo dos governos de então.

O amor ganhará sempre ao medo mas a parte mais irracional da humanidade costuma ser a que melhor se organiza, militarmente.
Respeitemos quem é homófobo, xenófobo, mesmo racista, mas exijamos que cumpra as leis nacionais e internacionais, os direitos humanos. E "não há Direito sem força", convém não esquecer!

Palas Atena, Museu do Vaticano, cópia da estátua de Fídias

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Saturno, a "má fortuna", a pouca sorte

 A Astrologia é um assunto fascinante, que o Iluminismo ensombrou durante séculos, mas que, ido o seu poder despótico sobre as gentes, se pode ver de novo -- e melhor que antes!

"Erros meus, má fortuna, amor ardente", soneto de Camões, aqui cantado por Amália, fala da dor, que atribui, antes de mais, aos seus erros, mas também ao desdém pelos conselhos do prudente Saturno, à época considerado "maléfico", a má fortuna, e, homem do Renascimento, Camões conhecia a Astrologia e decerto sabia que tinha nascido com Saturno em Peixes -- a isso atribuía a sua sensibilidade à dor... E amor ardente, porque, no horóscopo de Luís Vaz (segundo Mário Saa), a deusa do amor, Vénus, está pertinho do Sol (em "conjunção", em Astrologia) e ele deve ter sido um homem muito chegado à deusa, muito consciente do amor!
O que ele não sabia, porque Urano só foi descoberto no século XVIII, é que este símbolo da Liberdade, do "atrevimento", estava em "bom aspecto"(a 120º, em trígono, em Astrologia) com Vénus e o Sol: o poeta não sabia porque se atrevia a amar -- ardentemente -- frutos proibidos, sabendo dos remorsos que o seu Saturno em Peixes lhe traria.

Nestes dias o Sol opõem-se a Saturno, nos céus, faz isso todos os anos, claro, mas este ano vale a pena aproveitar o Saturno "cheio", bem iluminado, visível de noite entre as constelações de Escorpião e de Sagitário. Que cuidados nos sugere? Que deveres nos aponta?
Creio que nos fala do dever de criar uma utopia concreta mas também do perigo do optimismo e do sonho -- que cruzam astrológicamente o nosso olhar. Dentro de uns dias, Marte, o outro "maléfico" dos antigos, passa por Saturno e, se houver violência no Mundo, Saturno diz-nos, como sempre, que as dificuldades existem mas que, com uma atitude sensata, responsável, prudente, mais dia menos dia, mais ano menos ano, criaremos um mundo habitável!
Saturno fotografado pela sonda Cassini

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Uma escultura nova no espaço público tirsense


O restauro do museu Abade Pedrosa e a sua ligação, por uma entrada comum, ao novo museu é um exemplo da arquitectura de Alvaro Siza, do respeito pelo sítio, do qual parte o projecto, simultâneamente discreto e uma imponente “escultura ao ar livre”. Ganhou a velha hospedaria do mosteiro, hoje museu Abade Pedrosa (vê-se o alçado que recuperou a simetria e, dentro, as madeiras voltaram a ser pintadas, como no século XVIII) e ganhou a cidade de Santo Tirso, com um novo edifício que lhe trará visitantes e prestígio.
Parece que foi caro; mas, por uma vez, creio que o valor da obra para a cidade amortizará o fatídico “terço”, que deve ser o último, os tempos são de mudança.