Vou contar aqui como perdi a manhã de hoje porque este absurdo se passa, todos os dias, com milhares de portugueses.
A velha estrada do Porto para Guimarães, que antes passava pelo centro da "vila"e está ligada ao aparecimento do comércio, da feira e ao crescimento da população, tem, há anos, uma "variante", para passar ao lado da cidade. Esta, antes do sítio onde nela converge a estrada que vem de Valinhas, só tem uma facha de rodagem. Nesse ponto, certo dia de 2008, estava parado um enorme furgão, que conseguira evitar colidir com um carro, chegado, imprevisto, da dita estrada de Valinhas. Também eu, quando me apercebi de que o furgão estava parado, consegui parar por milagre sem lhe bater. Nisso, ouço e sinto uma enorme pancada e, confesso, demorei a perceber o óbvio: um terceiro carro, atrás de mim, não conseguira travar a tempo e o resultado final eram quatro veículos amachucados.
Isto foi visto pelas competentes autoridades, todas as testemunhas contaram o que com elas se tinha passado, não parecia haver dúvidas. Porém, talvez porque tempo é dinheiro e as companhias de seguros têm lucro com as demoras, não sei (apenas sei que me convocaram como testemunha), o assunto foi para o Tribunal de Santo Tirso, onde hoje, depois de vários adiamentos, foi julgado. Só que não deu tempo para o meritíssimo chamar esta testemunha, a qual foi de novo convocada para, daqui a um mês, perder o seu tempo.
Imagino que, todos os dias, em todos os tribunais do país, milhares de pessoas passam a manhã à espera que lhes digam que, afinal, o julgamento foi adiado.
Entretanto, com a mesma indiferença pelo demorado incómodo que provocam aos pacientes cidadãos, as obras da praça em frente ao Tribunal prosseguem o seu utilíssimo objectivo, o novo desenho do jardim.
Para os democratas o caminho para resolver isto seria a democracia: uma sociedade em que estes assuntos fossem discutidos por todos e em que a criatividade que acontece quando as pessoas conversam criasse soluções inteligentes. Para já, porém, só muito vagamente as pessoas se apercebem de que haja aqui problemas para resolver: "é assim", sempre foi assim... e por aí se ficam.
Ah! Agora temos a "Troika" a lembrar que o assunto precisa de solução. Tempo é dinheiro, lembram eles. Há quem saiba isso e lucre com os atrasos da Justiça e da Administração Pública que temos. Serão os mesmos que atrasam as reformas?
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