Pinta-se um quadro,
em tons de azul, por exemplo,
com vida, valores, conceitos coerentes.
Se o quadro for belo e se gostarmos dele,
alguns toques de vermelho são tensão aceite.
Mas manchas grandes e de cores estranhas,
personagens de outros quadros,
músicas diferentes,
por estragarem o sossego da beleza,
irritam os amantes do quadro que escolheram.
Que lutam, que derramam tons de azul com crescente fúria,
até que, da harmonia, há só memória rude.
Prefiro o real aos quadros que se pintam.
Sei que, a harmonia, só o todo a mostra
e que, se a não vejo, me tenho que afastar.
Sei que ela está lá e tem todas as cores.
Tem guerra, tem pobreza, tem iates e festejos;
tem luta, tem amor, tem todos os conceitos
do que seja o belo, que só o todo é.
A vida não é luta, é harmonia em que a luta cabe;
é sempre mais que o que vemos,
inseridos nela.
A beleza transcende-nos mas,
em momentos distraídos da nossa condição,
vemos a obra toda.
E o real nos apaixona.
E o real nos aproxima.
ResponderEliminarObrigado pela errata. Tem razão: a paixão é subproduto, quiçá indesejável, da aproximação à beleza, da ligação natural a tudo e a todos. Somos todos ciganos, somos todos bolcheviques, somos todos tudo.
ResponderEliminaras palavras também curam.
ResponderEliminarobrigada poeta!