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| Athena, filha de Zeus. |
Não menos espantoso é que tenha sido dada a todos a nota de dez, para evitar o incómodo de fazer outro teste, anulado que teve que ser aquele!
Peço ao leitor que me não tome por "moralista", um conceito que me parece pouco racional (há mesmo quem entenda a moral como tendo origem divina). Creio que as regras sociais devem ter uma origem muito clara, racional, prática, até, e devem resultar de um consenso, de um acordo entre os membros de uma sociedade, os quais vêm nelas uma utilidade funcional. São para ser discutidas, variam com o tempo, com os conceitos predominantes.
Há umas dezenas de anos, apenas, num país civilizado da Europa Central, um senhor encontra o seu médico num concerto, o qual, vendo qualquer coisa, com o seu "olho clínico", lhe pede que passe por sua casa, pelo seu consultório, no dia seguinte, para o examinar. O senhor passa mas a casa está fechada e nem sinais do médico; uns dias depois pergunta aos novos habitantes, gente ligada ao novo regime, o que é feito do seu amigo; logo se arrepende, porém, pois é tratado como suspeito, amigo de um criminoso. Mas acaba por descobrir o crime do médico: tinha uma avó judia, o que o colocava fora da protecção da lei, na verdade o doutor tinha perdido o direito a existir, em última análise, no momento em que a sua casa despertara a cobiça do novo proprietário; eram estas as regras daquela sociedade.(1)
É claro que as regras são para ser discutidas e temos que lutar pelas que nos parecem mais acertadas, sabendo que a nossa indiferença pode fazer com que sejamos prejudicados, ou os nossos amigos sejam.
Não é "moralismo", é bom senso.
A honestidade, especialmente a dos magistrados mas também de todos os que tenham cargos no funcionamento do Estado, é do nosso interesse prático, funcional, racional. Faz sentido que haja uma pressão social para que ela exista.
E não há.
Todas as crianças gostam de regras, estas dão-lhes um certo conforto, os pequenitos não se sentem tão seguros como os adultos, precisam, também, de mais demonstrações de afecto, de carinho, que estes.
Para conhecerem as regras, provocam os adultos, experimentam, brincam. É normal, pelos dois ou três anos, que experimentem mentir. Se lhes acharem graça, se os considerarem muito "espertinhos" para a idade, aprendem que aí está uma arte a desenvolver: tem aprovação social! Mesmo aqueles a quem custa mentir, por temperamento, ao descobrirem que a regra é mentir, lá fazem o que podem para se adaptar. Sempre haverá famílias de mentirosos mas compete à sociedade, no seu conjunto, fazer-lhes sentir que esse comportamento lhes não convém.
Para alguns gregos antigos, a beleza e a verdade eram a mesma coisa. Somos os herdeiros deles: mentir é inestético, para a essência da nossa cultura popular; diminui a dignidade de quem mentiu, envergonha-o. Deixemos esta cultura, adormecida mas maioritária, varrer o provincianismo pseudo-moderno que valoriza a "esperteza", o marketing, o relativismo, a noção de que a vida é uma luta e vence quem tiver mais "lata", menos escrúpulos, quem for mais "realista"...
--Ser realista é ter bom senso, é procurar conhecer e melhorar a realidade.
Creio que a maior parte dos alemães, no tempo do nazismo, teve medo de dizer que aquilo lhe parecia um disparate; quiseram passar por modernos, ou, simplesmente, não se quiseram incomodar: a nossa passividade pode ter consequências catastróficas!
(1) É histórico que milhares de pessoas perderam o seu médico, o qual foi parar a um campo de concentração; igualmente histórico o facto de as casas dos judeus passarem a ser habitadas por simpatizantes do regime. Quanto à anedocta, à estória contada acima, ela nasceu da imaginação deste escriba!


Numa altura em que a Justiça se encontra desacreditada, os mais desfavorecidos têm mais dificuldades de acesso ao Direito e o país atravessa um período de incerteza quanto ao futuro dos direitos sociais, saber que 137 dos nossos futuros magistrados defendem a batota e o princípio do "vale tudo" é muito assustador! São eles que nos dizem o que está bem e o que está mal! Os magistrados não podem ser eleitos por sufrágio nem escolhidos pelas leis do mercado, são aqueles quer queiramos quer não, as decisões que proferirem vão ter reprecussões indeléveis nas nossas vidas. Muito bem escolhido este tema para reflexão sobre o estado de espírito de Portugal... parece um país tão deprimido que já não se preocupa com as suas necessidades básicas. Talvez seja por isso que não nos manifestamos como os outros, simplesmente não temos força, já estamos na fase de auto destruição...
ResponderEliminarAs grandes transformações implicam a destruição daquilo que já não serve para dar lugar ao nascimento do novo. As depressões também acabam e dão lugar ao entusiasmo.
ResponderEliminarPode ser que o que as circunstâncias nos levarão a descobrir seja uma contribuição para uma nova maneira de vivermos com a natureza. Somos natureza, também!
Ainda estamos a lutar com ela mas é o fim de uma era!
Uma boa notícia: o teste vai ser repetido. Fica-se com a ideia que também a honestidade deveria ser avaliada no próximo teste...
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